São Paulo, domingo, 18 de novembro de 2007

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À beira da rodovia, bairro concentra migrantes

DA AGÊNCIA FOLHA, EM CARAGUATATUBA

No meio da serra do Mar, à beira da rodovia Rio-Santos, em Caraguatatuba (173 km de SP), está a "Bicicletaria do Bahiano". Porta de entrada do empobrecido e violento bairro Olaria, está rodeada de baianos.
O dono é José Antônio dos Santos, 35, também conhecido como "Tonho do Churrasco" -baiano, é claro, de Camacã (519 km de Salvador).
Há 16 anos na cidade, Tonho tem sua parte no crescimento desordenado da ocupação no litoral paulista. Pouco após se fixar em Caraguá, levou mãe, irmão, irmã e cunhado para o município. Ao longo dos anos, buscou pelo menos mais dez parentes. Todos foram com a esperança de uma vida melhor.
Casado, pai de três filhos, Tonho diz que vive bem. Para isso, faz de tudo: conserta bicicleta, vende queijo e CD pirata na praia, faz serviço de lotação. Não pára de trabalhar nem para falar com a reportagem.
Com tesoura e borracha em mãos, remenda pneus durante os 30 minutos de conversa com a Folha na quinta-feira.
Ele conta que, na vila, o que mais tem é mesmo baiano -e trabalhador. "Olha outro ali", diz, apontando para um ambulante que leva espigas de milho em uma bicicleta. "Está indo para a praia."
Com o tempo ruim, Tonho prefere ficar pelo bairro. Mas afirma que, com sol, chega a ganhar até R$ 150 por dia na areia. Por mês, fora da temporada, tira quase R$ 1.000 com a bicicletaria. E ainda fatura outros R$ 100 com uma lotação irregular, que leva os moradores para a construção civil. Muito mais que os R$ 10 por dia que recebia na roça baiana.

Rua dos mineiros
Também há muitos mineiros no bairro da bicicletaria do baiano Tonho. Há até uma rua só para eles. A indicação é seguir pela viela principal até o final e virar à direita. De carro, a reportagem pára em um bar e pergunta ao rapaz à frente da mesa de bilhar de onde ele é.
Sebastião Rodrigues dos Santos, 34, responde: "Téofilo Otoni [473 km de Belo Horizonte]". É a "rua dos mineiros". Outros três conterrâneos de Santos jogam sinuca no local.
Casado, pai de um filho, ele não foge à regra: chegou depois do irmão, há cinco anos. Ficou.

Pobreza
Maior cidade do litoral norte, Caraguá exibia em 2000, no último Censo do IBGE, indicadores sociais abaixo da média paulista, com renda média per capita de 2,16 mínimos contra 2,92 do Estado. E 20% das casas estavam sem infra-estrutura urbana adequada -no Estado, o índice era de 10,7%.


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