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MEDICINA
Órgão planeja acelerar punição a qualquer tipo de publicidade médica irregular, como a que exibe paciente pós-cirurgia
Conselho mira o "antes e depois" da plástica
FABIANE LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL
O conselho de medicina de São
Paulo quer criar um rito sumário
para punir com mais rapidez,
possivelmente em até 15 dias, médicos que fazem publicidade irregular, como a do "antes e depois"
usada para conquistar pacientes
interessados em cirurgias plásticas. Atualmente, a punição chega
a demorar cinco anos.
Esse tipo de propaganda, apesar
de amplamente divulgada em sites, revistas e programas de TV, é
vetada pela legislação do Conselho Federal de Medicina. Se condenado, o profissional pode até
ter seu registro cassado.
"O problema é que temos queixas por causa de promessas não
alcançadas e vendidas em propagandas de extremo mau gosto.
Não fazemos milagres", diz Itamar Nogueira Stocchero, presidente da regional SP da Sociedade
Brasileira de Cirurgia Plástica.
"Mudamos a atitude, agora não
seremos tolerantes."
A idéia é criar uma fila específica para os casos de propaganda e
tentar concluir os processos em
duas semanas, respeitando o direito à ampla defesa do acusado.
Somente na edição especial da
revista sobre cirurgia plástica
"Plástica e Beleza", que circulou
até agosto, 28 profissionais foram
pegos participando de publicidade irregular, diz o órgão.
A publicação fez um especial
"antes e depois" para mostrar o
suposto resultado de diversos tipos de cirurgia. Todos os envolvidos serão investigados pelo conselho porque o método de propaganda, além de usar indevidamente a imagem do paciente, leva
o médico a prometer resultados
que nem sempre são os possíveis.
A proposta do rito sumário saiu
de um fórum sobre publicidade
médica realizado na semana passada pelo conselho e agora será
ratificada no plenário do órgão,
diz Lavínio Nilton Camarim, responsável pela câmara técnica de
cirurgia plástica do órgão.
Atualmente, um processo sobre
publicidade pode demorar até
cinco anos para ser concluído,
mesmo que haja provas como a
reprodução da página de uma revista, diz Camarim. A demora
ocorre, ele explica, porque entram
na mesma fila de investigações de
outros casos mais graves, como
acusações de erro médico.
O conselho puniu, desde 2000,
apenas 15 médicos por causa de
publicidade indevida -de um total de 151 processos em andamento. A maioria levou uma "censura
pública", divulgada em jornais.
Segundo Camarim, se consideradas as denúncias -um passo anterior à abertura de processo-, a
publicidade já ocupa o quinto lugar no ranking das quase 11 mil
reclamações contra médicos recebidas desde 2000. Fica na frente,
por exemplo, de itens como "erro
no diagnóstico". A cirurgia plástica é a especialidade com mais
propagandas questionadas.
Uma das denúncias feitas ao órgão foi justamente sobre a edição
especial da "Plástica e Beleza". No
fórum, Camarim apresentou a cópia do convite atribuído à revista,
para médicos participarem da
edição "antes e depois", com tiragem de 100 mil exemplares.
O texto atribuído à publicação
fala das dificuldades para que médicos apresentem os resultados de
seus trabalhos "em razão das restrições do código de ética da categoria". A revista prometeu evitar
problemas por meio de fotos cedidas por empresas, sem identificar profissionais autores dos procedimentos. O conselho não divulgou os nomes dos médicos que
aceitaram. A revista negou o convite e informou que desconhece
impeditivos ao "antes e depois".
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