São Paulo, sábado, 18 de novembro de 2006

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Aeronáutica vai rastrear "buracos negros"

Comandante da força determinou ontem um levantamento completo sobre as freqüências de rádio em todo o país

Determinação foi dada um dia depois que o laudo sobre o acidente com o Boeing da Gol indicou 27 tentativas frustradas de contato

ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA

O comandante da Aeronáutica, brigadeiro Luiz Carlos Bueno, determinou ontem um levantamento completo sobre as freqüências de rádio em todo o país e não apenas na rota Brasília-Manaus, onde ocorreu a colisão entre o Boeing da Gol e o Legacy, matando 154 pessoas.
O levantamento, que poderá ser iniciado já neste final de semana, está a cargo do GEIV (Grupo Especial de Inspeção em Vôo da FAB) para detectar onde e por que há falhas de comunicação graves. Em resumo, os testes são feitos por um avião que sobrevoa o país.
A decisão é resultado do relatório preliminar sobre as causas do acidente de 29 de setembro, que apontou que nem o Cindacta-1 (centro de controle de tráfego aéreo) conseguiu contato com Legacy a partir de Brasília, nem o Legacy com o Cindacta-1, antes e depois do acidente.
"Não pode acontecer uma coisa dessas", disse o brigadeiro ontem, por telefone. Pela manhã, o ministro da Defesa, Waldir Pires, voltou a negar problemas: "Não há buraco negro. As informações que tenho é que os espaços de radar de Brasília e Manaus até se superpõem".
No começo de outubro, o Decea (Departamento de Controle do Espaço Aéreo) informou, após realizar sobrevôos de inspeção na região do acidente, que não houve falhas nos equipamentos de controle de tráfego aéreo, inclusive nos radares.

Tentativas de contato
Ao todo, foram 27 tentativas frustradas de contato entre o Cindacta-1 e o Legacy e vice-versa, antes da colisão. Os controladores de vôo tentaram falar sete vezes com o avião. Os pilotos americanos Joe Lepore e Jan Paladino tentaram 20 vezes falar com o centro.
Apenas um contato foi completado, mas parcialmente -os pilotos não entenderam os últimos números da freqüência ditada. Pediram que a mensagem fosse repetida, sem resposta. A partir dessa tentativa frustrada, o Legacy ainda insistiu mais sete vezes, com segundos de distância entre elas, em se comunicar com o centro de Brasília, todas fracassadas. A última foi às 16:56:53h, um segundo antes do choque.
Mesmo depois do acidente, o Legacy precisou da intermediação de um avião cargueiro para se comunicar com o Cindacta-4, em Manaus. Só houve duas únicas comunicações bem-sucedidas do Legacy com os centros de controle, antes do choque com o Boeing. Uma foi durante a decolagem em São José dos Campos (SP), às 14h51, quando o controlador local deu o "clearance" (autorização) para a decolagem em 37 mil pés. A segunda e última foi às 15h51, na frequência de 125.05 MHz.
As investigações concluíram que, às 15h55, o Legacy sobrevoou Brasília, mantendo o nível de vôo de 370 (ou 37 mil pés) e ingressando na aerovia UZ6 (sentido Manaus, que deve ser voado em níveis pares) "sem solicitar ou receber qualquer instrução do Centro Brasília".

Hipótese
A Aeronáutica trabalha com a hipótese de que tenha havido falha, não nas freqüências, mas nos equipamentos do próprio Legacy, que nem conseguia contatar o centro, nem conseguia ser contactado. Era o primeiro vôo do avião. Essa hipótese é reforçada porque outro instrumento fundamental também estava inoperante -o transponder, que envia os dados do avião para o centro de controle e aciona o sistema anti-colisão.


Colaborou IURI DANTAS , da Sucursal de Brasília


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