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À beira da rodovia, bairro concentra migrantes
DA AGÊNCIA FOLHA, EM
CARAGUATATUBA
No meio da serra do Mar, à
beira da rodovia Rio-Santos,
em Caraguatatuba (173 km de
SP), está a "Bicicletaria do Bahiano". Porta de entrada do
empobrecido e violento bairro
Olaria, está rodeada de baianos.
O dono é José Antônio dos
Santos, 35, também conhecido
como "Tonho do Churrasco"
-baiano, é claro, de Camacã
(519 km de Salvador).
Há 16 anos na cidade, Tonho
tem sua parte no crescimento
desordenado da ocupação no litoral paulista. Pouco após se fixar em Caraguá, levou mãe, irmão, irmã e cunhado para o
município. Ao longo dos anos,
buscou pelo menos mais dez
parentes. Todos foram com a
esperança de uma vida melhor.
Casado, pai de três filhos, Tonho diz que vive bem. Para isso,
faz de tudo: conserta bicicleta,
vende queijo e CD pirata na
praia, faz serviço de lotação.
Não pára de trabalhar nem para falar com a reportagem.
Com tesoura e borracha em
mãos, remenda pneus durante
os 30 minutos de conversa com
a Folha na quinta-feira.
Ele conta que, na vila, o que
mais tem é mesmo baiano -e
trabalhador. "Olha outro ali",
diz, apontando para um ambulante que leva espigas de milho
em uma bicicleta. "Está indo
para a praia."
Com o tempo ruim, Tonho
prefere ficar pelo bairro. Mas
afirma que, com sol, chega a ganhar até R$ 150 por dia na
areia. Por mês, fora da temporada, tira quase R$ 1.000 com a
bicicletaria. E ainda fatura outros R$ 100 com uma lotação
irregular, que leva os moradores para a construção civil.
Muito mais que os R$ 10 por
dia que recebia na roça baiana.
Rua dos mineiros
Também há muitos mineiros
no bairro da bicicletaria do
baiano Tonho. Há até uma rua
só para eles. A indicação é seguir pela viela principal até o final e virar à direita. De carro, a
reportagem pára em um bar e
pergunta ao rapaz à frente da
mesa de bilhar de onde ele é.
Sebastião Rodrigues dos Santos, 34, responde: "Téofilo Otoni [473 km de Belo Horizonte]".
É a "rua dos mineiros". Outros
três conterrâneos de Santos jogam sinuca no local.
Casado, pai de um filho, ele
não foge à regra: chegou depois
do irmão, há cinco anos. Ficou.
Pobreza
Maior cidade do litoral norte,
Caraguá exibia em 2000, no último Censo do IBGE, indicadores sociais abaixo da média
paulista, com renda média per
capita de 2,16 mínimos contra
2,92 do Estado. E 20% das casas estavam sem infra-estrutura urbana adequada -no Estado, o índice era de 10,7%.
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