São Paulo, domingo, 18 de outubro de 2009

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Incêndio destrói centenas de obras de Oiticica

Acervo estava na casa do irmão do artista, no Rio; César Oiticica estimou o prejuízo em cerca de US$ 200 milhões

Parangolés, bólides e bilaterais, alguns dos destaques da produção do artista, estão irrecuperáveis; obras não tinham seguro

CAIO BARRETTO BRISO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO

Um incêndio destruiu grande parte do acervo do artista plástico Hélio Oiticica (1937-1980) que estava na casa de seu irmão, César, no Jardim Botânico, zona sul do Rio.
Segundo César Oiticica, que dirige o Projeto Hélio Oiticica, instituição criada em 1981 para cuidar de trabalhos do artista, o acervo da casa destruída reunia mais de mil obras -centenas foram queimadas. Ele estima a perda em US$ 200 milhões (R$ 342 mi). Não havia seguro.
Conhecido e admirado internacionalmente, Hélio Oiticica é um dos mais importantes artistas brasileiros do século 20.
Ligado às tendências construtivas que o tornaram um dos principais nomes do neoconcretismo entre o final dos anos 1950 e o começo dos 60, seus trabalhos tinham ênfase entre arte e vida e pediam a participação do público -como a instalação "Tropicália", exibida inicialmente em 1967 e que consistia em um ambiente tropical vivenciado pelo espectador.
A casa abrigava pinturas, desenhos e toda a obra concebida nos anos 1960. Parangolés, bólides e bilaterais, um dos destaques da produção do artista, estão em estado irrecuperável.
Os penetráveis, obras maiores de Oiticica, que integraram a exposição "Penetráveis", no Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica, no centro do Rio, permaneceram no espaço e foram salvos. Os que estavam na casa foram destruídos parcialmente. Os desenhos foram encontrados em bom estado.

O incêndio
O fogo começou por volta das 23h de sexta-feira. "Eu estava jantando com amigos quando ouvimos um barulho estranho no primeiro andar da casa", disse César Oiticica. O Corpo de Bombeiros chegou 20 minutos depois e teve dificuldades para controlar o fogo. "Tiveram que pegar água da piscina do meu vizinho", afirma.
Os bombeiros só conseguiram apagar totalmente as chamas por volta de 2h30 de sábado. A casa tinha um alerta de fumaça, que tocou apenas quando as chamas já haviam se espalhado. As cinzas do primeiro andar, onde ficava a reserva técnica que guardava a obra de Oiticica, estão sendo removidas para que os danos possam ser avaliados.
Chorando várias vezes durante a entrevista à Folha, César Oiticica disse que irá se dedicar a restaurar o que for possível. "A vida do meu irmão estava naquela casa. Cada obra tinha um valor especial."
Segundo ele, a parte do acervo que se encontra no Centro Hélio Oiticica seria levada para a casa do Jardim Botânico em novembro. "O Centro, por responsabilidade das administrações públicas passadas, tem problemas de umidade e segurança. Além disso, o ar condicionado frequentemente não funciona", afirma, justificando a permanência das obras na casa do Jardim Botânico.
Em nota, a secretária de Cultura do Rio de Janeiro, Jandira Feghali, lamentou o incêndio. Ela disse que tentou levar o acervo da reserva técnica para o Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica, mas não conseguiu. Artistas, amigos da família, estudantes de arte e admiradores da obra de Hélio Oiticica já foram visitar a casa. "Todos chegam aqui chorando", disse César. A Tate Modern, em Londres, e o Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMa), por exemplo, são duas instituições que possuem obras de Oiticica.
A crítica Lélia Coelho Frota, que não sabia do incêndio, ficou desolada com a notícia. "O percurso do Hélio como neoconcretista é único. A perda de parte do seu acervo é irreparável para a cultura brasileira."


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