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AÇÕES AFIRMATIVAS
Em segundo lugar nos projetos que visam reduzir a desigualdade estão as áreas de trabalho e renda
Educação concentra iniciativas para negros
FERNANDA DA ESCÓSSIA
DA SUCURSAL DO RIO
Maior exemplo da desigualdade
racial no Brasil, a educação concentra 44,2% das iniciativas de
ação afirmativa para negros no
país. Ação afirmativa é qualquer
política pública ou privada criada
com o objetivo de reduzir desigualdades, como de gênero e cor.
Dados do Afro (Centro de Estudos Afro-Brasileiros) da Universidade Candido Mendes e informações obtidas pela Folha em outras
instituições contabilizam a existência, desde 1999, de pelo menos
208 iniciativas governamentais e
não-governamentais de ação afirmativa para negros.
Foram consultados, além do
Afro, o Ceris (Centro de Estatística Religiosa e Investigações Sociais), órgão ligado à Igreja Católica, a Fundação Ford, o Ministério
da Educação, universidades e
ONGs. A Seppir (Secretaria Especial de Políticas de Promoção da
Igualdade Racial), criada no ano
passado para implementar políticas anti-racismo, não tem uma
listagem das ações afirmativas desenvolvidas no país.
Não há dados consolidados sobre os anos anteriores, mas especialistas, governo e ONGs apontam um aumento das ações afirmativas depois da Conferência
das Nações Unidas contra o Racismo, a Discriminação, a Xenofobia e a Intolerância Correlata,
realizada em setembro de 2001
em Durban, na África do Sul.
Em segundo lugar nas iniciativas de ação afirmativa para negros, estão as de geração de trabalho e renda (18,7% do total). Projetos mistos de educação e trabalho representam 1,7%. Também
existem iniciativas nas áreas de
direitos humanos (13,3%), informação (7,2%), cultura (5,5%) e legislação (4,5%), entre outras.
As ONGs são as principais promotoras das ações, coordenando
36,5% dos programas. Um quarto
dos projetos é de iniciativa governamental (União, Estados e municípios), e parcerias entre governo e ONGs promovem 9,1% deles.
Também têm se multiplicado as
iniciativas em universidades,
muitas das quais públicas. O programa Políticas da Cor, do Laboratório de Políticas Públicas da
Uerj (Universidade do Estado do
Rio de Janeiro), com apoio da
Fundação Ford, financia outros
27 projetos de ação afirmativa no
ensino superior, sendo 17 em universidades. Há ainda projetos de
sindicatos, partidos e empresas.
Para a coordenadora do Afro,
Rosana Heringer, as ONGs provocaram a proliferação de ações
afirmativas, mas, nos últimos
anos, os governos aumentaram
sua participação, e as políticas públicas precisam ser ampliadas.
Entre as iniciativas há cooperativas de trabalho, grupos culturais, bolsas para estudantes negros -como as oferecidas pela
Fundação Ford e pelo Instituto
Rio Branco-, cursinhos pré-vestibulares, passando por campanhas de esclarecimento e legislação sobre o assunto.
"As iniciativas cresceram. Isso é
um avanço. Mas ainda há grande
demanda por ações afirmativas,
principalmente no ensino superior", afirmou Heringer, que fará
uma pesquisa analisando os resultados das ações afirmativas para ver o que foi implementado e o
que não prosperou.
No segundo caso está, na avaliação dela, o decreto 4.228, de maio
de 2002, que determinava o estabelecimento de metas para aumentar a proporção de negros
nos cargos da administração pública e nunca foi regulamentado.
Alguns órgãos federais, como o
STF (Supremo Tribunal Federal)
e os ministérios da Justiça e do
Desenvolvimento Agrário, implementaram portarias determinando reserva de vagas para contratar
servidores negros.
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