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ONG propõe que Brasil adote parto anônimo
RENATA BAPTISTA
DA AGÊNCIA FOLHA
Após casos de abandono de
bebês recém-nascidos em Minas ganharem repercussão,
uma ONG resolveu apresentar
uma proposta ao Congresso para que o governo adote a prática
do chamado parto anônimo.
Vigente em países como Áustria, Alemanha, França, Itália e
Bélgica, o parto anônimo permite que as gestantes passem
pelo pré-natal e pelo parto sem
se identificar e que o bebê seja
encaminhado para adoção sem
os dados da mãe.
Para o presidente do IBDFam (Instituto Brasileiro de
Direito de Família), Rodrigo da
Cunha Pereira, a medida pode
evitar tragédias como a ocorrida em Contagem (região metropolitana de Belo Horizonte).
Uma menina morreu cinco dias
após ter sido jogada pela mãe
no ribeirão Arrudas -um dos
mais poluídos da região- momentos após o nascimento, no
dia 30 de setembro. Ninguém
da família sabia da gravidez.
A mãe do bebê foi indiciada
por homicídio qualificado, praticado por motivo fútil e torpe.
Outro caso emblemático
ocorreu em fevereiro de 2006,
quando um bebê de dois meses
foi deixado pela mãe num saco
plástico na lagoa da Pampulha,
na capital mineira, após ter tido
alta da maternidade.
"O abandono não é causado
apenas por questões econômicas, pois acontece em países de
primeiro mundo. O principal
fator ainda é a moral sexual. As
mulheres não querem que descubram que elas estão grávidas.
Por isso, escondem a gestação e
o parto", diz Pereira.
Segundo ele, a prática pode
ser uma boa saída para reduzir
o problema. "Só queremos evitar uma forma trágica de abandono. Em vez de ser abandonada em rios ou lixões, a criança e
sua mãe ficariam seguros."
A questão, porém, tem levantado polêmicas. O Comitê dos
Direitos das Crianças das Nações Unidas considera que o
parto anônimo viola o direito
da criança de conhecer a sua
identidade. Por este motivo, a
Espanha erradicou a prática de
sua legislação.
"Às vezes é importante saber
das questões genéticas. Seja
por questões de saúde e até
mesmo emocionais. Mas já hoje muitas pessoas não têm acesso a essas informações no país.
Os filhos de mães que usam
amostras de banco de esperma,
por exemplo, não sabem quem
são seus pais", afirma Pereira.
Origens
A psicóloga Vera Resende,
professora da Unesp (Universidade Estadual Paulista), diz
que o indivíduo sente a necessidade de saber suas origens.
"Conheço o caso de uma pessoa adotada que está em ótimas
condições, bem tratada e recebendo muito carinho. Mas,
mesmo assim, quer saber de
onde veio", diz Resende.
Segundo ela, qualquer tipo de
abandono é um trauma e pode
causar seqüelas emocionais para quem for vítima dele.
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