São Paulo, sexta-feira, 18 de agosto de 2006

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BARBARA GANCIA

E aí, companheiro?

Jornalistas deveriam assinar manifesto proibindo a exibição de vídeos caso eles sejam seqüestrados

AINDA NÃO DEU uma semana desde a soltura do repórter da Globo, e ninguém mais se interessa pelo assunto. São Paulo já incorporou a rotina macabra: o PCC promove uma ação, a população se tranca em casa acuada e, assim que a poeira assenta, ninguém mais dá bola. Até o próximo ataque a ônibus, a próxima bomba ou o próximo seqüestro de jornalista.
O que eu gostaria de saber é como é que se vai resolver o SEGUNDO seqüestro de jornalista agora que a Globo abriu o precedente de negociar com bandidos. Claro, a emissora foi pega de surpresa pela audácia dos criminosos que levaram Guilherme Portanova e atendeu prontamente às exigências dos seqüestradores visando preservar a vida de seu funcionário.
Mas, vem cá: como é que as empresas de comunicação (no caso da Globo, uma concessão pública) pretendem lidar com o segundo seqüestro, quando ele vier, se já abrimos as pernas para a bandidagem?
Na qualidade de cidadã de São Paulo, estou pouco me lixando se uma associação de jornalistas baseada em Atlanta ou se uma ONG de correspondentes espanhola aprovaram a atitude da Globo. O que esse pessoal sabe de PCC? Na minha modestíssima opinião, a Secretaria de Segurança deveria ter esgotado todas as possibilidades de negociação antes de ceder às exigências de mafiosos que agora deram para se travestir de partido político.
Diante dessa nova ameaça, o colunista da Folha Elio Gaspari sugere que as empresas de comunicação façam seguro de vida para todos os funcionários. Ou seja, já estamos tratando futuros seqüestros do tipo como fato consumado.
Na qualidade de jornalista, proponho uma solução radical. Na Itália, só foi possível acabar com o seqüestro quando as autoridades passaram a congelar a conta bancária de seqüestrados, e de suas famílias, para impedir o pagamento de resgates.
Pois eu sugiro que todos os jornalistas assinem um manifesto afirmando que, caso sejam seqüestrados, eles proíbem terminantemente a exibição de vídeo ou a publicação de texto de interesse de grupos criminosos. Desde segunda-feira venho falando com colegas sobre minha proposta. Até agora, só um se dispôs a assinar o documento. Os demais alegam que o dinheiro dos impostos já é contribuição suficiente para coibir o crime e que a Segurança Pública é quem deve tratar desses assuntos, não cabendo à categoria entrar em guerra com o PCC.
Já disse aqui e reafirmo: enquanto a população achar que o embate entre o PCC e a polícia é uma guerra particular, na qual o cidadão comum é apenas o espectador, São Paulo irá perder uma batalha atrás da outra.

Baixo astral
Até a eleição passada, confesso, conseguia achar graça nas patetices e na pouca-vergonha apresentadas no horário eleitoral obrigatório.
Desta vez, é diferente. Não esboço mais o menor sorriso quando vejo a secretária de Marcos Valério, Fernanda Karina, pedir o meu voto nem suporto mais os berros dos candidatos do Prona. Paulo Maluf, Valdemar Costa Neto, professor Luizinho, Angela Guadagnin e até um candidato chamado Camarilha (!) esgotaram meu humor. Hoje, sento na frente da TV e sinto vontade de chorar.


barbara@uol.com.br

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