São Paulo, sábado, 19 de abril de 2008

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Uso de cordão em transplante cresce 440%

Brasil passou a utilizar cordões umbilicais "nacionais" em transplantes de medula e fornecerá material a outros países

Com financiamento de R$ 30 milhões do fundo social do BNDES, o país vai ganhar mais oito bancos públicos de cordões umbilicais

CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL

Quase metade dos transplantes não-aparentados de medula óssea no país já são feitos com células-tronco de sangue de cordão umbilical. Em quatro anos, o índice de participação de cordões "nacionais" nessas cirurgias passou de 10% para 54% (um crescimento de 440%), segundo a rede BrasilCord, que reúne bancos públicos de cordão umbilical.
Até o final do ano, o Brasil também integrará uma rede internacional de bancos de cordão umbilical, fornecendo material a outros países.
O sangue de cordão umbilical e placentário é rico em células-tronco hematopoéticas e é indicado no transplante de medula óssea em pessoas com leucemias, linfomas, anemias graves, entre outras 70 doenças relacionadas ao sistema sanguíneo e auto-imune. Os transplantes também são feitos com doações de medula óssea.
O maior uso dos cordões, que ainda vão para o lixo na maioria das maternidades brasileiras, está sendo possível por conta de um programa do Ministério da Saúde que reúne, no momento, quatro bancos públicos de cordão umbilical -no Inca (RJ), no hospital Albert Einstein (SP) e nos hemocentros de Campinas e Ribeirão Preto.
Com a liberação de um financiamento de R$ 30 milhões pelo fundo social do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Social), o país vai ganhar outras oito unidades -no CE, PE, PA, DF, PR, RS, SC e MG-, contemplando a diversidade genética da população.
Segundo Luiz Fernando Bouzas, coordenador da rede BrasilCord e diretor do centro de transplante de medula óssea do Inca, o investimento servirá para os bancos montarem laboratórios especializados na seleção e no congelamento de células-tronco. "A idéia é que consigamos armazenar, nos próximos três anos, 50 mil cordões."
Essa meta, aliás, havia sido anunciada há quatro anos pelo governo federal, quando a rede BrasilCord foi criada, mas não foi cumprida. "Esses 50 mil cordões só se tornarão possíveis com o investimento na criação dos bancos. O trâmite para a liberação do financiamento do BNDES é complicado", justifica Bouzas.
O médico diz que, quando os 12 bancos estiverem funcionando, o país conseguirá fazer 85% dos seus transplantes de medula com doadores próprios. O Brasil gasta em torno de US$ 29 mil em cada doação vinda do exterior. Em 2007, foram importados 32 cordões.
A expansão vai possibilitar a integração do país às redes internacionais de bancos de cordão. "Até agora só recebemos. Vamos começar a dar nossa contrapartida", disse Bouzas.
Juntos, os atuais bancos de cordão armazenam 6.000 bolsas de sangue. Do início do programa até agora, 60 unidades foram usadas em transplantes.
Outras 150 estão identificadas, mas os pacientes aguardam um leito para realizar o transplante. Apenas 16 hospitais no país estão autorizados a fazer a cirurgia e ao menos 1.200 pessoas estão à espera.
Segundo a médica Andreza Alice Ribeiro, uma das coordenadoras do banco de cordão do hospital Albert Einstein, outra questão que preocupa é o alto número de mães que doam o cordão umbilical do filho, mas não voltam para repetir os exames sorológicos necessários para a liberação do sangue.
No Einstein, das 2.500 bolsas armazenadas, apenas 1.600 estão liberadas. Os exames são necessários para avaliar a saúde do bebê após o nascimento.


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