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CRIMES INVISÍVEIS
Saulo nega irregularidades em boletins de ocorrência; Ministério Público quer analisar dados
Secretário promete retificar estatística de crime com morte
GILMAR PENTEADO
ALEXANDRE HISAYASU
DA REPORTAGEM LOCAL
Apesar de negar a existência de
distorções nas estatísticas criminais, o secretário da Segurança
Pública de São Paulo, Saulo de
Castro Abreu Filho, afirmou ontem que vai modificar as regras
para a organização dos dados de
crimes com morte.
Anteontem, a Folha publicou 14
boletins de ocorrência registrados
como morte a esclarecer e encontro de cadáver que apresentavam
indícios claros de homicídio doloso (com intenção), segundo análise de especialistas e da Ouvidoria
da Polícia. Com isso, esses casos
ficam de fora das estatísticas oficiais de homicídios. No mesmo
dia, o procurador-geral de Justiça
de São Paulo, Rodrigo Cesar Rebello Pinho, determinou que dois
grupos do Ministério Público investiguem o caso.
O secretário disse que a mudança na metodologia, que hoje usa o
boletim de ocorrência como base
para estatísticas finais, vai vigorar
a partir de agora. Segundo ele, a
intenção é comparar a natureza
registrada inicialmente no boletim com o resultado do inquérito
policial (quando a investigação da
polícia já foi encerrada).
Se houver uma mudança
-uma morte a esclarecer cujo inquérito apurou que era homicídio
doloso, por exemplo-, uma retificação será incluída nas estatísticas criminais.
"Teremos um levantamento trimestral, depois semestral e, por
fim, um anuário, que vamos publicar em anexo. Lá constará que
tantos casos de morte a esclarecer
se transformaram em latrocínio,
em lesão corporal seguida de
morte, em suicídio e em homicídio", afirmou o secretário.
Abreu negou que homicídios
dolosos estejam sendo registrados como morte a esclarecer ou
encontro de cadáver. "Os casos de
morte a esclarecer estão estáveis
desde 2002, com média de 4.200
por ano", afirmou. Nos primeiros
nove meses de 2004, o Estado registrou 6.855 homicídios intencionais, o menor índice do período em pelo menos dez anos.
Mesmo não admitindo que os
casos apontados pela Folha apresentem erros, Abreu Filho disse
que a mudança vai tornar as estatísticas mais reais. "É um erro para nós mesmos a polícia não retificar as estatísticas. Porque eu fico
com duas situações de crime, uma
morte a esclarecer e um homicídio esclarecido (que partiu do boletim de morte a esclarecer), onde
o acusado está até cumprindo pena. Fico com o homicídio e com a
morte, o que é um erro", disse.
Em seguida, o secretário minimizou a conseqüência desse erro.
"Quanto é esse erro? De 3% a 4%.
Estatisticamente é um número
desprezível para o trabalho da polícia. Não é desprezível quando se
pega um caso concreto."
Em 2001, quando denúncias
também apontaram para problemas no preenchimento de boletins de ocorrência, a Secretaria da
Segurança Pública de São Paulo
-então sob a chefia de Marco Vinicio Petrelluzzi- negou irregularidades e prometeu uma medida burocrática para aumentar a
credibilidade de suas estatísticas.
Uma resolução publicada pela
secretaria criou um conselho de
acompanhamento das estatísticas
criminais, formado por entidades
de pesquisa. Só que, segundo as
próprias entidades, o conselho
não saiu do papel porque o governo não colocou a idéia em prática
nos meses seguintes. Segundo o
governo, foi o próprio conselho
que se desarticulou.
Ontem, o Gecep (Grupo de
Atuação Especial e Controle Externo da Atividade Policial)
-que investiga o caso, assim como a Promotoria da Cidadania -
decidiu que vai pedir à secretaria
os boletins de morte a esclarecer e
encontro de cadáver registrados
em 2004. O objetivo é apurar se há
outros casos que apresentem erros nos registros que resultam em
distorções nas estatísticas de homicídio. "Somente a análise de todos os casos dirá se os BOs foram
lavrados erroneamente. A partir
desses dados, vamos investigar se
as falhas foram ocasionais ou se
houve intenção de maquiar as estatísticas de homicídio", disse o
promotor Fábio Bueno.
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