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Choques mataram garoto detido pela polícia
Carlos Rodrigues Júnior, 15, morreu na madrugada de sábado, no interior de São Paulo, vítima de tortura, afirma IML
6 policiais foram presos em flagrante; os PMs abordaram o adolescente, na casa dele, por suspeitar que o garoto havia roubado uma moto
TALITA BEDINELLI
DA AGÊNCIA FOLHA
O adolescente Carlos Rodrigues Júnior, 15, morto na madrugada de sábado em Bauru
(343 km de São Paulo) depois
de ser abordado por policiais
militares que suspeitavam que
ele havia roubado uma moto,
morreu vítima de tortura com
choques elétricos. A informação é do diretor do IML (Instituto Médico Legal) da cidade,
Ivan Edson Rodrigues Segura.
Um fio desencapado, que pode ter sido usado na tortura, foi
apreendido com um policial
suspeito de envolvimento no
homicídio do garoto.
Rodrigues Júnior foi abordado por seis PMs por volta das
4h20 de sábado em sua casa, no
núcleo habitacional Mary Dota.
Segundo a Polícia Militar, ele
era suspeito de ter roubado
uma moto na noite de sexta.
Durante a vistoria policial, o garoto foi agredido e desmaiou.
Depois, foi levado ao hospital,
mas não resistiu.
Durante a vistoria policial, o
tenente Roger Marcel Vitiver
Soares de Souza, 31, segundo
depoimento, disse que apenas
dois PMs estavam no quarto do
garoto quando ele desmaiou e
que deu voz de prisão a eles.
O comando da PM, no entanto, determinou a prisão dos
seis. "Todos os policiais tiveram indícios de participação",
diz o comandante do 4º Batalhão de Polícia Militar do Interior, tenente-coronel José
Humberto Nardo. "A versão do
tenente não teve consistência."
O laudo do IML de Bauru,
que será divulgado hoje, aponta
que o corpo de Rodrigues Júnior apresenta queimaduras
por choques elétricos.
De acordo com o diretor do
órgão, que adiantou o resultado
à Folha, uma corrente elétrica
atingiu o coração do menino, o
que causou sua morte. Segura
não informou quantos foram
os choques nem em que parte
do corpo foram dados.
Ele afirmou ainda que há indícios de outras agressões, mas
não especificou quais.
Os seis policiais foram presos em flagrante por suspeita
de homicídio. Eles estão no
presídio militar Romão Gomes,
em São Paulo.
Segundo Nardo, a Polícia Civil deverá abrir um inquérito
para investigar o caso, que também deverá ser acompanhado
por três advogados da Comissão de Direitos Humanos da
OAB (Ordem dos Advogados
do Brasil) de Bauru.
No sábado, um dos policiais
presos entregou ao tenente-coronel Nardo um artefato que
poderia produzir choques elétricos e estava em poder de um
outro PM, também preso.
Segundo o comandante, ele
era composto por um fio de um
aparelho eletrônico comum
desencapado de um dos lados e
com um plugue para ser encaixado na tomada de outro. O objeto foi encaminhado para o
Instituto de Criminalística de
Bauru. Os testes deverão apontar se ele poderia produzir as
lesões no corpo do garoto.
O ouvidor das polícias do Estado de São Paulo, Antonio Funari Filho, afirmou ontem que
já houve um caso de abuso policial investigado neste ano no
mesmo bairro em que o adolescente foi morto.
Na noite de sábado, um grupo de cerca de cem moradores
fez um protesto pela morte do
adolescente. Segundo a polícia,
eles queimaram pneus e quebraram orelhões e placas.
Com a colaboração de BRUNO MESTRINELLI ,
para a Agência Folha, em Bauru
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