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Internautas têm em média 6,5 senhas
Segundo pesquisa da Microsoft, cada usuário da rede possui em média 6,5 senhas e 25 contas que exigem algum código
Para preservar o namoro ou a vida bancária, quantidade cada vez maior de códigos secretos invade e confunde o dia-a-dia das pessoas
ADRIANA KÜCHLER
DA REVISTA DA FOLHA
Hoje, são raras as operações
-no trabalho, nas comunicação, com dinheiro, ou relacionamentos- realizadas com sucesso sem a senha certa para
cada uma delas.
Conseqüência quase inevitável da digitalização da vida, cada usuário da rede possui em
média 6,5 senhas e 25 contas
que requerem essas senhas, segundo um estudo da Microsoft
sobre hábitos na internet.
Outra pesquisa feita pela empresa americana de segurança
tecnológica RSA relata que
36% dos funcionários de empresas têm de administrar entre seis e 15 senhas, e 82% deles
se dizem frustrados por não
conseguirem administrar direito esses códigos todos.
Pois atire a primeira tecla
aquele que nunca perdeu a sua.
A comunidade "esqueci minha
senha de novo", criada pelo designer Roberto Carlos Zamariola, 37, no Orkut, tem cerca de
1.300 esquecidos que trocam
dicas para evitar o problema.
"Não imaginava que tanta gente tinha o mesmo problema",
diz Roberto.
O inferno são as senhas
E nas costas de quem esse
exército do "deu branco" pode
jogar a culpa? "O que faz crescer o uso das senhas, em um
mundo centrado na internet, é
a importância da informação,
que pode valer mais do que o dinheiro. Assim como preciso de
senha para acessar meu dinheiro no banco, preciso também
de uma chave para minhas informações", diz o coordenador
do curso de Ciência da Computação da PUC-SP, Daniel Couto
Gatti, com "mais de 30 senhas"
declaradas.
Nem a sumidade da memória
no Brasil, o coordenador do
Centro de Memória da PUC-RS, Iván Izquierdo, 70, escapa
dessa maldição. Para ele, é impossível decorar seqüências
aleatórias sem escrever, por isso prefere anotar os cerca de 40
códigos que precisa usar todos
os dias. Quando isso não acontece, Izquierdo recorre sem
pestanejar à ferramenta dos sites que devolvem ao usuário esquecido a informação perdida.
Segundo Paulo Bertolucci,
professor de neurologia do
comportamento da Unifesp,
decorar é possível desde que sejam criadas estratégias que relacionem as senhas a informações conhecidas. "A memória é
associativa. São poucas e invejáveis as pessoas que conseguem decorar longas séries de
números ao acaso."
Esqueci a minha senha
Milhares de combinações
que se perdem todos os dias. É
difícil estimar quantas são, mas
no call-center do provedor Uol,
por exemplo, das 500 mil ligações mensais recebidas, de 35
mil a 50 mil são de usuários que
perderam suas senhas.
No Terra, as ligações para
troca de senhas somam 62 mil
por mês, 12% do total de atendimentos. A maioria por esquecimento. Nos portais iG, iBest e
Br Turbo, em setembro foram
registradas 7.549 reclamações
referentes a senhas e, em outubro, 5.317. Entre elas, 80% se
resumiam ao "esqueci a minha
senha".
Para evitar fundir a cuca com
a profusão de sites, e-mails,
aplicativos de computador e
serviços bancários que exigem
códigos de acesso, a maioria das
pessoas constrói uma associação sentimental para a combinação numérica, acreditando
que assim possa ser fácil lembrar.
Uma pesquisa da Universidade do Estado de Wichita (EUA)
mostrou que 54,9% das pessoas
usam palavras com significado
pessoal, como os nomes de seus
filhos, pets ou ruas, enquanto
49,8% usam números significativos como aniversários ou números de telefones.
Exatamente o contrário do
que recomendam os especialistas. "Por "forte", entende-se
uma senha que não tenha relação direta com os dados da pessoa: idade, nascimento, nome
de trás para frente e outras coisas meio bobas assim", afirma
Demi Getschko, professor do
curso de Ciência da Computação da PUC-SP.
Pena que as senhas consideradas fortes ou seguras são
também as mais difíceis de decorar. As melhores seriam
aquelas formadas por números,
letras e sinais escolhidos aleatoriamente (veja no quadro acima). Nos bancos, como as senhas eram limitadas a números, foram criadas novas formas de proteção, como os cartões com chaves de segurança e
os chaveirinhos de senhas, os
tokens (dispositivo eletrônico
que gera novas combinações de
senhas em questão de segundos).
Mesmo com toda a precaução, às vezes é impossível evitar
uma invasão. A atriz Leandra
Leal, 25, cuida para não criar
senhas óbvias ("não uso data de
aniversário") e não acessa computadores públicos. Ainda assim, há dois anos recebeu uma
ligação do banco querendo saber se estava fazendo a limpa
na própria conta. "Rolou um vírus no meu computador. E então eles descobriram um hacker, que deve ter roubado minhas senhas, e estava rapando a
minha conta."
Infância eletrônica
Se proteger o computador
não é tão fácil, decorar é mole
para Leandra, assim como para
o colega Caco Ciocler, 33, que
acha mais simples gravar números do os que textos da novela. O ator, ex-estudante de engenharia, tem até uma regrinha
para guardar senhas. "Faço
uma matemática. Escolho uma
data e em um número somo
tanto, no outro multiplico outro tanto... É quase uma equação." A cabeça boa só não funciona na hora de decorar nomes ou as histórias dos filmes
que acabou de ver. "Gasto tanto
espaço com senhas e números
que não sobra para o resto."
Na prática não é bem assim.
Para quem acha que tanta informação não vai caber no cérebro, é preciso entender que
há vários tipos de memória. Há
uma memória de trabalho, que
guarda informações por poucos
segundos. A de curta duração
fica por cerca de seis horas e a
de longa duração pode durar
décadas. Há também memórias
que desaparecem por falta de
utilização.
As informações que recebemos através dos sentidos são
armazenadas em redes formadas por neurônios de diferentes
regiões do cérebro. Cada rede
corresponde a uma memória. E
a capacidade de combinação
entre essas conexões é infinita.
Ao mesmo tempo, é possível
dizer que a memória ocupa espaço, pois há um número limitado de circuitos neuronais disponíveis. Ou seja, o cérebro
precisa perder informações para ganhar outras.
Abre-te sésamo do mundo
moderno, as senhas ainda devem fazer parte (chata) de nossas vidas por muito tempo. A
biometria (controle de acesso
por características físicas como
impressão digital ou íris) ainda
é um futuro distante, dizem os
especialistas. "Estamos na idade da pedra digital e as senhas
são fruto da nossa infância eletrônica", decreta o professor
Wilson Vicente Ruggiero, diretor do Laboratório de Arquitetura e Redes de Computadores
da USP. Por um bom tempo,
então, códigos pessoais serão
objeto de desejo tanto de hackers como de namoradas e namorados ciumentos.
Gabriela de Araújo, 11, acaba
de trocar a senha do Orkut, que
uma amiga descobriu "pra ficar
bagunçando". Agora, digita as
senhas com uma mão enquanto
tapa o segredo com a outra.
Tem medo de ter a senha seqüestrada de novo, mas ela
mesma já tentou roubar a do irmão "pra saber se ele tá namorando".
À turma de Gabriela, vítima
de gaiatos tecnológicos, podem
cair bem as recomendações
lançadas pela Universidade de
Michigan, nos EUA, que indica
aos seus estudantes um mandamento básico para manter o
que se deseja -conta bancária
ou vida amorosa- em sigilo.
"Trate as senhas como a sua
roupa de baixo: não empreste
para os amigos, não deixe largada por aí e troque sempre que
possível."
Colaborou GUSTAVO FIORATTI
1.300
é o número de esquecidos que se reúnem na comunidade do Orkut "esqueci minha senha de novo" para trocar
dicas sobre o problema
35 mil a 50 mil
ligações de usuários que perderam a
senha são recebidas por mês pelo provedor UOL, o que representa de 7% a
10% do total de atendimentos (problema na conexão, campeões de chamados, correspondem a 30% do total)
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