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OPINIÃO
Aliança para o social
VIVIANE SENNA
O Brasil chega ao fim do milênio
confrontado com duas agendas,
cuja consecução é fator condicionante para definir sua condição no
século 21: a da transformação produtiva e a da equidade social.
A primeira tem espaço garantido
na mídia diária. Nada de errado.
Ninguém pode negar a importância de uma transformação produtiva capaz de levar o país a se inserir de forma competitiva na economia global. O problema é que o
desafio da erradicação das desigualdades sociais intoleráveis, expresso na agenda da equidade social, não é apresentado nesses termos pela mídia e acaba não sendo
entendido em toda a sua profundidade pela opinião pública.
Enquanto a agenda da transformação produtiva é apresentada
como desafio único, num conjunto articulado de objetivos, a da
equidade social não tem o mesmo
tratamento: seus desafios são
apresentados de maneira fragmentada e dispersa. É a iniquidade
da saúde de um lado, a perversidade da seca de outro, a infância carente e abandonada, a precariedade do ensino... Em parte alguma se
trabalha com a noção de agenda,
ou seja, uma abordagem articulada e consequente dessas questões.
A mídia não pode ser responsabilizada isoladamente. Os próprios gestores das políticas públicas, ONGs, entidades e empresas
que atuam no campo social também não estabeleceram plena sinergia entre suas ações.
A superação desse quadro deve
se basear no binômio intersetorialidade (por parte das políticas públicas) e participação (da sociedade civil). É necessária a aglutinação de atores sociais do terceiro
setor e destes com governo e organismos internacionais, para enfrentar de modo mais orgânico, sinérgico e convergente os desafios
da agenda da equidade social.
Chamamos essa nova maneira
de ver, entender e agir de aliança
social estratégica. Ela permite a
atores sociais que poderiam atuar
isolados ou superpostos (como
frequentemente ocorre, por compartilhar princípios ético-políticos
e pela consciência da magnitude
dos desafios) agir conjuntamente.
Permite principalmente trabalhar com a noção de agenda, processo muito mais eficaz do que um
conjunto fragmentado de ações
que, por mais competentes, se enfraquecem por dispersão ou superposição de esforços e recursos.
Essa aliança constitui, assim,
instrumento eficiente para que a
nação responda às imposições
conjunturais que a metamorfose
histórica lhe impõe. Isso é fundamental: a redemocratização, que
devolveu ao país as prerrogativas
da liberdade e do direito, também
impôs novos deveres. Entre eles, a
elevação do bem-estar social e da
dignidade do povo brasileiro, imperativo ético e exigência política.
Viviane Senna, 41, psicóloga, é presidente do
Instituto Ayrton Senna
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