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SAÚDE INFANTIL
Entidade inglesa ensinará como operar bebês com problemas no coração com tecnologia e material disponíveis
Médico de área pobre do país será treinado
DA REPORTAGEM LOCAL
De cada mil bebês que nascem
no Brasil, entre seis e oito têm
problemas no coração. Muitos
deles, distantes dos grandes centros urbanos, não recebem atendimento médico e sequer têm a
oportunidade de passar por algum tipo tratamento ou cirurgia
cardíaca. Para tentar diminuir um
pouco o sofrimento das crianças e
dos pais, a organização inglesa
Chain of Hope -que realiza cirurgias cardíacas em países carentes - está vindo ao país treinar
médicos de regiões mais pobres a
fim de que eles possam dar assistência a esses pacientes com a tecnologia e o material que têm nas
mãos. Organizador da missão
brasileira, o cirurgião cardíaco
Babulal Sethia, 55, há seis na organização, conta à Folha, por e-mail, como será a ação.
Folha - Quando e onde o trabalho
começa?
Babulal Sethia - Neste mês, começamos a encontrar médicos
brasileiros para definir qual a melhor forma de ajudar as crianças
que precisam de cirurgias. A partir daí, decidiremos a data e o tamanho da equipe que irá ao Brasil. Começaremos operando em
um hospital em Belém.
Folha - Como será este trabalho?
Sethia -Primeiro vamos encontrar os médicos locais e conhecer
as necessidades das crianças nessa região do Brasil para saber qual
a melhor forma de dar assistência.
Nós queremos também fazer um
programa educacional com os
trabalhadores da área da saúde
porque, assim, as crianças poderão receber tratamento adequado
dos próprios brasileiros, sem precisar de suporte externo.
Folha - O senhor já tem informações sobre os principais problemas
cardíacos que atingem as crianças
brasileiras?
Sethia -Nós sabemos que há
muitas crianças com problemas
no coração com dificuldades no
acesso ao tratamento porque os
grandes centro médicos ficam
muito distantes dos locais onde
moram. Nós queremos ensinar os
médicos locais a identificar, principalmente, as doenças que precisam de cirurgias e a curá-las com
a tecnologia que têm à disposição.
Folha - A Chain of Hope já trabalhou em várias áreas da África e da
Ásia. Quais os principais problemas
nessas regiões?
Sethia -O principal problema,
além da falta de experiência médica e de enfermeiros treinados, é
adquirir equipamento técnico para investigar precisamente os problemas do coração e, conseqüentemente, realizar as operações.
Também falta experiência com
bebês bem novinhos e crianças
menores.
Folha - O senhor acha que no Brasil haverá um situação similar?
Sethia -Esperamos descobrir isto nesta primeira visita.
Folha - O senhor conduziu missões de cirurgias na Palestina. Como é trabalhar em regiões permanentemente em conflito?
Sethia - É um privilégio para
mim ajudar a desenvolver os serviços de atendimento cardíaco às
crianças palestinas. Eu estive lá
em quatro ocasiões e no ano passado conseguimos operar mais de
200 crianças com sucesso. Este
trabalho conta com equipes de
profissionais de cinco países e,
hoje, os médicos locais também
podem realizar sozinhos o trabalho. A situação política dificulta o
acesso das crianças aos hospitais
para tratamento e é muito triste
ver que muitas delas continuarão
a morrer por causa desta situação
até que seja encontrada uma solução para os conflitos.
Folha - Quantas crianças ficam
curadas após as cirurgias?
Sethia - A mortalidade de crianças que passam por cirurgias cardíacas é de menos de 5% no Reino
Unido. Mas é importante entender que os resultados dependem
muito da situação da criança
quando ela começa o tratamento.
Folha - Qual foi o caso mais complicado que o senhor já viu?
Sethia -Nós estamos preparados
para casos muito complexos uma
vez que estabelecemos boas relações com diversos grupos médicos e trocamos experiências. Com
recém-nascidos, por exemplo, é
preciso muito cuidados.
Folha - E qual foi a situação mais
emocionante?
Sethia - É sempre emocionante
ver a alegria das famílias quando
ajudamos uma criança sobreviver. Esta é a melhor parte do nosso trabalho e queremos ver essa
alegria também no Brasil.
(DANIELA TÓFOLI)
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