São Paulo, segunda-feira, 18 de setembro de 2006

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Inédita, faixa exclusiva para motos começa sob polêmica

Prioridade da CET é expandir as faixas "preferenciais"; técnicos criticam opção

Área exclusiva na avenida Sumaré custou R$ 200 mil; motorista que invadir a pista receberá multa de R$ 127 e perda de 5 pontos

Fernando Donasci/Folha Imagem
Faixa na av. Sumaré reservada exclusivamente para motos


RICARDO GALLO
AFRA BALAZINA

DA REPORTAGEM LOCAL

A faixa exclusiva para motociclistas, uma experiência inédita no país que será testada a partir hoje na avenida Sumaré (zona oeste de São Paulo), já provoca divergência entre motoristas, em sua maioria contrários à medida, e motoqueiros, favoráveis à sua expansão.
Segundo a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), a escolha da Sumaré como primeira experiência da faixa exclusiva para motos ocorreu porque a via reunia os fatores favoráveis. "Primeiro, não tínhamos investimento para grandes recursos em obras, e a Sumaré tinha espaço suficiente para manter o mesmo número de faixas fazendo apenas o projeto de máxima utilização do leito viário", diz Roberto Scaringella, presidente da CET.
A avenida tem baixa circulação de motos -são cerca de 300 por hora nos horários de pico, contra 1.500 na avenida 23 de Maio, por exemplo. O teste durará seis meses.
A velocidade máxima na Sumaré diminuirá de 70 km/h para 60 km/h, para motos e carros. Os carros não poderão invadir a faixa, sob pena de multa de R$ 127 e perda de cinco pontos na carteira de habilitação.
O taxista Juscelino de Souza duvida que os motoqueiros respeitem a faixa, já que poderão circular livremente nas demais. "Tomaremos multa se invadirmos a faixa exclusiva, mas eles poderão entrar na dos carros."
Na opinião da juíza de direito Cristina Escher, a faixa "só vai tirar espaço dos carros".
Já o motoboy Marcio Antonio da Silva defende a medida. "Acho que deveriam fazer também em outras grandes avenidas e até na marginal", diz .
A faixa exclusiva, porém, é apenas o plano "B" da CET para reduzir o número de acidentes com motos em São Paulo. A opção prioritária é outra, mais econômica: a expansão da faixa preferencial, não-obrigatória e considerada um fracasso por técnicos ouvidos pela Folha.
Por falta de espaço físico nos grandes corredores e de recursos financeiros -a obra custou R$ 200 mil-, a experiência da faixa exclusiva por ora deve ficar restrita à Sumaré.
Já a faixa preferencial, batizada de Faixa Cidadã, deve se estender a outros trechos além dos corredores Consolação-Rebouças-Eusébio Matoso, em operação desde 24 de julho deste ano. "Faixa privativa em todos os corredores é inviável", disse Scaringella.
Scaringella cita as avenidas 23 de Maio e Rebouças como vias em que, dado o alto movimento e as faixas estreitas, é impossível criar espaços exclusivos para motos sem grandes intervenções -a alternativa passa a ser a Faixa Cidadã.
Na avaliação de técnicos ouvidos pela Folha, entretanto, priorizar a faixa preferencial em vez da exclusiva é um erro da CET. E a faixa exclusiva deveria funcionar em corredores onde há mais movimento.
"Os motoristas simplesmente ignoraram, porque, caso ficassem na faixa que lhes foi destinada, a velocidade cairia muito", disse Jaime Waisman, professor de transporte público da Escola Politécnica da USP. "Se não houver a legislação por trás, a faixa preferencial tende a se tornar inócua", diz Luís Antônio Seraphim, consultor da área de trânsito que idealizou, em 2000, a faixa exclusiva para motocicletas.
Segundo Scaringella, 20% dos motociclistas usam a Faixa Cidadã. Hoje, São Paulo conta com 530 mil motos, 76% a mais que a frota de 1997. Em 2005, 345 motociclistas morreram em acidentes, segundo a CET.


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