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ANÁLISE
Mizael teve mais sorte do que o goleiro Bruno Fernandes
FILIPE FIALDINI
ESPECIAL PARA A FOLHA
Os casos de Mizael e Bruno
nos confundem. Têm muito
em comum, mas soluções
opostas. Ambos estão sendo
acusados de matar suas ex-namoradas.
Provas vão sendo noticiadas, nos fazendo crer que
ambos são culpados.
Por que, então, somente
Bruno está preso?
A resposta é simples: Mizael deu sorte.
Quando ainda estávamos
assustados com os desmandos da ditadura, tivemos o
cuidado de colocar na Constituição uma cláusula segundo a qual todo cidadão é presumido inocente, até o final
de seu processo -não até
prova em contrário, como
querem os filmes.
Mas a Justiça -como tudo
o que é humano- é falha. Não importa o que fizermos,
sempre haverá inocentes na
cadeia e culpados em liberdade. É possível, contudo, diminuir nossos erros.
Caso optássemos por uma
Justiça muito rápida, com
prisões imediatas e poucos
recursos, teríamos menos
culpados livres, porém, inevitavelmente, acabaríamos
com mais inocentes presos, o
que seria inadmissível.
Nossa Constituinte, todavia, já fez a escolha: optou
pela liberdade, isto é, pela
presunção de inocência.
Assim, antes do fim do
processo, não pode ser imposta nenhuma pena ao acusado. Não se pode prendê-lo
somente porque está sendo
acusado.
Isso não significa que ninguém possa ser preso antes
do término do processo.
Tal, porém, somente se
justificaria como medida
cautelar, para se garantir o
justo resultado do processo.
Por exemplo, quando se
comprove que o acusado está
ameaçando testemunhas para obter injusta absolvição.
Infelizmente, a maior parte dos juízes parece ignorar o
princípio da presunção de
inocência, sobretudo em casos de grande repercussão.
Nesses, tem prevalecido a
presunção de culpabilidade,
como ocorre com o goleiro
Bruno, preso desde o início.
Daí a conclusão de que Mizael teve sorte.
FILIPE FIALDINI é advogado criminal e
professor da Faap
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