São Paulo, terça-feira, 18 de outubro de 2005

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VIOLÊNCIA

Arma que matou jovem de 15 anos em SP é do padrasto de um colega dele; outro revólver foi achado na mesma mochila

Tiro acidental mata aluno em sala de aula

Keiny Andrade/Folha Imagem
Mãe do jovem morto na sala de aula em uma escola na zona norte é amparada


ALEXANDRE HISAYASU
DA REPORTAGEM LOCAL

A professora fazia a chamada da segunda aula de ciências na manhã de ontem quando ouviu "um barulho de bombinha". Levantou o rosto e viu o horror: o estudante Rafael Barbosa Osti, 15, fora baleado com um tiro nas costas.
O disparo, diz a própria polícia, foi acidental e ocorreu quando Marcelo (nome fictício), amigo da vítima, mostrava para colegas um revólver dentro da mochila. Rafael chegou a ser socorrido, mas morreu a caminho do hospital.
O acidente ocorreu por volta das 8h, na escola estadual Marinela Piumbato Chaparro, no Parque Anhangüera (zona norte de São Paulo). Na mochila de Marcelo, perfurada pelo disparo, policiais dizem ter achado uma segunda arma. Segundo a polícia, os dois revólveres pertencem a parentes de outros colegas de classe.
O que matou Rafael é do padrasto de um deles e tinha numeração. O outro, raspado, é do pai de um vizinho de Marcelo. Ambos terão de se explicar à polícia.
"Quando os alunos perceberam que era tiro, ficaram desesperados. Foi a própria professora que prestou o primeiro atendimento", diz a diretora regional de ensino, Eliana Bernardo de Mello.
O estudante foi socorrido, então, por PMs e levado para o hospital, mas não resistiu.
Colegas, que preferiram não se identificar, disseram que o aluno demorou para ser socorrido e que o diretor responsável não estava na escola. A diretora Eliana diz que o socorro foi imediato. "O diretor não estava porque era o primeiro dia das férias dele."
A escola dispensou todos os alunos. Segundo a PM, Marcelo, com dois amigos, saiu rapidamente do local, escondeu os revólveres na casa de um colega e voltou para a escola. Amigos de Rafael avisaram os policiais, e o estudante, com três amigos, acabou detido. Todos foram levados para o 46º DP (leia texto ao lado). O adolescente que manuseava a arma, segundo a polícia, não tem passagens pela Febem (Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor).
"Ele não gostava muito de fazer lição de casa, preferia videogame ou jogar futebol com os amigos. Era coisa da idade mesmo", disse a mãe de Rafael, Luzinete Barbosa, 38, que foi avisada no trabalho de que o filho havia sido ferido.
A morte de Rafael, segundo a diretora regional de ensino, ocorreu no mesmo dia em que os alunos da escola fariam uma simulação do referendo sobre a proibição do comércio de armas e munições.
"Os professores trabalharam para conscientizar os estudantes sobre esse assunto", disse. A escola tem cerca de mil alunos de 5ª a 8ª série, ensino médio e supletivo.
A mãe de Rafael disse que votará nulo no próximo domingo. "Antes votaria no "sim". Agora, isso não faz a menor diferença. O resto da família deve votar "não"."

Segunda morte
Foi a segunda morte de aluno em sala por tiro acidental em menos de um mês em São Paulo. No último dia 29, Ivanilton Gomes da Silva, 15, foi baleado na cabeça em Parelheiros, zona sul, quando um grupo manuseava um revólver. A vítima não era amiga do grupo.
O disparo acidental, diz a polícia, foi feito com uma arma comprada por um jovem de 16 anos. Um amigo dele, de 18, responsabilizado pelo homicídio culposo (sem intenção), está em liberdade e se mudou para outro Estado.


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