São Paulo, quinta, 19 de março de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CRIME
Para testemunhas, crime em frente de escola estadual é passional, mesmo assim, polícia diz não saber o motivo
Estudantes são mortos a tiros em Guarulhos

da Reportagem Local

Três homens armados mataram a tiros os estudantes Adriano Santos do Nascimento, 14, e Jardel Oliveira da Silva, 15. O crime aconteceu ontem, às 23h, quando os dois voltavam da escola em Guarulhos (Grande São Paulo).
De acordo com testemunhas, o crime pode ter sido uma vingança. Depois de iniciar um namoro com uma estudante chamada Priscila, Silva foi jurado de morte pelo ex-namorado da adolescente.
Há um mês, o homem teria telefonado para a casa de Silva e conversado com o pai do estudante, a quem teria dito: "Os dias do seu filho estão contados". Desde então, Silva evitava sair sozinho.
"Eram bons alunos. Respeitavam os professoras, eram aplicados e se davam bem com todos", disse a professora de educação artística Ana Paula Casal de Rey, 29.
Anteontem à noite, Silva e Nascimento saíram de casa, no Jardim Malvinas, e foram a pé à Escola Estadual da Cidade Serodio 2, distante cerca de 1,5 quilômetro.
Assistiram às aulas -cursavam a 7ª série do 1º Grau- e, às 22h50, saíram. Estavam com uma colega. "Cheguei a casa, entrei e escutei chamarem meus colegas: "Psiu, vem aqui'. Fechei a porta e ouvi os tiros", disse a estudante P.S., 15.
Segundo testemunhas, os três assassinos -um deles mulato, alto e com boné amarelo- estavam esperando os estudantes ao lado da quadra de esportes da Escola Estadual Brigadeiro Haroldo Veloso, perto de suas casas. "Ele era meu único filho homem", disse Natanael Nascimento, pai de Adriano Nascimento.
A estudante de biologia Simone Oliveira da Silva, 22, afirmou que Silva, seu irmão, já havia deixado a menina que lhe rendera as ameaças. Além disso, o único problema que ele teve no bairro foi a pichação de um muro em 1997. "Ele era alegre e gostava de capoeira."
Sem telefone
Embora as testemunhas relatem as ameaças, a polícia informou não ter suspeita. "Instauramos o inquérito do caso. Agora é que nós vamos ouvir as testemunhas", disse o delegado José Francisco Cavalcante Filho, 40, do 7º DP.
O inquérito foi aberto ontem à tarde, depois de a delegacia receber o boletim de ocorrência. O crime havia sido registrado pelo 4 º DP porque o 7º DP fecha à noite.
A Folha apurou que o setor de homicídios da Polícia Civil de Guarulhos, que deveria participar da investigação, está com o telefone cortado. Também não tem delegado -quem responde pelo setor é o titular do Garra (Grupo Armado de Roubos e Assaltos).
"O 7º DP está apurando o caso. Caso não o esclareça, ele passará ao setor de homicídios, que, em vez de reclamar com jornalistas, deveria trabalhar", disse Marcos Pantaleão, delegado-seccional de Guarulhos. (MARCELO GODOY)


Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.