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São Paulo, quarta-feira, 19 de março de 2003

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CAOS NO RIO

Segundo investigação, traficantes de morros ocupados dariam dinheiro para evitar repressão a comércio de drogas

Tráfico paga propina para PMs, diz polícia

MARIO HUGO MONKEN
DA SUCURSAL DO RIO

Investigações reservadas indicam que policiais militares receberiam propina de traficantes dos morros da Pedreira e da Lagartixa (Costa Barros, zona norte do Rio de Janeiro) para não reprimir o comércio de drogas no local.
Dois dos principais redutos de Paulo César Silva dos Santos, 31, o Linho, líder da facção criminosa TC (Terceiro Comando) e traficante mais procurado do Rio de Janeiro, os morros da Lagartixa e da Pedreira têm sido alvo de operações da polícia fluminense. Desde 27 de fevereiro, 13 supostos traficantes foram mortos na área, a maioria em ações da Polícia Civil.
A descoberta do suposto esquema de corrupção surgiu a partir de escutas telefônicas feitas pela Polícia Civil, com autorização judicial, em celulares de traficantes.
Segundo policiais da Delegacia de Roubos e Furtos de Cargas, encarregados da investigação, a propina seria paga a PMs que fazem o patrulhamento diário nas favelas, ligados ao batalhão de Rocha Miranda (zona norte). O valor pago seria de R$ 800 diários a cada carro da PM que faz ronda no local.
O conteúdo das gravações e o nome dos PMs não foram divulgados sob alegação de que poderia atrapalhar o trabalho policial.
As escutas telefônicas, iniciadas há cerca de seis meses, fazem parte de uma investigação para tentar capturar Linho.
Um policial que pediu para não ser identificado disse que não comunicou o fato ao comando do 9º Batalhão, onde trabalham os PMs, porque o trabalho não visa denunciar policiais, mas obter pistas do paradeiro do traficante.
Ele diz que o esquema existe desde o comando anterior do batalhão. Ou seja: a Polícia Civil saberia de um esquema de pagamento de propinas a PMs, mas não o investiga.
O comandante do 9º Batalhão, tenente-coronel Carlos Carrijo, disse não ter conhecimento do suposto pagamento de propinas e que não comentaria o caso. A Corregedoria Geral Unificada das polícias informou que requisitará as gravações para tentar identificar os envolvidos.
Apesar de os morros da Pedreira e da Lagartixa estarem ocupados pela PM, a Polícia Civil afirma que o tráfico local costuma faturar, diariamente, de R$ 20 mil a R$ 30 mil com a comercialização de cocaína e maconha.
Em janeiro, a Delegacia de Repressão a Entorpecentes apreendeu na Pedreira uma caderneta com a contabilidade do tráfico citando quantia reservada a PMs.
Ontem, sete supostos traficantes ligados à Amigo dos Amigos (ADA), facção aliada do Terceiro Comando de Linho, foram presos em Cabo Frio (litoral fluminense). Entre os presos está Alexandre da Silva, 24, o Cai-Cai, primo do traficante assassinado em 2002 Ernaldo Pinto de Medeiros, o Uê, até então líder da ADA.
Cai-Cai, segundo a polícia, era um dos chefes do tráfico na favela Pára-Pedro (Irajá, zona norte).


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