São Paulo, domingo, 19 de março de 2006

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URBANISMO

Técnica conhecida como retrofit, que consiste em manter a fachada e mudar o interior do edifício, está em expansão em SP

Preço faz empresa optar por reformar prédio no centro

RICARDO GALLO
DA REPORTAGEM LOCAL

Atraídos pela boa localização e por imóveis mais baratos, empresários de São Paulo passaram a investir na recuperação de edifícios degradados no centro da cidade. O trabalho consiste na criação de um novo prédio por dentro, enquanto o aspecto externo, muitas vezes tombado, é preservado.
A técnica, conhecida como retrofit, está em expansão, na avaliação de empresas do setor imobiliário, especialistas em restauro e um acadêmico consultados pela Folha. Não há estatísticas sobre o assunto, mas estima-se que cerca de 50 prédios do centro tenham sido reformados por meio desse recurso nos últimos cinco anos -um terço deles de 2004 para cá.
A reforma substitui janelas, esquadrias, portas, escadas e elevadores dos prédios. Mantém intactos, apenas, os pisos e colunas dos prédios. "Por fora, continua um prédio antigo, e, por dentro, um prédio moderno", explica Dorival Bastos, proprietário de uma imobiliária no centro da cidade. "O retrofit tem algumas vantagens: você ganha tempo porque entra com alvará de reforma, e não de demolição e construção", afirma. "Além disso, no centro esses imóveis são antigos e foram construídos antes da atual lei de zoneamento. Então têm espaço construído de 20 vezes a área do terreno e, hoje, pela lei atual, só se pode construir um imóvel com quatro vezes o tamanho do terreno."
Localizado em frente ao edifício Itália, na avenida Ipiranga, o edifício São Bartholomeu é um dos exemplos do conceito. Construído em 1939 em estilo art déco e originalmente residencial, teve as divisões internas refeitas para abrigar sistemas computadorizados de ar-condicionado e dispositivos de prevenção e combate a incêndios. Por fora, a concepção arquitetônica original do edifício, de 11 andares, foi restaurada.
A reforma começou em 2004 e terminou em abril do ano passado. O custo, pago pela seguradora que passou a ocupar o local, não foi divulgado. A economia, segundo o gerente de marketing da seguradora, Marco Antonio Gonzaga, foi a principal vantagem. O aluguel de um prédio no centro custa, em média, R$ 20 por m2, apontam imobiliárias consultadas pela Folha. Na avenida Luiz Carlos Berrini, um dos mais nobres centros empresariais da cidade, o custo chega a R$ 70 por m2.
"Chegamos a avaliar um imóvel na Berrini, mas a reforma ficou 30% mais barata que um imóvel equivalente lá e, na folha de pagamento, a economia em vales-transporte foi de 22%", diz.
A empresa dele diz não ter se beneficiado de isenção fiscal, que pode chegar a dez anos de gratuidade no IPTU para obras em imóveis tombados que restaurem a fachada original. A obra precisa ser submetida ao Conpresp (conselho municipal de preservação do patrimônio) e ao Condephaat (conselho estadual). Há cerca de 900 imóveis tombados no centro, segundo o DPH (Departamento de Patrimônio Histórico). A Secretaria Municipal de Finanças informou que 411 imóveis se beneficiaram na área central.
O professor João Sette Whitaker, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP e integrante do LabHab (Laboratório de Habitação e Assentamentos Urbanos) da universidade, o conceito de "retrofitagem" ainda é incipiente no Brasil. "Aqui parece que ainda não há a cultura da reforma."
Para Francisco Zorzeto, diretor de uma empresa que trabalha com restauro e retrofit, o preço é 40% mais econômico que qualquer construção semelhante.


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