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Aeronáutica vai rastrear "buracos negros"
Comandante da força determinou ontem um levantamento completo sobre as freqüências de rádio em todo o país
Determinação foi dada um dia depois que o laudo sobre o acidente com o Boeing da Gol indicou 27 tentativas frustradas de contato
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
O comandante da Aeronáutica, brigadeiro Luiz Carlos Bueno, determinou ontem um levantamento completo sobre as
freqüências de rádio em todo o
país e não apenas na rota Brasília-Manaus, onde ocorreu a colisão entre o Boeing da Gol e o
Legacy, matando 154 pessoas.
O levantamento, que poderá
ser iniciado já neste final de semana, está a cargo do GEIV
(Grupo Especial de Inspeção
em Vôo da FAB) para detectar
onde e por que há falhas de comunicação graves. Em resumo,
os testes são feitos por um
avião que sobrevoa o país.
A decisão é resultado do relatório preliminar sobre as causas do acidente de 29 de setembro, que apontou que nem o
Cindacta-1 (centro de controle
de tráfego aéreo) conseguiu
contato com Legacy a partir de
Brasília, nem o Legacy com o
Cindacta-1, antes e depois do
acidente.
"Não pode acontecer uma
coisa dessas", disse o brigadeiro
ontem, por telefone.
Pela manhã, o ministro da
Defesa, Waldir Pires, voltou a
negar problemas: "Não há buraco negro. As informações que
tenho é que os espaços de radar
de Brasília e Manaus até se superpõem".
No começo de outubro, o Decea (Departamento de Controle do Espaço Aéreo) informou,
após realizar sobrevôos de inspeção na região do acidente,
que não houve falhas nos equipamentos de controle de tráfego aéreo, inclusive nos radares.
Tentativas de contato
Ao todo, foram 27 tentativas
frustradas de contato entre o
Cindacta-1 e o Legacy e vice-versa, antes da colisão. Os controladores de vôo tentaram falar sete vezes com o avião. Os
pilotos americanos Joe Lepore
e Jan Paladino tentaram 20 vezes falar com o centro.
Apenas um contato foi completado, mas parcialmente -os
pilotos não entenderam os últimos números da freqüência ditada. Pediram que a mensagem
fosse repetida, sem resposta.
A partir dessa tentativa frustrada, o Legacy ainda insistiu
mais sete vezes, com segundos
de distância entre elas, em se
comunicar com o centro de
Brasília, todas fracassadas. A
última foi às 16:56:53h, um segundo antes do choque.
Mesmo depois do acidente, o
Legacy precisou da intermediação de um avião cargueiro para
se comunicar com o Cindacta-4, em Manaus.
Só houve duas únicas comunicações bem-sucedidas do Legacy com os centros de controle, antes do choque com o
Boeing. Uma foi durante a decolagem em São José dos Campos (SP), às 14h51, quando o
controlador local deu o "clearance" (autorização) para a decolagem em 37 mil pés. A segunda e última foi às 15h51, na
frequência de 125.05 MHz.
As investigações concluíram
que, às 15h55, o Legacy sobrevoou Brasília, mantendo o nível
de vôo de 370 (ou 37 mil pés) e
ingressando na aerovia UZ6
(sentido Manaus, que deve ser
voado em níveis pares) "sem
solicitar ou receber qualquer
instrução do Centro Brasília".
Hipótese
A Aeronáutica trabalha com
a hipótese de que tenha havido
falha, não nas freqüências, mas
nos equipamentos do próprio
Legacy, que nem conseguia
contatar o centro, nem conseguia ser contactado. Era o primeiro vôo do avião.
Essa hipótese é reforçada
porque outro instrumento fundamental também estava inoperante -o transponder, que
envia os dados do avião para o
centro de controle e aciona o
sistema anti-colisão.
Colaborou IURI DANTAS , da Sucursal de Brasília
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