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URBANISMO
Técnica conhecida como retrofit, que consiste
em manter a fachada e mudar o interior do edifício, está
em expansão em SP
Preço faz empresa optar por reformar prédio no centro
RICARDO GALLO
DA REPORTAGEM LOCAL
Atraídos pela boa localização e
por imóveis mais baratos, empresários de São Paulo passaram a investir na recuperação de edifícios
degradados no centro da cidade.
O trabalho consiste na criação de
um novo prédio por dentro, enquanto o aspecto externo, muitas
vezes tombado, é preservado.
A técnica, conhecida como retrofit, está em expansão, na avaliação de empresas do setor imobiliário, especialistas em restauro
e um acadêmico consultados pela
Folha. Não há estatísticas sobre o
assunto, mas estima-se que cerca
de 50 prédios do centro tenham
sido reformados por meio desse
recurso nos últimos cinco anos
-um terço deles de 2004 para cá.
A reforma substitui janelas, esquadrias, portas, escadas e elevadores dos prédios. Mantém intactos, apenas, os pisos e colunas dos
prédios. "Por fora, continua um
prédio antigo, e, por dentro, um
prédio moderno", explica Dorival
Bastos, proprietário de uma imobiliária no centro da cidade. "O
retrofit tem algumas vantagens:
você ganha tempo porque entra
com alvará de reforma, e não de
demolição e construção", afirma.
"Além disso, no centro esses imóveis são antigos e foram construídos antes da atual lei de zoneamento. Então têm espaço construído de 20 vezes a área do terreno e, hoje, pela lei atual, só se pode
construir um imóvel com quatro
vezes o tamanho do terreno."
Localizado em frente ao edifício
Itália, na avenida Ipiranga, o edifício São Bartholomeu é um dos
exemplos do conceito. Construído em 1939 em estilo art déco e
originalmente residencial, teve as
divisões internas refeitas para
abrigar sistemas computadorizados de ar-condicionado e dispositivos de prevenção e combate a
incêndios. Por fora, a concepção
arquitetônica original do edifício,
de 11 andares, foi restaurada.
A reforma começou em 2004 e
terminou em abril do ano passado. O custo, pago pela seguradora
que passou a ocupar o local, não
foi divulgado. A economia, segundo o gerente de marketing da
seguradora, Marco Antonio Gonzaga, foi a principal vantagem. O
aluguel de um prédio no centro
custa, em média, R$ 20 por m2,
apontam imobiliárias consultadas pela Folha. Na avenida Luiz
Carlos Berrini, um dos mais nobres centros empresariais da cidade, o custo chega a R$ 70 por m2.
"Chegamos a avaliar um imóvel
na Berrini, mas a reforma ficou
30% mais barata que um imóvel
equivalente lá e, na folha de pagamento, a economia em vales-transporte foi de 22%", diz.
A empresa dele diz não ter se
beneficiado de isenção fiscal, que
pode chegar a dez anos de gratuidade no IPTU para obras em imóveis tombados que restaurem a
fachada original. A obra precisa
ser submetida ao Conpresp (conselho municipal de preservação
do patrimônio) e ao Condephaat
(conselho estadual). Há cerca de
900 imóveis tombados no centro,
segundo o DPH (Departamento
de Patrimônio Histórico). A Secretaria Municipal de Finanças
informou que 411 imóveis se beneficiaram na área central.
O professor João Sette Whitaker, da Faculdade de Arquitetura
e Urbanismo da USP e integrante
do LabHab (Laboratório de Habitação e Assentamentos Urbanos)
da universidade, o conceito de
"retrofitagem" ainda é incipiente
no Brasil. "Aqui parece que ainda
não há a cultura da reforma."
Para Francisco Zorzeto, diretor
de uma empresa que trabalha
com restauro e retrofit, o preço é
40% mais econômico que qualquer construção semelhante.
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