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TRANSPORTES
Procuradoria quer que prefeitura explique que providências adotou em relação a acordos trabalhistas ilegais
Funcionário da SPTrans avalizou fraude
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL
Acertos trabalhistas entre condutores e empresas de ônibus
considerados fraudulentos por
procuradores federais e pela DRT
(Delegacia Regional do Trabalho)
de São Paulo foram avalizados e
até elogiados por um funcionário
da SPTrans, órgão da prefeitura
que cuida do transporte coletivo.
Esses acordos feitos desde 2003
estabeleceram a demissão de motoristas e cobradores, que seriam
readmitidos em viações abertas
com nomes diferentes se abrissem mão da multa de 40% do
FGTS e aceitassem um parcelamento das verbas rescisórias, numa estratégia para "limpar" as
pendências trabalhistas dos
maiores grupos -que, para participarem da última licitação,
criaram empresas "novas" (ao
menos a razão social), embora a
frota, os donos e os funcionários
sejam iguais aos das antigas, que
acumulam dívidas.
Num dos acertos, firmado em 6
de dezembro, a ata da reunião
aponta a presença de um funcionário da SPTrans como representante do órgão municipal. Ele assina os acertos e "parabeniza sindicatos e empresas pela forma como conduziram a negociação".
A assessoria da SPTrans confirmou que esse funcionário faz parte dos quadros da empresa, mas
diz que ele não estava autorizado
pela diretoria a participar de nenhuma reunião. A Folha não publica o nome dele por não ter conseguido localizá-lo ontem.
Ela não comenta oficialmente se
é favorável aos acordos entre viações e condutores, cuja investigação prosseguiu ontem com uma
blitz na garagem da Penha São
Miguel (atualmente denominada
de consórcio Plus), na zona leste,
do empresário José Ruas Vaz, líder do setor na capital paulista.
O presidente do sindicato dos
motoristas e cobradores, Luiz
Gonçalves, diz que a SPTrans "foi
parte efetiva" nas negociações, argumento que, para eles, reforça a
legitimidade do que foi acertado.
O procurador da República Sergio Suiama informou que pedirá à
prefeitura "informações sobre
quais providências foram adotadas" em relação à "fraude trabalhista perpetrada pelas empresas". Os acordos considerados ilegais por procuradores e por Heiguiberto Guiba Navarro, presidente da DRT, já foram assinados
por 8.000 dos 36 mil condutores.
"Eles não têm validade porque
lesam os trabalhadores", diz Guiba, para quem não se pode renunciar a direitos previstos pela lei.
O sindicato nega as irregularidades, argumenta que a adesão
não é obrigatória e que teve a intenção de evitar demissões. A entidade se diz perseguida desde
maio, quando diretores foram
presos acusados de forjar greves.
Na última segunda-feira, uma
força-tarefa formada por diversos
órgãos públicos, incluindo a Polícia Federal, apreendeu computadores e documentos na viação
Sambaíba. Ontem, na garagem da
Penha São Miguel, também houve a prisão do gerente da empresa,
Antonio Carlos Lourenço, que fazia a homologação dos acertos,
sendo acusado por crime contra a
organização do trabalho, estelionato e fraude a direito trabalhista.
O Ministério Público Federal
diz ter constatado que os trabalhadores demitidos eram readmitidos apenas informalmente e, para compensar os direitos não-pagos, a viação recomendava que os
empregados tentassem a obtenção do seguro-desemprego.
A Penha São Miguel foi procurada, mas seus funcionários diziam não conseguir encontrar os
donos. O sindicato das viações foi
contatado, mas não respondeu.
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