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MARCAS DA VIOLÊNCIA
Luciane Almeida Silva passou 25 minutos nas mãos de ladrões
"Acho que nunca vou perder esse medo", afirma estudante
DA REPORTAGEM LOCAL
Os fogos de artifício começaram a explodir. De um telefone
público, em um lugar desconhecido, a estudante Luciane Almeida Silva percebeu que já era
meia-noite, noite de Natal. Chorando, ela avisava à família que
acabara de ser libertada.
Em um ponto de ônibus, agachada para não ser vista, esperou por socorro. "Nunca me
senti tão sozinha no mundo."
O seqüestro relâmpago, no
Natal de 2001, em Diadema
(Grande SP), durou 25 minutos.
As suas conseqüências, no entanto, ainda persistem, apesar
de ela ter superado a fase mais
difícil. A estudante de turismo,
hoje com 22 anos, é acompanhada pelo serviço do Instituto
de Psiquiatria do Hospital das
Clínicas desde 2002.
"No começo, as pessoas diziam que eu nem parecia ter
passado por aquilo", diz. Os
problemas começaram a surgir
três meses depois: suor exagerado à noite, falta de concentração, ansiedade.
Por três vezes, foi ao médico
saber se tinha alguma doença física, mas os exames deram negativo. Foi a mãe dela que percebeu a relação e, sem comunicar
à filha a sua suspeita, marcou
uma consulta no HC. "As pessoas próximas evitavam falar do
assunto, mas falar é o melhor remédio", afirma a estudante. Sua
capacidade de concentração
voltou e a ansiedade sumiu.
Mas ela admite que ainda tem
um medo exagerado quando o
carro pára no farol. "A ameaça
de acontecer de novo é real. Sei
que é justificada pela violência
de hoje. Mas também sei que as
pessoas que se aproximam podem ser só trabalhadores, como
eu. Acho que nunca vou perder
esse medo", afirma ela, que não
quis anonimato. "Todos conhecem a minha história. Não há o
que esconder."
(GP)
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