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Incêndio destrói centenas de obras de Oiticica
Acervo estava na casa do irmão do artista, no Rio; César Oiticica estimou o prejuízo em cerca de US$ 200 milhões
Parangolés, bólides e bilaterais, alguns dos destaques da produção do artista, estão irrecuperáveis; obras não tinham seguro
CAIO BARRETTO BRISO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO
Um incêndio destruiu grande parte do acervo do artista
plástico Hélio Oiticica (1937-1980) que estava na casa de seu
irmão, César, no Jardim Botânico, zona sul do Rio.
Segundo César Oiticica, que
dirige o Projeto Hélio Oiticica,
instituição criada em 1981 para
cuidar de trabalhos do artista, o
acervo da casa destruída reunia
mais de mil obras -centenas
foram queimadas. Ele estima a
perda em US$ 200 milhões (R$
342 mi). Não havia seguro.
Conhecido e admirado internacionalmente, Hélio Oiticica é
um dos mais importantes artistas brasileiros do século 20.
Ligado às tendências construtivas que o tornaram um dos
principais nomes do neoconcretismo entre o final dos anos
1950 e o começo dos 60, seus
trabalhos tinham ênfase entre
arte e vida e pediam a participação do público -como a instalação "Tropicália", exibida inicialmente em 1967 e que consistia em um ambiente tropical
vivenciado pelo espectador.
A casa abrigava pinturas, desenhos e toda a obra concebida
nos anos 1960. Parangolés, bólides e bilaterais, um dos destaques da produção do artista, estão em estado irrecuperável.
Os penetráveis, obras maiores de Oiticica, que integraram
a exposição "Penetráveis", no
Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica, no centro do Rio,
permaneceram no espaço e foram salvos. Os que estavam na
casa foram destruídos parcialmente. Os desenhos foram encontrados em bom estado.
O incêndio
O fogo começou por volta das
23h de sexta-feira. "Eu estava
jantando com amigos quando
ouvimos um barulho estranho
no primeiro andar da casa", disse César Oiticica. O Corpo de
Bombeiros chegou 20 minutos
depois e teve dificuldades para
controlar o fogo. "Tiveram que
pegar água da piscina do meu
vizinho", afirma.
Os bombeiros só conseguiram apagar totalmente as chamas por volta de 2h30 de sábado. A casa tinha um alerta de fumaça, que tocou apenas quando as chamas já haviam se espalhado. As cinzas do primeiro
andar, onde ficava a reserva
técnica que guardava a obra de
Oiticica, estão sendo removidas para que os danos possam
ser avaliados.
Chorando várias vezes durante a entrevista à Folha, César Oiticica disse que irá se dedicar a restaurar o que for possível. "A vida do meu irmão estava naquela casa. Cada obra tinha um valor especial."
Segundo ele, a parte do acervo que se encontra no Centro
Hélio Oiticica seria levada para
a casa do Jardim Botânico em
novembro. "O Centro, por responsabilidade das administrações públicas passadas, tem
problemas de umidade e segurança. Além disso, o ar condicionado frequentemente não
funciona", afirma, justificando
a permanência das obras na casa do Jardim Botânico.
Em nota, a secretária de Cultura do Rio de Janeiro, Jandira
Feghali, lamentou o incêndio.
Ela disse que tentou levar o
acervo da reserva técnica para
o Centro Municipal de Arte
Hélio Oiticica, mas não conseguiu. Artistas, amigos da família, estudantes de arte e admiradores da obra de Hélio Oiticica já foram visitar a casa. "Todos chegam aqui chorando",
disse César. A Tate Modern,
em Londres, e o Museu de Arte
Moderna de Nova York (MoMa), por exemplo, são duas
instituições que possuem
obras de Oiticica.
A crítica Lélia Coelho Frota,
que não sabia do incêndio, ficou desolada com a notícia. "O
percurso do Hélio como neoconcretista é único. A perda de
parte do seu acervo é irreparável para a cultura brasileira."
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