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Diploma de nível superior é raro em cargos de chefia
Só 27% dos dirigentes do setor público ou privado fizeram curso universitário
Pesquisa do Observatório Universitário foi feita com dados do Censo do IBGE. Para especialista, ensino superior precisa se expandir
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
Mais um dado revelador da
tragédia educacional brasileira:
a imensa maioria das pessoas
em postos de comando no dia-a-dia dos mais de 5.000 municípios brasileiros não completou um curso universitário.
Pesquisa feita pelo instituto
Observatório Universitário
mostra que somente 27% dos
dirigentes, legisladores, diretores ou gerentes do setor público
ou de empresas privadas têm
formação de nível superior.
Essa situação acontece tanto
no setor público quanto no setor privado. No setor público, o
percentual dos profissionais
com diploma em cargos de chefia é de cerca de 32%.
No setor privado, fica em
27%. O dado foi coletado a partir do Censo 2000 do IBGE
(Fundação Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística).
Para descobrir a escolaridade
dos brasileiros em cargos de
chefia, os pesquisadores separaram na classificação brasileira de ocupações utilizada pelo
IBGE em seus censos apenas
aqueles trabalhadores que se
encontram no grupo de membros superiores do poder público, de gerentes ou de dirigentes
de organizações de interesse
público ou de empresas privadas. Entram nessa classificação
profissões como diretores em
empresas, legisladores em municípios ou dirigentes em qualquer área do setor público.
"São essas as pessoas que, em
todos os municípios, comandam o Brasil. Mas apenas uma
pequena parcela delas, tanto no
setor público quanto no setor
privado, tem formação superior", afirma Edson Nunes,
coordenador do observatório e
presidente do Conselho Nacional de Educação.
Para o presidente do Conselho Federal de Administração,
Rui Otávio de Andrade, os dados mostram que a força de trabalho brasileira ainda está muito aquém, tanto em quantidade
quanto em qualidade, para
atender às demandas de crescimento da economia.
"A falta de profissionais qualificados e habilitados em níveis gerenciais ou nos cargos
mais elevados, tanto no setor
público quanto no privado, tem
causado enorme prejuízo socioeconômico ao país", diz ele.
O vice-presidente da Associação Brasileira de Mantenedoras do Ensino Superior Particular, Antonio Carbonari Netto, diz que uma possível explicação para a falta de graduados
em cargos de chefia é o fato de
muitas empresas ainda serem
familiares, com muitos pais
passando a gestão para filhos
sem preparo.
Nunes e Carbonari citam
também a rigidez dos currículos universitários como entrave
ao aumento da força de trabalho com nível superior.
"Nossa educação superior é
muito restritiva. Só há três opções de educação pós-secundária: bacharel, tecnólogo ou licenciado. É muito pouco se
compararmos com outros países mais desenvolvidos. É preciso ter mais opções, com mais
cursos de curta duração, mas
que permitam, principalmente,
que os créditos que o estudante
acumulou em determinado
curso possam ser mais facilmente assimilados em outro.
Hoje, esse tipo de crédito não
pertence ao aluno, pertence à
universidade", diz Nunes.
"A falta de graduados nas organizações brasileiras é reflexo
também dos currículos mal desenhados, extremamente academicistas e teóricos, e que mal
preparam para a vida social e
das organizações", concorda
Carbonari.
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