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São Paulo, quarta-feira, 19 de março de 2003

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Juiz sabia que era "a bola da vez"

DA AGÊNCIA FOLHA, EM PRESIDENTE PRUDENTE

A Promotoria de Justiça de Presidente Prudente e familiares do juiz-corregedor Antonio José Machado Dias, 47, disseram ontem que o magistrado, assassinado a tiros na última sexta-feira, sabia que era "a bola da vez" de facções criminosas espalhadas pelos presídios do extremo oeste de SP.
Em meados do ano passado, segundo familiares do juiz, uma blitz de rotina em um presídio da região encontrou um caderno com a seguinte anotação: "O sr. Machado [Dias] é a bola da vez".
No final de semana, policiais já haviam apreendido no gabinete do magistrado uma carta em que um preso o estaria ameaçando de morte. Os primeiros indícios, de acordo com os investigadores, são de que a carta teria partido de algum integrante do PCC.
Segundo o secretário estadual da Administração Penitenciária, Nagashi Furukawa, há cerca de seis meses, o juiz Dias havia comentado com ele que havia recebido ameaças. ""É uma coisa rotineira na nossa posição", afirmou, dizendo não ter mais falado sobre o assunto com Dias.
Além disso, o promotor de Justiça da cidade, Mário Coimbra, afirmou ontem que as ameaças recebidas por Dias nos últimos meses eram a sua "grande preocupação". No mês passado, por exemplo, houve tentativa de assalto à casa do juiz.
Apesar das ameaças, Dias dispensou a escolta da polícia na semana passada. "Pela função e pelo cargo que tinha, ele jamais poderia ter dispensado a escolta", disse ontem o segurança João Araújo, que nos últimos 13 anos acompanhava todos os dias o juiz assassinado de sua casa para o trabalho e vice-versa.
Até agora, passados cinco dias do assassinato de Dias, não há detidos nem sequer a revelação do motivo do crime.
Familiares do juiz cobraram ontem a promessa do governo do Estado de manter PMs de prontidão em frente à casa dele.
"Eles prometeram segurança 24 horas na porta de nossa casa, mas ninguém vê nenhuma viatura por aqui durante o dia ou à noite. Às vezes eles [os policiais] passam, mas logo vão embora", afirmou ontem Geraldo Escher, 52, pai da segunda mulher do juiz, a também juíza Cristina Escher.
Geraldo disse que sua filha quer "viver a dor" da perda do marido. "Ela não aceita remédio, não quer ver médicos e também não se alimenta. Ela quer apenas viver a dor", afirmou ele. Anteontem, por volta das 9h, Cristina saiu de sua casa sem ser vista e foi até o local do crime, onde se ajoelhou e chorou a morte do marido.
"Ela só dorme de cansaço. Tem chorado muito. Os familiares de São Paulo pediram que ela não falasse mais sobre o caso, pois todos já estão sofrendo demais", disse o sogro do juiz assassinado.
(EDUARDO SCOLESE)


Colaborou a SUCURSAL DE BRASÍLIA


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