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Perto de completar cinco meses, bebê anencéfala tem alta
Marcela de Jesus terá de usar capacete ligado a aparelho para receber oxigênio; mãe vai alimentá-la com sonda
Caso raro, já que em geral anencéfalos morrem poucas horas após nascimento, sobrevivência de bebê é vista como "milagre"
DA FOLHA RIBEIRÃO
O berço de madeira que abrigou as duas filhas mais velhas
da lavradora Cacilda Ferreira
ganhou colchão novo para receber ontem a caçula da família. A dois dias de fazer 5 meses,
a bebê anencéfala (sem cérebro) Marcela de Jesus Galante
Ferreira teve alta da Santa Casa
de Patrocínio Paulista (413 km
de SP) e foi para casa.
A menina, internada desde
que nasceu, em 20 de novembro, é um caso raro da medicina, já que, geralmente, anencéfalos morrem poucas horas
após o nascimento. Marcela
saiu da Santa Casa sem estar ligada a nenhum aparelho -ela
vai usar em casa um capacete ligado a um aparelho concentrador de oxigênio, alugado pela
prefeitura. Foi transportada de
ambulância para uma casa que
pertence à família, a 800 m do
hospital. "É uma alegria só.
Olha como ela está gordinha",
disse Cacilda. A bebê pesa
atualmente 4,9 kg.
Ela já poderia ter recebido alta há algumas semanas, não
fosse o resfriado que contraiu e
a falta de uma casa adequada
para recebê-la -a família mora
em um sítio.
Treinada no hospital, a mãe
vai alimentar a bebê por sonda
a cada 3 horas com leite, papinha e suco de frutas.
Solidão e rotina
No diário que mantém desde
a gravidez, Cacilda disse sentir
solidão. As visitas a ela e à bebê,
antes freqüentes, rarearam,
diz. "Agora, parece que todo
mundo me abandonou. Fico esperando, mas passa a hora da
visita e ninguém aparece", anotou em 19 de fevereiro. "Só
Deus não me abandona."
Em 4 de fevereiro, único dia
em que não ficou no hospital,
Cacilda registrou: "Cheguei ao
sítio e vi o berço em um canto,
sofri muito, senti a falta dela.
Mas sei que ela não me pertence e sim a Deus".
Marcelo Rossi
Um milagre de Deus e um resultado da fé de sua mãe. Assim
classificou o padre Marcelo
Rossi a sobrevivência da bebê.
"Tenho acompanhado o caso
e a sobrevivência da Marcela é
um milagre. Talvez ela não tivesse nem um 1% de chance de
sobreviver. É impossível, quase. É um milagre de Deus, graças à fé desta mãe", disse.
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