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ANÁLISE
Renda de proprietário não subiu tanto
LUCILA LACRETA
ESPECIAL PARA A FOLHA
Atualizar a Planta Genérica
de Valores para aproximar o valor venal de um imóvel do seu
valor real, isto é, do de mercado, pode ter sua validade, por
exemplo, para corrigir o valor
deste patrimônio. Mas é preciso cuidado no momento da definição das alíquotas que incidirão para a cobrança do IPTU.
Caso sejam mantidas as mesmas alíquotas que hoje incidem
no IPTU em relação ao imóvel
com um valor tão atualizado
como pretende a prefeitura,
certamente serão gerados problemas insolúveis para as famílias, uma vez que não tiveram
sua renda valorizada na mesma
proporção para manter este patrimônio que hoje se valorizou.
Poderão ser promovidas injustiças naquelas famílias que,
numa situação extrema, terão
que perder o seu imóvel ou
mesmo vê-lo deteriorar-se
diante das dificuldades de conservação ou na negociação de
uma locação ou venda, uma vez
que pagar este imposto acarrete enorme peso dentro do orçamento familiar limitado.
Uma coisa é atualizar a Planta Genérica de Valores aproximando-a da realidade. Outra é
a alíquota que vai ali incidir na
cobrança do IPTU.
O administrador público deve refletir muito sobre quais seriam as consequências de um
aumento real no imposto a ser
cobrado dos paulistanos, uma
vez que não se tem a segurança
no mercado em relação à oferta
e à manutenção dos empregos.
O aumento do valor do patrimônio imobiliário não ocorre
na mesma proporção do aumento da renda do proprietário
para mantê-lo. O locador de um
imóvel tentará repassar o custo
para os locatários. Ao não conseguir, a cidade vai se deteriorando e se desvalorizando.
Fala-se no aumento da arrecadação, porém não se vê melhora nos serviços municipais
de manutenção e de conservação da cidade, no fornecimento
de transporte público de qualidade, entre outros. Tem cabimento os bueiros estarem entupidos? E o que falar da limpeza pública? E as vias e passeios
públicos, em que estado de deterioração se encontram?
Há que se ter a justa medida
do que se pode taxar e da real
capacidade contributiva do cidadão paulistano. É preciso
responsabilidade social para
não sobrecarregar demasiadamente o cidadão que já é aviltado pelo poder público, sem a
correlata contrapartida dos
serviços públicos e sociais que
deveriam ser garantidos a todos pela municipalidade.
Pode-se ter argumento favorável em princípio para aumentar a Planta Genérica de Valores, porém há tantos aspectos
negativos por ela gerados que
esse se torna irrelevante.
LUCILA LACRETA é arquiteta urbanista, diretora técnica do Movimento Defenda São Paulo,
mestre em urbanismo pela Universidade de Michigan, conselheira do Consema e ex-conselheira do Conselho Municipal de Política Urbana
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