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Mais que revitalizados,
blocos do Rio superlotam
Mesmo sem estrutura, desfile na rua oferece variedade
CECÍLIA GIANNETTI
ESPECIAL PARA A FOLHA
Graças à variedade de centenas de blocos, que se multiplicam a cada Carnaval, a festa nas
ruas do Rio está mais do que revitalizada: superlotou.
Movimento retomado mais
na zona sul do que na zona norte da cidade -origem do Carnaval tradicional- e mais distante das origens populares das
escolas de samba, o total de blocos pelas ruas do Rio já passa de
quatro centenas.
Na sexta, o tradicional Bloco
das Carmelitas, de Santa Teresa, antecipou o horário de saída, dando a largada por volta
das 16h, quando muita gente
ainda trabalhava. Assim, em
vez de livrar o desfile de foliões
non gratos, talvez tenha obtido
o efeito contrário. Era o que
analisava um "monge" que
acompanhava a bateria colado
a um muro numa das calçadas
estreitas do bairro, onde comentava com outro: "Este ano
tem muito infiel no bloco..."
O monge não estava alucinado por excesso de exposição ao
sol e à cerveja. Nem a turma de
adolescentes fantasiadas de
"Puliça", cassetetes e armas de
plástico no coldre -único policiamento à vista durante a passagem do bloco- conseguiu reprimir a ação de ladrões de celular e carteiras, que também
fizeram a festa no Escravos da
Mauá, na noite anterior. Fácil
roubar quando estão todos,
fiéis e infiéis, imprensados uns
contra os outros.
Tradição do sábado de Carnaval carioca, o Barbas comandado pelo barbudíssimo Nelson Rodrigues Filho -que deslocou para o Carnaval a obsessão quer herdou do pai dramaturgo- absorve os que acordaram cedo para o Bola Preta ou
para o Céu na Terra (mais um
sucesso de Santa Teresa, este
especializado em marchinhas
antigas, a que todos comparecem com fantasias completas).
O Barbas vem sempre com
dois sambas e, neste ano, colocou à disposição um carro-pipa
a mais para reforçar o banho
-uma de suas marcas registradas.
O refrão que mais fez sucesso
neste desfile -o mais fácil, é
claro- falava sobre o crescimento do buraco na camada de
ozônio, inversamente proporcional ao crescimento econômico do país: "O buraco lá de cima (cresceu!) / Caldeirão aqui
embaixo (Ferveu!) / Nesse jogo
nosso povo (Perdeu!) / E quem
paga esse pato (Sou eu!)".
A prefeitura deixa uma lacuna no quesito banheiros químicos. A organização do Barbas é
excelente, mas ainda não arranjou um jeito de fazer xixi em
lugar de seus foliões, que seguem batendo de bar em bar ao
longo do percurso do bloco, implorando para usar o banheiro.
Para quem acha que a concentração é o momento mais
importante do desfile e tem
preguiça de ir atrás do bloco, o
Concentra Mas Não Sai fecha a
rua Ipiranga, em Laranjeiras, e
faz seu Carnaval sem sair do
mesmo lugar.
Dentre os mais novos que fazem sucesso no boca-a-boca
por serem menos disputados e
pela originalidade está o Zoobloco. O primeiro canta apenas
músicas relacionadas a animais, valendo até "Bichos escrotos", dos Titãs, em ritmo de
samba.
No ano passado, o Zoobloco
encontrou-se com os foliões do
Se Melhorar Afunda, que também inova: o bloco vem de Niterói numa barca e desfila pelas
ruas do centro do Rio, orgulhoso de ser o primeiro bloco carnavalesco intermunicipal.
No caso de superlotação na
barca que traz os foliões, espera-se que não atirem o excedente ao mar.
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