São Paulo, Sexta-feira, 19 de Fevereiro de 1999
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PRECAUÇÃO
Por causa da criminalidade na região, novas covas são abertas antes para não atrasar enterros
Cemitério em SP "antecipa" mortes

da Reportagem Local

Para dar conta de todos os enterros de vítimas da violência nos finais de semana realizados no Cemitério São Luiz, na zona sul de São Paulo, seus 14 coveiros abrem novas sepulturas durante a semana para não atrasar os enterros realizados aos sábados, domingos e segundas.
O cemitério atende à população de bairros pobres e de classe média baixa, como o Jardim Ângela.
O bairro está na área de atuação da Delegacia Seccional de Santo Amaro, que registrou 29 homicídios no Carnaval.
Entre o sábado de Carnaval e a Quarta-Feira de Cinzas (anteontem), segundo dados da administração do cemitério, 48 pessoas foram enterradas no São Luiz, 31 delas vítimas de causa mortis não-naturais, sendo 27 de homicídios e acidentes.
Segundo a administração do cemitério, 14 funcionários trabalham nos plantões realizados nos finais de semana.
Como nem todos são coveiros, se não houver sepulturas cavadas antecipadamente, funcionários de outras áreas do cemitério tem de ser deslocados para cavar sepulturas ou os enterros atrasam.
Durante os dias úteis, cada um dos 14 coveiros abre normalmente duas sepulturas, mas quando há pouco serviço, ele pode ser designado para abrir três ou mais.
Desta forma, ficam garantidas as covas para o fim-de-semana. A prioridade do São Luiz, segundo a administração, é sepultar.
"Com as covas abertas antecipadamente, os funcionários realizam apenas os sepultamentos e não precisam abrir novas covas, nem deslocar gente de outras áreas para o serviço", disse uma funcionária da administração que não quis se identificar.
A maioria das famílias que procura o São Luiz é pobre e não tem condições de contratar um velório no serviço funerário.
Quando um caixão chega ao cemitério, um parente do morto apresenta o atestado de óbito e já pode ir até o local onde estão as sepulturas.
O parente recebe uma tábua de madeira com o número da sepultura e o da quadra onde ocorre o sepultamento.
Dentre os atestados que a Folha examinou, é comum encontrar até quatro casos de sepultamentos marcados em um mesmo horário, em um só dia.
Cada família pode fazer orações e ficar próxima ao caixão numa área livre próxima por até 15 minutos. (MARCELO OLIVEIRA)


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