São Paulo, sexta, 18 de setembro de 1998

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OPINIÃO

Aliança para o social

VIVIANE SENNA

O Brasil chega ao fim do milênio confrontado com duas agendas, cuja consecução é fator condicionante para definir sua condição no século 21: a da transformação produtiva e a da equidade social.
A primeira tem espaço garantido na mídia diária. Nada de errado. Ninguém pode negar a importância de uma transformação produtiva capaz de levar o país a se inserir de forma competitiva na economia global. O problema é que o desafio da erradicação das desigualdades sociais intoleráveis, expresso na agenda da equidade social, não é apresentado nesses termos pela mídia e acaba não sendo entendido em toda a sua profundidade pela opinião pública.
Enquanto a agenda da transformação produtiva é apresentada como desafio único, num conjunto articulado de objetivos, a da equidade social não tem o mesmo tratamento: seus desafios são apresentados de maneira fragmentada e dispersa. É a iniquidade da saúde de um lado, a perversidade da seca de outro, a infância carente e abandonada, a precariedade do ensino... Em parte alguma se trabalha com a noção de agenda, ou seja, uma abordagem articulada e consequente dessas questões.
A mídia não pode ser responsabilizada isoladamente. Os próprios gestores das políticas públicas, ONGs, entidades e empresas que atuam no campo social também não estabeleceram plena sinergia entre suas ações.
A superação desse quadro deve se basear no binômio intersetorialidade (por parte das políticas públicas) e participação (da sociedade civil). É necessária a aglutinação de atores sociais do terceiro setor e destes com governo e organismos internacionais, para enfrentar de modo mais orgânico, sinérgico e convergente os desafios da agenda da equidade social.
Chamamos essa nova maneira de ver, entender e agir de aliança social estratégica. Ela permite a atores sociais que poderiam atuar isolados ou superpostos (como frequentemente ocorre, por compartilhar princípios ético-políticos e pela consciência da magnitude dos desafios) agir conjuntamente.
Permite principalmente trabalhar com a noção de agenda, processo muito mais eficaz do que um conjunto fragmentado de ações que, por mais competentes, se enfraquecem por dispersão ou superposição de esforços e recursos.
Essa aliança constitui, assim, instrumento eficiente para que a nação responda às imposições conjunturais que a metamorfose histórica lhe impõe. Isso é fundamental: a redemocratização, que devolveu ao país as prerrogativas da liberdade e do direito, também impôs novos deveres. Entre eles, a elevação do bem-estar social e da dignidade do povo brasileiro, imperativo ético e exigência política.


Viviane Senna, 41, psicóloga, é presidente do Instituto Ayrton Senna



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