São Paulo, quinta-feira, 19 de janeiro de 2006

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EDUCAÇÃO

Legislação ampliou o ensino fundamental de oito para nove anos, mas, na prática, medida não traz alteração pedagógica

Mudança em séries confunde pais e alunos

FÁBIO TAKAHASHI
DA REPORTAGEM LOCAL

A mudança da legislação que aumentou de oito anos para nove anos o ensino fundamental está causando confusão entre pais de estudantes das escolas particulares de São Paulo.
Alguns colégios estão avisando os pais que seus filhos "pularam" uma série. A medida, porém, não traz mudanças pedagógicas -é apenas de nomenclatura.
A confusão ocorre porque uma lei aprovada pelo Congresso no ano passado -e sancionada pelo governo Lula- prevê que a criança com seis anos deve estar no primeiro ano do ensino fundamental, e não mais no infantil. Na prática, a antiga pré-escola passa a ser a primeira série. O ensino fundamental, que terminava no oitavo ano, acabará no nono.
O maior impacto da medida ocorrerá nas redes públicas do país, pois a pré-escola será obrigatória -hoje, é só um direito.
A mudança, porém, ainda não é obrigatória em São Paulo. Isso porque essa lei não ampliou o tempo de duração do ensino fundamental de oito para nove anos. Ou seja, os estudantes poderiam perder um ano ao final do ciclo.
Para corrigir isso, o governo Lula enviou ao Legislativo um novo texto, com a ampliação do ensino fundamental. Como a matéria ainda não foi aprovada pelo Senado, ficou a cargo dos conselhos estaduais decidir o que fazer até que haja uma definição final.
O conselho de São Paulo decidiu que os alunos de seis anos poderiam ser matriculados tanto no último ano do ensino infantil quanto no primeiro do fundamental -a rede pública resolveu não fazer a mudança.
As escolas que vêm avisando os pais que seus filhos "saltaram" um ano são as que aderiram à lei. Esse foi o caso da relações-públicas Elisângela Domingueti, 32. Ela foi avisada pelo colégio Albert Einstein (na zona sul de São Paulo) de que sua filha Mariana, 6, pularia do pré para o segundo ano. "Uma amiga me disse que haveria mudança, mas não sabia direito o que era", diz ela. "Pouco depois, o colégio mandou uma carta e nos chamou para uma reunião para dizer que, na prática, nada mudava. O conteúdo será igual ao da primeira série."
Como as escolas particulares paulistas puderam escolher se aderiam ou não ao sistema, neste ano alunos da mesma idade poderão estar em séries diferentes.
"Imagina a confusão? Em uma escola, meu filho está na segunda série. Em outra, na terceira", diz o diretor do Sieeesp (sindicato das escolas particulares do Estado) Roberto Prado. "Qual a diferença? Nenhuma, é só nomenclatura. O conteúdo é o mesmo."
Como não há definição do plano pedagógico para a mudança, o conselho estadual indicou que a primeira série com alunos de seis anos, em 2006, seja igual à pré-escola. "Em educação, nada pode ser brusco", diz o presidente do órgão, Marcos Monteiro.
Se por um lado não haverá mudanças pedagógicas, por outro haverá confusão de nomes.
Algumas escolas, como a Albert Einstein, já fizeram a adequação ao novo sistema, por isso houve o "salto". Em outras, as crianças de seis anos estarão na pré-escola neste ano e apenas em 2007 haverá o "pulo". "Queremos mudar o modelo pedagógico do pré. Resolvemos esperar", diz a diretora do colégio Santa Maria (na zona sul de São Paulo), Anne Hoe.
Há ainda as escolas que não mudarão a nomenclatura para os alunos que entraram até este ano. Com isso, haverá, por exemplo, criança na segunda série no sistema de oito anos e na segunda série no sistema de nove anos -a primeira estará um ano à frente.


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