São Paulo, sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

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BARBARA GANCIA

Moe, Larry e Dilma


Quem vai dizer ao chinês que acabou de entrar no mercado de consumo que ele não pode comer um bife?

VIRADA PARA A LUA , a nossa Dilma. Depois que abriu a boca lá na Conferência do Clima, em Copenhague, a platéia deve ter se perguntado se o Moe e o Larry seriam os próximos a falar ou se tinham ficado no hotel descansando.
Mas as patetadas emitidas pela nossa representante no reino da Dinamarca, por sorte, acabaram ficando em segundo plano diante do fracasso generalizado em que resultou o encontro sobre o ambiente.
E poderia ser diferente? De que adianta reunir os países industrializados num convescote para discutir a salvação do planeta quando eles partem da premissa errada e jogam a culpa por todos os problemas ambientais nas costas da emissão de gases na atmosfera?
Veja: não sou daquelas capitalistas furiosas que negam a existência de um elo entre a emissão de CO2 e as mudanças climáticas. Ao contrário.
A despeito dos golpistas de plantão, do bla-bla-blá ideológico que tenta demonizar o consumo e a grande indústria e da fragilidade nos argumentos apresentados pelo Al Gore, tendo, até por ser uma romântica incorrigível, a acreditar naqueles estudos todos que indicam que a ação inescrupulosa do homem irá banir do planeta o urso polar, o panda, a baleia orca e outros xodós.
Ocorre que o urso polar e companhia estão mais ameaçados pelo chinês que ascendeu recentemente à classe média do que pela grande indústria que cospe gases tóxicos no ar ou polui os rios com dejetos que vão parar no mar.
Vamos ser claros: há gente demais no planeta. E não faz sentido ficar perdendo tempo com amenidades em Copenhague quando sabemos que a renda dos habitantes dos países do Bric (Brasil, Rússia, Índia e China) está subindo, o consumo no mundo crescendo, o preço das commodities indo às alturas e o ser humano, durando cem anos.
Alguém vai conseguir conter a vontade do chinês que acabou de entrar no mercado de consumo de comer um belo de um bife? Será que, se a gente deixasse de emitir dióxido de carbono na atmosfera hoje, cessaria a depredação e a imundície causada pelo excesso de gente que já existe no planeta?
Por coincidência, enquanto o povo lá em Copenhague perdia tempo produzindo dejetos mentais, morria nos EUA o economista Paul Samuelson, o homem que levou os fundamentos de Keynes à America, uma contribuição que, segundo seu colega Paul Krugman, "agora parece ser mais relevante do que nunca".
Samuelson pregava a ideia de que governos democráticos devem abordar os problemas que os mercados não conseguem resolver -contê-los, por exemplo.
Pois, se a ministra Dilma Rousseff realmente quisesse ter colocado o Brasil numa posição de vanguarda na questão ambiental, ela poderia ter evocado Samuelson e tido a ousadia de falar em contenção de consumo, em aumento de produtividade agrícola e na diminuição das fronteiras plantadas.
Que me desculpem os "quakers" antitransgênicos, mas o único caminho para o progresso é o do aprimoramento da biotecnologia. Vale lembrar que, nos anos 1930, o "breakfast" americano custava sete vezes mais do que hoje. E que foram a adubação e os defensivos agrícolas que causaram a revolução que colocou comida na mesa de todos os norte-americanos.

barbara@uol.com.br

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