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Lobby por lei começou no transporte de cargas
DA REPORTAGEM LOCAL
A série de lobbies que resultou na aprovação de um sistema antifurto obrigatório em todos os veículos de fábrica começou no setor do transporte
de cargas ainda nos anos 90.
E quem na época participava
do grupo de pressão acabou
tendo um papel decisivo para
que a medida saísse do papel.
O atual presidente do Contran, Alfredo Peres da Silva, que
assina a nova exigência, era, antes de assumir esse posto em
2005 no governo Lula, diretor-executivo da NTC (associação
dos transportadores de carga).
O setor diz que os prejuízos
com furto e roubo de cargas
beiram R$ 1 bilhão por ano e,
por esse motivo, passou a incentivar diversas ações para
rastreamento dos caminhões.
O tema acabou motivando
um projeto de lei do deputado
federal Mário Negromonte
(PP-BA) prevendo a criação de
um sistema nacional de prevenção ao furto e roubo de cargas -inclusive com a obrigatoriedade de haver um dispositivo antifurto saindo de fábrica.
A proposta foi aprovada e
sancionada pelo vice-presidente José de Alencar em fevereiro
de 2006. No final do mesmo
ano, a NTC foi a principal empresa doadora da campanha de
Negromonte -deu R$ 80 mil.
Negromonte e Peres são ligados ao ex-presidente da Câmara Severino Cavalcanti.
A lei era originalmente voltada ao segmento de cargas. Mas
um artigo abriu margem para
que fosse ampliada, incorporando as pressões dos mais variados segmentos -desde as seguradoras até a indústria de
eletrônicos e de celular.
Entre as empresas de rastreamento, há interesse das
maiores para que a exigência do
Contran defina especificações
que possam frear a expansão
desenfreada do mercado.
O Contran dispõe de câmaras
temáticas compostas por representantes de diversos setores, governamentais e da sociedade civil, para discutir as principais propostas de mudança
na legislação de trânsito.
A resolução publicada neste
mês, no entanto, não foi levada
para debates nesse fórum, situação que provocou a desconfiança de alguns integrantes.
Ela passou por apreciação direta da cúpula do governo federal e de alguns segmentos selecionados, sem a representatividade das câmaras temáticas.
Seguradoras
O deputado federal Carlos
Mannato (PDT-ES), árduo defensor da proposta, fez pressão
por meio de requerimentos ao
Ministério das Cidades neste e
no último ano para que a lei
aprovada em 2006, prevendo
dispositivo antifurto obrigatório, saísse do papel com a normatização do Contran.
O mesmo parlamentar é autor de projeto de lei para que
presos possam ser rastreados
por meio de chip. Mas diz que a
origem de seu interesse pelo assunto começou por conta das
seguradoras -que serão uma
das principais beneficiadas.
Mannato contou à Folha ter
um amigo no Espírito Santo, ligado ao setor de seguros, que
lhe convenceu das vantagens
do rastreamento dos veículos.
A Fenaseg (federação nacional das seguradoras) nega ter
qualquer interferência na nova
exigência, mas é defensora
aberta da medida e já vinha
adotando uma série de ações
para expandir a tecnologia.
As indenizações por roubo
ou furto de veículos representam ao menos metade dos R$
4,2 bilhões pagos no primeiro
semestre de 2007 pelo setor.
A avaliação das empresas de
seguro é que a difusão do sistema de rastreamento permitirá
reduzir de forma drástica os
riscos de furto e roubo, além de
aumentar as possibilidade de
recuperação dos veículos. Ao
mesmo tempo, consideram
que isso não vai significar perda de mercado -ao contrário.
Primeiro, argumentam as seguradoras, porque será possível cobrar valores mais baixos,
conquistando inclusive uma fatia de clientes que ainda não
aderiram ao serviço. Quem tem
dispositivo de monitoramento
hoje costuma ter desconto de
30% no preço do seguro.
Segundo porque a maior proporção de uso do seguro é por
acidentes. Terceiro, dizem as
empresas, porque a segurança
de ter o bem reembolsado não
será substituída pelos aparelhos antifurto, que minimizam
riscos, mas não garantem a recuperação.
(AI e DB)
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