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Mulheres disputam vaga de pedreiro nas obras do PAC
Elas já somam 40% do total de inscritos até agora para 4.600 vagas no Rio
Inscritas disputam ainda posto de marceneiro e de servente; obras serão feitas nas favelas do Alemão, de Manguinhos e na Rocinha
MÁRCIA BRASIL
DA SUCURSAL DO RIO
Mulheres já somam 40% dos
inscritos para trabalhar nas
obras do PAC (Programa de
Aceleração do Crescimento)
nas favelas do Alemão e de
Manguinhos (zona norte) e na
Rocinha (zona sul do Rio).
Até ontem, cerca de 7.000
pessoas já haviam se candidatado, entre elas 2.800 mulheres,
para as 4.600 vagas, de acordo
com números preliminares da
Secretaria de Estado de Trabalho e Renda. Dessas vagas, ao
menos 20% serão destinadas às
mulheres. Os salários variam
de R$ 600 a R$ 900.
O perfil das mulheres que se
candidataram às vagas do PAC
nas favelas, conforme dados da
secretaria, mostra que elas têm
entre 20 e 40 anos, três filhos
em média e completaram o ensino fundamental.
Muitas das mulheres dormiram em frente aos locais de inscrição e enfrentaram filas de
milhares de pessoas na tentativa de obter uma vaga de pedreiro, servente ou marceneiro.
Daniela Souza Ramos, 21,
tem seis filhos, mora na favela
de Manguinhos e seu maior desejo, afirma, é conseguir uma
"carteira assinada do PAC".
"Dormi aqui [na fila] porque
estou sem trabalho e sem marido há um ano e meio. Meu filho
caçula tem dois anos e sustento
as crianças com a ajuda de parentes e amigos. Quero ter a
minha carteira profissional assinada do PAC até como pedreira", diz Daniela.
A entregadora de jornal desempregada Nélia Cândida da
Silva, 38, moradora da Rocinha,
é mãe de quatro filhos, tem o
ensino fundamental completo
e diz que é capaz de desempenhar funções masculinas.
"Meu marido está trabalhando, mas o salário que eu ganhava até novembro, quando perdi
o emprego, está fazendo falta
demais. Na hora da inscrição,
avisei que topava trabalhar em
qualquer vaga. "Tô" dentro do
PAC!", declarou Nélia.
As mulheres empregadas na
construção civil no Brasil eram
apenas 2% da força de trabalho
no setor em 2006, segundo o
IBGE. Dos 349,3 mil ocupados
nessa atividade na região metropolitana do Rio, as mulheres
eram somente 6.997. Elas também tinham renda menor: de
R$ 610,84, em média, contra
R$ 773,42 dos homens.
Mas não são apenas as mulheres com baixo nível de escolaridade que se inscreveram
para trabalhar no PAC no Rio.
Segundo a Secretaria de Trabalho e Renda, as duas únicas
pessoas com nível superior que
se cadastraram no programa
até ontem eram mulheres com
formação em arquitetura.
Uma mora na Rocinha, e a
outra é do morro do Alemão,
que apresenta o maior número
de mulheres interessadas em
trabalhar nas obras.
O subsecretário estadual de
Trabalho, Ronaldo Paes Leme,
responsável pela coordenação
do trabalho de inscrição, afirma
que o interesse das mulheres
pelo trabalho operário surpreendeu depois de três dias de
cadastramento.
Para exercer as funções ditas
masculinas, as candidatas terão
de fazer um curso teórico e prático de dez dias. "Sendo aprovadas, as vagas são delas", afirmou o subsecretário.
As vagas nos setores administrativos, de cozinha e limpeza e de fiscalização poderão ser
preenchidos pelas mulheres de
acordo apenas com a escolaridade e a experiência.
O PAC é um programa federal com investimentos em área
social, infra-estrutura, urbanização e saneamento básico.
Nas favelas cariocas, após a
conclusão das obras, prevista
para 2010, o PAC visa melhorar
as áreas de transporte, lazer,
educação e saúde. As inscrições
vão até o dia 27 deste mês, e os
candidatos podem chegar a 20
mil pessoas, de acordo com a
Secretaria de Trabalho do Rio.
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