São Paulo, quinta-feira, 19 de fevereiro de 2004

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VIOLÊNCIA

Após fuga de 15, diretor de cadeia chamou Alckmin de "rei" e secretários de "príncipes'; perdeu o cargo no mesmo dia

Delegado é afastado ao criticar superlotação

DO "AGORA"

Indignado com a fuga de 15 dos 163 presos que se amontoavam nas celas da Cadeia Pública de Diadema (ABC), o diretor do local, delegado João Alves de Almeida, 45, criticou duramente, em entrevista à reportagem, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) e os secretários Saulo de Castro Abreu Filho (Segurança Pública) e Nagashi Furukawa (Administração Penitenciária).
Minutos depois de saber das declarações do delegado Almeida, Abreu Filho e o diretor do Demacro (Departamento de Polícia Judiciária da Macro São Paulo), Nelson Guimarães, chefes do delegado, afastaram-no do cargo de diretor da prisão e o passaram para um posto de assistente na delegacia seccional local. "Ele [Almeida] está muito estressado e foi injusto ao falar assim do doutor Saulo. Por isso, vai passar por um remanejamento administrativo. Não é uma punição", disse Guimarães.
Abreu Filho e Furukawa foram chamados pelo delegado Almeida de "príncipes"; Alckmin, de "rei". "Eles estão descumprindo uma decisão judicial. Por isso os classifico assim", afirmou Almeida.
Segundo o delegado, Alckmin, Abreu Filho e Furukawa "sentem-se semideuses" porque desde 17 de dezembro uma decisão judicial determinou que a cadeia fosse interditada por problemas graves, mas, mesmo assim, o local continua recebendo presos.
Os problemas na cadeia de Diadema são tantos que, há mais de seis meses, os presos circulam, dia e noite, pelo pátio interno e não são trancados nas celas -elas não têm mais grades, arrancadas durante rebeliões. Há também remendos nas paredes, e o chão ameaça afundar por causa dos túneis. Na fuga de ontem, os presos fizeram um buraco no teto. Nenhum foi recapturado.
O delegado conta que, quando consegue vaga em prisões do interior, enfrenta outra dificuldade: não tem dinheiro para o combustível dos carros que vão transferir os detentos nem para o almoço dos policiais da escolta.

"No prazo"
O secretário Saulo de Castro Abreu Filho não quis comentar as denúncias. A secretaria determinou que o diretor do Demacro, Nelson Guimarães, fizesse comentários. Ele disse que a polícia pretende desativar a cadeia até o prazo dado pela Justiça (17 de março), mas que "não tem como garantir que isso ocorrerá". "Ainda estamos dentro do prazo."
Quanto às denúncias de falta de verba para combustível e alimentação da escolta, ele as classificou de "mentirosas". A assessoria da Administração Penitenciária não respondeu às ligações do Agora.


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