|
Próximo Texto | Índice
Inédita, faixa exclusiva para motos começa sob polêmica
Prioridade da CET é expandir as faixas "preferenciais"; técnicos criticam opção
Área exclusiva na avenida Sumaré custou R$ 200 mil; motorista que invadir a pista receberá multa de R$ 127 e perda de 5 pontos
Fernando Donasci/Folha Imagem
|
Faixa na av. Sumaré reservada exclusivamente para motos |
RICARDO GALLO
AFRA BALAZINA
DA REPORTAGEM LOCAL
A faixa exclusiva para motociclistas, uma experiência inédita no país que será testada a
partir hoje na avenida Sumaré
(zona oeste de São Paulo), já
provoca divergência entre motoristas, em sua maioria contrários à medida, e motoqueiros, favoráveis à sua expansão.
Segundo a CET (Companhia
de Engenharia de Tráfego), a
escolha da Sumaré como primeira experiência da faixa exclusiva para motos ocorreu
porque a via reunia os fatores
favoráveis. "Primeiro, não tínhamos investimento para
grandes recursos em obras, e a
Sumaré tinha espaço suficiente
para manter o mesmo número
de faixas fazendo apenas o projeto de máxima utilização do
leito viário", diz Roberto Scaringella, presidente da CET.
A avenida tem baixa circulação de motos -são cerca de 300
por hora nos horários de pico,
contra 1.500 na avenida 23 de
Maio, por exemplo. O teste durará seis meses.
A velocidade máxima na Sumaré diminuirá de 70 km/h para 60 km/h, para motos e carros. Os carros não poderão invadir a faixa, sob pena de multa
de R$ 127 e perda de cinco pontos na carteira de habilitação.
O taxista Juscelino de Souza
duvida que os motoqueiros respeitem a faixa, já que poderão
circular livremente nas demais.
"Tomaremos multa se invadirmos a faixa exclusiva, mas eles
poderão entrar na dos carros."
Na opinião da juíza de direito
Cristina Escher, a faixa "só vai
tirar espaço dos carros".
Já o motoboy Marcio Antonio da Silva defende a medida.
"Acho que deveriam fazer também em outras grandes avenidas e até na marginal", diz .
A faixa exclusiva, porém, é
apenas o plano "B" da CET para
reduzir o número de acidentes
com motos em São Paulo. A opção prioritária é outra, mais
econômica: a expansão da faixa
preferencial, não-obrigatória e
considerada um fracasso por
técnicos ouvidos pela Folha.
Por falta de espaço físico nos
grandes corredores e de recursos financeiros -a obra custou
R$ 200 mil-, a experiência da
faixa exclusiva por ora deve ficar restrita à Sumaré.
Já a faixa preferencial, batizada de Faixa Cidadã, deve se
estender a outros trechos além
dos corredores Consolação-Rebouças-Eusébio Matoso, em
operação desde 24 de julho
deste ano. "Faixa privativa em
todos os corredores é inviável",
disse Scaringella.
Scaringella cita as avenidas
23 de Maio e Rebouças como
vias em que, dado o alto movimento e as faixas estreitas, é
impossível criar espaços exclusivos para motos sem grandes
intervenções -a alternativa
passa a ser a Faixa Cidadã.
Na avaliação de técnicos ouvidos pela Folha, entretanto,
priorizar a faixa preferencial
em vez da exclusiva é um erro
da CET. E a faixa exclusiva deveria funcionar em corredores
onde há mais movimento.
"Os motoristas simplesmente ignoraram, porque, caso ficassem na faixa que lhes foi
destinada, a velocidade cairia
muito", disse Jaime Waisman,
professor de transporte público da Escola Politécnica da
USP. "Se não houver a legislação por trás, a faixa preferencial tende a se tornar inócua",
diz Luís Antônio Seraphim,
consultor da área de trânsito
que idealizou, em 2000, a faixa
exclusiva para motocicletas.
Segundo Scaringella, 20%
dos motociclistas usam a Faixa
Cidadã. Hoje, São Paulo conta
com 530 mil motos, 76% a mais
que a frota de 1997. Em 2005,
345 motociclistas morreram
em acidentes, segundo a CET.
Próximo Texto: Moacyr Scliar: O Rei da Estrada Índice
|