São Paulo, domingo, 19 de março de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SAÚDE INFANTIL

Entidade inglesa ensinará como operar bebês com problemas no coração com tecnologia e material disponíveis

Médico de área pobre do país será treinado

DA REPORTAGEM LOCAL

De cada mil bebês que nascem no Brasil, entre seis e oito têm problemas no coração. Muitos deles, distantes dos grandes centros urbanos, não recebem atendimento médico e sequer têm a oportunidade de passar por algum tipo tratamento ou cirurgia cardíaca. Para tentar diminuir um pouco o sofrimento das crianças e dos pais, a organização inglesa Chain of Hope -que realiza cirurgias cardíacas em países carentes - está vindo ao país treinar médicos de regiões mais pobres a fim de que eles possam dar assistência a esses pacientes com a tecnologia e o material que têm nas mãos. Organizador da missão brasileira, o cirurgião cardíaco Babulal Sethia, 55, há seis na organização, conta à Folha, por e-mail, como será a ação.

Folha - Quando e onde o trabalho começa?
Babulal Sethia -
Neste mês, começamos a encontrar médicos brasileiros para definir qual a melhor forma de ajudar as crianças que precisam de cirurgias. A partir daí, decidiremos a data e o tamanho da equipe que irá ao Brasil. Começaremos operando em um hospital em Belém.

Folha - Como será este trabalho?
Sethia -
Primeiro vamos encontrar os médicos locais e conhecer as necessidades das crianças nessa região do Brasil para saber qual a melhor forma de dar assistência. Nós queremos também fazer um programa educacional com os trabalhadores da área da saúde porque, assim, as crianças poderão receber tratamento adequado dos próprios brasileiros, sem precisar de suporte externo.

Folha - O senhor já tem informações sobre os principais problemas cardíacos que atingem as crianças brasileiras?
Sethia -
Nós sabemos que há muitas crianças com problemas no coração com dificuldades no acesso ao tratamento porque os grandes centro médicos ficam muito distantes dos locais onde moram. Nós queremos ensinar os médicos locais a identificar, principalmente, as doenças que precisam de cirurgias e a curá-las com a tecnologia que têm à disposição.

Folha - A Chain of Hope já trabalhou em várias áreas da África e da Ásia. Quais os principais problemas nessas regiões?
Sethia -
O principal problema, além da falta de experiência médica e de enfermeiros treinados, é adquirir equipamento técnico para investigar precisamente os problemas do coração e, conseqüentemente, realizar as operações. Também falta experiência com bebês bem novinhos e crianças menores.

Folha - O senhor acha que no Brasil haverá um situação similar?
Sethia -
Esperamos descobrir isto nesta primeira visita.

Folha - O senhor conduziu missões de cirurgias na Palestina. Como é trabalhar em regiões permanentemente em conflito?
Sethia -
É um privilégio para mim ajudar a desenvolver os serviços de atendimento cardíaco às crianças palestinas. Eu estive lá em quatro ocasiões e no ano passado conseguimos operar mais de 200 crianças com sucesso. Este trabalho conta com equipes de profissionais de cinco países e, hoje, os médicos locais também podem realizar sozinhos o trabalho. A situação política dificulta o acesso das crianças aos hospitais para tratamento e é muito triste ver que muitas delas continuarão a morrer por causa desta situação até que seja encontrada uma solução para os conflitos.

Folha - Quantas crianças ficam curadas após as cirurgias?
Sethia -
A mortalidade de crianças que passam por cirurgias cardíacas é de menos de 5% no Reino Unido. Mas é importante entender que os resultados dependem muito da situação da criança quando ela começa o tratamento.

Folha - Qual foi o caso mais complicado que o senhor já viu?
Sethia -
Nós estamos preparados para casos muito complexos uma vez que estabelecemos boas relações com diversos grupos médicos e trocamos experiências. Com recém-nascidos, por exemplo, é preciso muito cuidados.

Folha - E qual foi a situação mais emocionante?
Sethia -
É sempre emocionante ver a alegria das famílias quando ajudamos uma criança sobreviver. Esta é a melhor parte do nosso trabalho e queremos ver essa alegria também no Brasil.
(DANIELA TÓFOLI)


Texto Anterior: Frase
Próximo Texto: Frase
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.