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SAÚDE
Ministério estimula hospitais de ensino a restringir tratamento de casos mais simples; pacientes serão
encaminhados à rede municipal
Santa Casa de SP limitará atendimentos
FABIANE LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL
A Santa Casa de São Paulo terá
de restringir o atendimento de casos simples -como uma dor de
garganta ou um corte, por exemplo- dentro de um a dois meses,
informou ontem a superintendência da unidade.
Segundo contrato assinado pelo
hospital pelo novo programa do
Ministério da Saúde, no fim do
prazo, 20% de sua "demanda espontânea" (os casos simples) será
transferida para a rede de mais de
300 postos de saúde municipais.
O hospital, um dos quatro principais centros da cidade, atende
hoje 7.000 pessoas por dia e estima que 60% deveriam ter seus
problemas resolvidos nos postos.
A unidade foi a segunda no país
a assinar contrato dentro do Programa de Reestruturação dos
Hospitais de Ensino do SUS (Sistema Único de Saúde), lançado
ontem em São Paulo pelo ministro Humberto Costa (Saúde).
Pelas regras do programa, o governo federal só liberará parte da
verba para hospitais de ensino
médico se eles cumprirem uma
série de metas, entre elas deixar de
atender os casos simples.
Segundo o ministério, o objetivo da "amarração" da verba é fazer com que as unidades atendam
sua vocação para a pesquisa médica e o atendimento de casos
complexos, como transplantes.
A remuneração dos hospitais de
ensino não se dará mais por produção (consultas, cirurgias), mas
por meio de um contrato global,
que permite que as unidades saibam com antecedência quanto
irão receber.
A limitação de atendimentos
deverá causar um grande impacto
na organização do atendimento
nos municípios. Na capital paulista, o Hospital das Clínicas, maior
do país, queria implantar a mudança no início deste semestre,
mas a iniciativa foi inviabilizada
porque a prefeitura informou não
ter condições de assumir imediatamente a nova demanda.
O atendimento apenas de casos
complexos nos grandes hospitais
é um dos princípios dos sistemas
de saúde, perseguido pelos gestores. "A tendência é transformar o
hospital em uma unidade referenciada", afirma Antônio Carlos
Forte, superintendente da Santa
Casa. Ou seja: o hospital só receberia pacientes encaminhados
por outros hospitais ou postos.
O contrato assinado pelo hospital estabelece que, em dois anos e
meio, a situação atual da porta de
entrada deverá ser invertida: 70%
dos atendimentos deverão ser referenciados e 30%, espontâneos.
"Para chegar a isso, depende
muito menos da Santa Casa e
muito mais do gestor estadual e
municipal", continuou Forte.
Segundo o superintendente, se
não for cumprida essa meta, por
exemplo, o ministério não repassará 10% da verba, que está atrelada a alguns objetivos. No total, no
novo programa, a unidade passará a receber cerca de R$ 13 milhões/mês. O Hospital das Clínicas assinará contrato semelhante.
Preparação
A Prefeitura de São Paulo informou que está se preparando para
a limitação de atendimentos nos
hospitais de ensino, mas não deu
detalhes do que está fazendo.
"A proposta é um avanço para
instituições filantrópicas e de ensino e terá caráter nacional. (...) É
mais um passo na consolidação
do Sistema Único de Saúde em
São Paulo e do papel do gestor
municipal na reestruturação e otimização do sistema", diz a nota
assinada pelo chefe de gabinete da
Secretaria Municipal da Saúde,
Celso Scazufka Ribeiro.
Desde o semestre passado, a secretaria discute a mudança no
Hospital das Clínicas da USP.
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