|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
BARBARA GANCIA
E aí, companheiro?
Jornalistas deveriam assinar manifesto proibindo a exibição de vídeos caso eles sejam seqüestrados
AINDA NÃO DEU uma semana
desde a soltura do repórter da
Globo, e ninguém mais se interessa pelo assunto. São Paulo já incorporou a rotina macabra: o PCC
promove uma ação, a população se
tranca em casa acuada e, assim que a
poeira assenta, ninguém mais dá bola. Até o próximo ataque a ônibus, a
próxima bomba ou o próximo seqüestro de jornalista.
O que eu gostaria de saber é como
é que se vai resolver o SEGUNDO
seqüestro de jornalista agora que a
Globo abriu o precedente de negociar com bandidos. Claro, a emissora
foi pega de surpresa pela audácia dos
criminosos que levaram Guilherme
Portanova e atendeu prontamente
às exigências dos seqüestradores visando preservar a vida de seu funcionário.
Mas, vem cá: como é que as
empresas de comunicação (no caso
da Globo, uma concessão pública)
pretendem lidar com o segundo seqüestro, quando ele vier, se já abrimos as pernas para a bandidagem?
Na qualidade de cidadã de São
Paulo, estou pouco me lixando se
uma associação de jornalistas baseada em Atlanta ou se uma ONG de
correspondentes espanhola aprovaram a atitude da Globo. O que esse
pessoal sabe de PCC? Na minha modestíssima opinião, a Secretaria de
Segurança deveria ter esgotado todas as possibilidades de negociação
antes de ceder às exigências de mafiosos que agora deram para se travestir de partido político.
Diante dessa nova ameaça, o colunista da Folha Elio Gaspari sugere
que as empresas de comunicação
façam seguro de vida para todos os
funcionários. Ou seja, já estamos
tratando futuros seqüestros do tipo como fato consumado.
Na qualidade de jornalista, proponho uma solução radical. Na Itália, só foi possível acabar com o seqüestro quando as autoridades
passaram a congelar a conta bancária de seqüestrados, e de suas famílias, para impedir o pagamento
de resgates.
Pois eu sugiro que todos os jornalistas assinem um manifesto
afirmando que, caso sejam seqüestrados, eles proíbem terminantemente a exibição de vídeo ou a publicação de texto de interesse de
grupos criminosos. Desde segunda-feira venho falando com colegas
sobre minha proposta. Até agora,
só um se dispôs a assinar o documento. Os demais alegam que o dinheiro dos impostos já é contribuição suficiente para coibir o crime e
que a Segurança Pública é quem
deve tratar desses assuntos, não
cabendo à categoria entrar em
guerra com o PCC.
Já disse aqui e reafirmo: enquanto a população achar que o embate
entre o PCC e a polícia é uma guerra particular, na qual o cidadão comum é apenas o espectador, São
Paulo irá perder uma batalha atrás
da outra.
Baixo astral
Até a eleição passada, confesso,
conseguia achar graça nas patetices
e na pouca-vergonha apresentadas
no horário eleitoral obrigatório.
Desta vez, é diferente. Não esboço
mais o menor sorriso quando vejo a
secretária de Marcos Valério, Fernanda Karina, pedir o meu voto
nem suporto mais os berros dos
candidatos do Prona. Paulo Maluf,
Valdemar Costa Neto, professor
Luizinho, Angela Guadagnin e até
um candidato chamado Camarilha
(!) esgotaram meu humor. Hoje,
sento na frente da TV e sinto
vontade de chorar.
barbara@uol.com.br
Texto Anterior: Painel de Tomie Ohtake no Anhangabaú será restaurado Próximo Texto: Há 50 Anos Índice
|