São Paulo, domingo, 18 de dezembro de 2005

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DANUZA LEÃO

Encarando

Há mulheres, já não assim tão jovens, que acham que um dia vão encontrar um homem maduro, grisalho, charmoso, intelectual, bem de vida -não precisa ter todas essas características, umas duas já seriam mais do que suficientes; esse homem seria tão inteligente que saberia que as mocinhas de 20 anos não estão com nada e que uma mulher madura, ainda bonita e cheia de experiência, é tudo que ele pode almejar. Ai, ai.
Depois de alguns anos tentando e vendo que esse homem não existe (existir ele existe, só que prefere sempre uma de 20), partem para um mais jovem, achando que a juventude vai se deslumbrar com seu charme, seu glamour e sua sabedoria. Afinal, se pode um homem de 60 com uma garota de 20, por que não o contrário? Por que não?
Bem, não é exatamente por aí, mas apenas uma questão de saber o que a humanidade inteira sabe -menos as que acham que homens e mulheres são iguais: não só que esse romance vai acabar (e até aí tudo bem, muitos acabam), ou um belo dia ela vai descobrir que ele é gay (coisa que nem ele sabia) e que tinha por ela aquele amor de gay pela mãe. Duro vai ser o tamanho -e sobretudo a qualidade- do sofrimento que ela vai ter. Porque poder pode tudo, mas sabendo, e com uma única condição: não se apaixonar.
Existem diversas maneiras de encarar o tempo: muitos vão para o campo ficar mais próximos da natureza, outros viram budistas, alguns juntam um dinheirinho e mudam de país, uns passam a beber três uísques por dia, regularmente, uns vêem televisão, uns jogam biriba, uns contam histórias do passado e usam muito a expressão "no meu tempo", outros andam na praia para manter a forma, enfim: cada um inventa uma maneira. Mas qual seria a melhor solução? Manter um casamento morno, privilegiando as qualidades do parceiro e não olhando seus defeitos, para não envelhecer sozinha, ou chutar o balde e ir à luta, achando que vai achar esse homem idealizado, mas se arriscando a não encontrar ninguém e passar o resto da vida sozinha? Qualquer que seja a escolha, lá um dia vai se pegar pensando se fez a melhor coisa ou não, e muitas vezes vai se arrepender do rumo que deu à sua vida. Porque não se tem certeza absoluta de nada, e garantias, menos ainda. Fazer o quê, então? Não sei; cada um é responsável por suas escolhas, mas, como tudo tem seu preço, um dia a conta vai chegar.
Não adianta se iludir, a vida é assim mesmo. Quando se é criança, só se recebe: se recebe tudo, de todas as pessoas. Quando se é jovem, também, só que não de todos. O tempo vai passando e começa-se a dividir tudo, inclusive as contas. Mais tarde, todos os problemas -e só os problemas- caem no seu colo,e você passa a viver para dar compreensão, carinho, ombro, conselhos que não serão jamais seguidos, quebrar os galhos e pagar as contas, é claro.
E não passa pela cabeça de ninguém o quanto você às vezes precisa de compreensão, de carinho, de um ombro, de um conselho, de quem te ouça, de quem te chame para jantar.
E nem precisa pagar a conta: isso é o de menos.

E-mail - danuza.leao@uol.com.br


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