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Em média, professor da rede pública ganha mais que da particular
Sistema público de educação fundamental e superior tem salários maiores, diz instituto; rede particular só "vence" no ensino médio
Explicações de educadores vão da grande diferença salarial entre as escolas privadas à desigualdade entre os Estados
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
FÁBIO TAKAHASHI
DA REPORTAGEM LOCAL
Os professores da educação
fundamental das escolas públicas (estadual e municipal) do
país ganham, em média, mais
do que os da rede particular.
Os docentes de 1ª a 4ª série (o
antigo primário) das escolas estaduais têm um rendimento
mensal médio de R$ 1.398, ante
R$ 1.051 das municipais e R$
1.048 das particulares.
A constatação está presente
em tabulações da Pnad 2006
(Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, do IBGE) feitas por Simon Schwartzman,
ex-presidente do IBGE e atual
presidente do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade.
Dados do Ministério do Trabalho confirmam o panorama.
A rede pública paga mais
também na 5ª a 8ª (antigo ginásio) e da educação superior.
No antigo ginásio, a média no
sistema estadual é de R$ 1.347,
contra R$ 1.120 na particular
-a municipal paga R$ 1.230.
O sistema particular só oferece salários maiores no ensino
médio (antigo colegial) -veja
mais em quadro ao lado.
A lógica se mantém mesmo
quando se simula que todos os
educadores do país tivessem a
mesma jornada.
Uma das explicações para
que a média na rede particular
seja mais baixa é sua heterogeneidade. Na capital paulista,
por exemplo, há escolas de regiões mais pobres em que os salários não chegam a R$ 700, enquanto outras escolas de ponta,
como o Santa Cruz (em Pinheiros), pagam mais de R$ 8.000.
Essa diferença salarial entre
os colégios reflete na qualidade
de ensino no setor privado.
As médias no Enem (Exame
Nacional do Ensino Médio) entre as dez escolas particulares
de São Paulo de melhor salário
variam de 68 a 58, numa escala
de 0 a 100. Entre as dez com
piores salários, a variação é de
47 a 56. O ranking de rendimentos foi feito pelo sindicato
dos professores da rede particular no ano passado.
A oscilação salarial não costuma ter tanto impacto nas redes públicas. No sistema estadual de São Paulo, por exemplo,
a diferença entre o piso e o teto
da 1ª a 4ª séries é de 92,3%.
A grande diferença entre os
Estados também ajuda a explicar as baixas médias. O cruzamento dos dados da Pnad 2006
com o Censo dos Profissionais
do Magistério da Educação Básica, feito em 2003 pelo MEC,
aponta que os salários da rede
privada no Nordeste puxam a
média nacional para baixo.
Em Sergipe, por exemplo, a
rede particular pagava R$ 410,
contra R$ 628 da pública.
Naquele ano, as redes privadas do Distrito Federal e de São
Paulo pagavam uma média superior a R$ 1.200.
Análises
Pesquisadores apresentaram
diferentes análises e explicações para o setor público pagar
mais que a rede particular.
Para Samuel Pessoa, professor da FGV-RJ que estuda os
rendimentos dos docentes, "a
carreira de professor da rede
pública não é tão ruim como
afirmam". Schwartzman complementa: "Não é à toa que todos que podem tratam de conseguir um emprego público".
A análise do pesquisador da
USP-Ribeirão Preto José Marcelino Rezende Pinto, ex-diretor do Inep (instituto de pesquisas do MEC), é diferente.
"Independentemente da diferença entre público e privado,
os professores no país ganham
mal" (leia mais nesta página).
O assessor especial da Unesco no Brasil, Célio da Cunha,
diz que a média esconde diferenças regionais. "Há redes públicas próximas ao adequado.
Outras pagam mal. O mesmo
ocorre na rede privada."
A coordenadora da Contee
(entidade que representa os
professores do ensino particular do país), Madalena Guasco
Peixoto, afirma que os salários
da rede privada são mais baixos
no ensino fundamental porque,
nesse nível de ensino, quase toda a população já foi atendida.
"A presença do setor público
é muito forte e, por isso, as escolas não precisam disputar
alunos. Oferecem apenas o básico do básico", disse.
"No médio, como ainda há
muita gente fora da escola, elas
precisam brigar pelos estudantes. Assim, pagam melhor",
completou Peixoto, que é pesquisadora da PUC-SP.
Uma explicação possível,
afirma o presidente da Fenep
(federação das escolas particulares do país), José Augusto
Lourenço, é que incentivos tributários oferecidos a partir da
década de 90 (o Simples) estimularam a abertura de escolas
de pequeno porte, que têm menos condições de pagarem salários melhores. "Isso mostra que
também há escolas particulares com baixa qualidade."
Para a presidente da CNTE
(entidade que representa professores da rede pública), Juçara Dutra Vieira, "os dados
apontam mais para um agravamento na rede privada do que
uma situação ideal na pública".
Rais
Além da Pnad, a Rais (Relação Anual de Informações Sociais), do Ministério do Trabalho, também aponta que a rede
pública paga mais.
Com base em 2006, o trabalho mostra que a média salarial
dos docentes dos ensinos infantil e fundamental na rede federal era de R$ 5.640; na rede
estadual, R$ 1.656; na particular sem fins lucrativos, R$ 1.431;
e na particular com fins lucrativos, R$ 740 -as divisões são diferentes das da Pnad.
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