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Caixão de luxo do operário não cabia no jazigo
LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL
Morto sob 38 metros de terra
no desabamento da estação Pinheiros do metrô, o motorista
de caminhão Francisco Sabino
Torres, 47, transportava 30 mil
kg de terra todos os dias no caminhão Mercedes-Benz 2638
que pilotava a serviço do Consórcio Via Amarela. Ele teve de
enfrentar a terra de novo na hora do enterro.
Velório realizado em sua casa, na rua Santa Terezinha, Vila
Guilherme, bairro de Francisco
Morato, Grande São Paulo, o
féretro estava marcado para
sair ontem às 9h em direção ao
cemitério da Alegria. Não deu.
Nessa hora, sob chuva, a rua
de terra era lama intransitável.
O carro da funerária desistiu.
Cerca de 20 operários do consórcio, que foram ao enterro,
ofereceram-se para carregar o
caixão nas costas -ladeira acima, 200 metros até o asfalto.
Câmeras de TVs ao vivo, a
prefeita Andréa Pelizari
(PSDB) mandou um trator jogar brita para estabilizar o terreno. O carro funerário conseguiu sair às 11h, sob aplausos de
colegas, vizinhos e familiares.
No cemitério, outro problema: os jazigos foram construídos na medida padrão das urnas mortuárias populares. O
caixão do motorista Torres era
especial, de luxo, pago pelo
Consórcio Via Amarela. Resultado: não cabia no retângulo
concretado. Demorou. A solução foi enfiá-lo de lado.
O secretário estadual de Justiça, Luiz Antonio Marrey, que
fora levar conforto aos familiares, não esperou. O corpo ainda
estava encalacrado e o helicóptero da PM com Marrey a bordo sobrevoou o campo santo,
voltando para São Paulo.
Pais de três filhos (Kelly, 19,
Adilson, 16, e Danilo, 15), marido de Maria Sinhazinha Torres,
o motorista era líder comunitário. Passou os últimos 20 anos,
tempo de moradia em Francisco Morato, lutando por asfalto.
Não deu tempo. Francisco Morato, 200 mil habitantes, só
uma indústria instalada, é cidade-dormitório dona dos piores
indicadores sociais do Estado.
De 1.500 ruas, apenas 400 são
pavimentadas. O resto é terra.
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