São Paulo, terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

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Mulheres disputam vaga de pedreiro nas obras do PAC

Elas já somam 40% do total de inscritos até agora para 4.600 vagas no Rio

Inscritas disputam ainda posto de marceneiro e de servente; obras serão feitas nas favelas do Alemão, de Manguinhos e na Rocinha

MÁRCIA BRASIL
DA SUCURSAL DO RIO

Mulheres já somam 40% dos inscritos para trabalhar nas obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) nas favelas do Alemão e de Manguinhos (zona norte) e na Rocinha (zona sul do Rio).
Até ontem, cerca de 7.000 pessoas já haviam se candidatado, entre elas 2.800 mulheres, para as 4.600 vagas, de acordo com números preliminares da Secretaria de Estado de Trabalho e Renda. Dessas vagas, ao menos 20% serão destinadas às mulheres. Os salários variam de R$ 600 a R$ 900.
O perfil das mulheres que se candidataram às vagas do PAC nas favelas, conforme dados da secretaria, mostra que elas têm entre 20 e 40 anos, três filhos em média e completaram o ensino fundamental.
Muitas das mulheres dormiram em frente aos locais de inscrição e enfrentaram filas de milhares de pessoas na tentativa de obter uma vaga de pedreiro, servente ou marceneiro.
Daniela Souza Ramos, 21, tem seis filhos, mora na favela de Manguinhos e seu maior desejo, afirma, é conseguir uma "carteira assinada do PAC".
"Dormi aqui [na fila] porque estou sem trabalho e sem marido há um ano e meio. Meu filho caçula tem dois anos e sustento as crianças com a ajuda de parentes e amigos. Quero ter a minha carteira profissional assinada do PAC até como pedreira", diz Daniela.
A entregadora de jornal desempregada Nélia Cândida da Silva, 38, moradora da Rocinha, é mãe de quatro filhos, tem o ensino fundamental completo e diz que é capaz de desempenhar funções masculinas.
"Meu marido está trabalhando, mas o salário que eu ganhava até novembro, quando perdi o emprego, está fazendo falta demais. Na hora da inscrição, avisei que topava trabalhar em qualquer vaga. "Tô" dentro do PAC!", declarou Nélia.
As mulheres empregadas na construção civil no Brasil eram apenas 2% da força de trabalho no setor em 2006, segundo o IBGE. Dos 349,3 mil ocupados nessa atividade na região metropolitana do Rio, as mulheres eram somente 6.997. Elas também tinham renda menor: de R$ 610,84, em média, contra R$ 773,42 dos homens.
Mas não são apenas as mulheres com baixo nível de escolaridade que se inscreveram para trabalhar no PAC no Rio.
Segundo a Secretaria de Trabalho e Renda, as duas únicas pessoas com nível superior que se cadastraram no programa até ontem eram mulheres com formação em arquitetura.
Uma mora na Rocinha, e a outra é do morro do Alemão, que apresenta o maior número de mulheres interessadas em trabalhar nas obras.
O subsecretário estadual de Trabalho, Ronaldo Paes Leme, responsável pela coordenação do trabalho de inscrição, afirma que o interesse das mulheres pelo trabalho operário surpreendeu depois de três dias de cadastramento.
Para exercer as funções ditas masculinas, as candidatas terão de fazer um curso teórico e prático de dez dias. "Sendo aprovadas, as vagas são delas", afirmou o subsecretário.
As vagas nos setores administrativos, de cozinha e limpeza e de fiscalização poderão ser preenchidos pelas mulheres de acordo apenas com a escolaridade e a experiência.
O PAC é um programa federal com investimentos em área social, infra-estrutura, urbanização e saneamento básico. Nas favelas cariocas, após a conclusão das obras, prevista para 2010, o PAC visa melhorar as áreas de transporte, lazer, educação e saúde. As inscrições vão até o dia 27 deste mês, e os candidatos podem chegar a 20 mil pessoas, de acordo com a Secretaria de Trabalho do Rio.


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