São Paulo, segunda-feira, 19 de abril de 2004

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MARCAS DA VIOLÊNCIA

Luciane Almeida Silva passou 25 minutos nas mãos de ladrões

"Acho que nunca vou perder esse medo", afirma estudante

DA REPORTAGEM LOCAL

Os fogos de artifício começaram a explodir. De um telefone público, em um lugar desconhecido, a estudante Luciane Almeida Silva percebeu que já era meia-noite, noite de Natal. Chorando, ela avisava à família que acabara de ser libertada.
Em um ponto de ônibus, agachada para não ser vista, esperou por socorro. "Nunca me senti tão sozinha no mundo."
O seqüestro relâmpago, no Natal de 2001, em Diadema (Grande SP), durou 25 minutos. As suas conseqüências, no entanto, ainda persistem, apesar de ela ter superado a fase mais difícil. A estudante de turismo, hoje com 22 anos, é acompanhada pelo serviço do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas desde 2002.
"No começo, as pessoas diziam que eu nem parecia ter passado por aquilo", diz. Os problemas começaram a surgir três meses depois: suor exagerado à noite, falta de concentração, ansiedade.
Por três vezes, foi ao médico saber se tinha alguma doença física, mas os exames deram negativo. Foi a mãe dela que percebeu a relação e, sem comunicar à filha a sua suspeita, marcou uma consulta no HC. "As pessoas próximas evitavam falar do assunto, mas falar é o melhor remédio", afirma a estudante. Sua capacidade de concentração voltou e a ansiedade sumiu.
Mas ela admite que ainda tem um medo exagerado quando o carro pára no farol. "A ameaça de acontecer de novo é real. Sei que é justificada pela violência de hoje. Mas também sei que as pessoas que se aproximam podem ser só trabalhadores, como eu. Acho que nunca vou perder esse medo", afirma ela, que não quis anonimato. "Todos conhecem a minha história. Não há o que esconder." (GP)


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