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São Paulo, quarta-feira, 19 de março de 2003

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JUSTIÇA SOB AMEAÇA

Bilhete interceptado na prisão de Avaré faria referência à morte de juiz de Presidente Prudente

Líder do PCC foi avisado de homicídio

ALESSANDRO SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL

Um bilhete apreendido na Penitenciária 1 de Avaré (262 km de São Paulo) colocou o atual ""número um" do PCC, o assaltante Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, na mira da investigação que apura o assassinato do juiz-corregedor de Presidente Prudente, Antonio José Machado Dias, 47, morto a tiros em uma emboscada na última sexta-feira.
""A caminhada já foi feita. O machado já era. É o caminho do câncer", diz trecho da mensagem que deveria ter chegado à cela de Marcola, anteontem, assinada pelo preso Mangue, como é conhecido o ""piloto" (líder) da facção em Avaré -o PCC tem um líder por presídio, todos subordinados à cúpula da organização criminosa.
O pedaço de papel foi interceptado por um agente penitenciário, conforme informou o jornal "Diário de S. Paulo" em sua edição de ontem, quando era lançado da janela de uma cela para outra, com a ajuda de uma linha. A P1 de Avaré tem 297 presos e funciona com regime disciplinar diferenciado, igual ao CRP (Centro de Readaptação Penitenciária) de Presidente Bernardes: as celas são individuais, o banho de sol é limitado e não há visitas íntimas.
A direção do presídio, promotores e policiais do caso deduzem que a mensagem faz referência à emboscada executada perto do fórum de Presidente Prudente, em que dois homens fecharam o carro do juiz e o balearam.
Ontem à noite, a polícia esteve na casa do diretor do presídio de Avaré para apreender o bilhete.
A Secretaria da Administração Penitenciária confirmou a interceptação da mensagem, mas não divulgou seu conteúdo. Segundo o órgão, o bilhete foi encaminhado às autoridades competentes.
Como prova, o bilhete não vale para afirmar que Marcola foi o mandante do crime, de acordo com o Ministério Público. Contudo a descoberta deverá direcionar a investigação para os contatos mantidos recentemente por Marcola dentro e fora da prisão.
A descoberta reforça ainda uma das hipóteses sobre o motivo do assassinato. Marcola e outros da cúpula do PCC teriam ficado irritados com uma decisão do juiz-corregedor Dias, que, no início deste ano, arquivou a sindicância em que se investigava a morte de dois presos do CRP de Bernardes: Marcelo Madureira, 30, e Rodrigo Leandro Paz, 24, encontrados enforcados em suas celas, em dezembro do ano passado, supostamente em dois suicídios registrados em uma semana.
Na época, familiares de presos chegaram a dizer que os dois se mataram após terem sido torturados. A direção da unidade, que mantém um sistema de câmeras vigiando funcionários e presos, negou ter havido agressões.
Um deles, Paz, estava isolado em uma cela de castigo por ter desacatado um funcionário.

Passos
O próprio Marcola deve ser ouvido agora sobre o assassinato do juiz-corregedor. Responsável por sete presídios na região de Presidente Prudente, incluindo o CRP de Bernardes, onde está a maior parte da cúpula do PCC e o traficante Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, Dias era conhecido como um juiz sério e duro ao julgar pedidos dos presos, o que pode ter atraído para ele a antipatia do PCC.
Ontem, a DIG (Delegacia de Investigações Gerais) de Presidente Prudente encontrou uma chácara, próximo à cidade, que pode ter abrigado a quadrilha que assassinou o juiz. Cinco carros e um caminhão, todos com placas de Campinas, permaneceram estacionados no local por quase uma semana, desaparecendo na sexta-feira - no dia do crime.
Coincidência ou não, um dos presos sob a competência do juiz é o sequestrador Wanderson Nilton de Paula Lima, o Andinho, que atuava em Campinas e que assumiu dar dinheiro ao PCC.
A polícia começa a analisar hoje fotografias de ex-presos em Presidente Bernardes e Presidente Prudente para ver se encontra alguém parecido com a dupla de assassinos, cujos retratos falados foram divulgados no final de semana.


Colaborou ANDRÉ CARAMANTE, do "Agora"


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