São Paulo, domingo, 19 de maio de 2002

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DANUZA LEÃO

O melhor momento

As mulheres têm problema com a idade; todas -e em qualquer idade.
Aos 18, elas se acham umas velhas, aos 22, caquéticas e, aos 30, mesmo as que nunca ouviram falar de Balzac, acabadas. E assim vão, sofrendo por um tempo que passou e não volta mais. Lembra quando, aos 27, você deixou de sair com um de 23 porque ia parecer mãe dele? E também com aquele bonitão de 40 porque ouviu falar que ele tinha uma namorada de 22 e, na hora da comparação, você ia parecer uma anciã? Como nós, quando jovens, podemos ser ridículas. E quanta perda de tempo: hoje, se você não sabe, a idade de ouro das mulheres é entre 45 e 50. Nessa faixa você pode estar linda e com um corpo divino -se tiver sabido se cuidar, claro. Obrigação, aliás, não só das mulheres como também dos homens.
Não é porque você mora numa favela ou tem problemas com o marido e o filho que tem o direito de comer loucamente e ficar 15 quilos acima do peso ideal; e passar uma escova no cabelo (comprada no camelô) não leva mais do que um minuto e meio.
Não tem nada a ver uma coisa com a outra, e quem está legal fisicamente tem mais condição de lidar com as dificuldades normais do dia-a-dia -das pobres e das ricas- do que as que não se cuidaram.
Vejamos agora, lucidamente, as vantagens de ter passado dos 40.
Depois dessa idade, o mais frequente é ter casado e descasado umas duas vezes e tido todos os filhos que pretendia ter. Mas, mesmo que continue solteira, já perdeu a ilusão de que um dia vai passar pela sua porta um príncipe encantado montado num cavalo branco, perfeito em todos os sentidos, com uma única missão: fazer você feliz. Por fazer você feliz entenda-se, entre infinitas outras coisas, repetir, umas 38 vezes por dia, que te ama e que você é a mulher mais linda do mundo, a mais maravilhosa e, nunca, em nenhum momento, olhar para outra. Como nenhum homem faz isso, eis algumas belas razões para ficar bem infeliz.
Já entre os 40 e os 50 não é por esses critérios que se escolhe um homem; cada uma de nós tem os seus, que, aliás, são bem variados, mas, se um homem disser mais de uma vez por semana que não pode viver sem você, dá vontade de botar as malas dele na calçada; se disser duas, de jogar pela janela. Nenhuma mulher mais esclarecida quer um homem dependente, que sem ela é capaz de cair de boca na sarjeta. Um amor legal é aquele em que as pessoas se gostam, mas são fortes o suficiente para enfrentar qualquer circunstância da vida -inclusive ficarem sós, se forem largadas.
Capítulo filhos: nessa idade, eles já devem estar grandinhos, e inúmeros problemas já não existem mais. Das fraldas a alguma experiência com drogas -e qual o filho que livrou a cara da mãe nesse quesito?-, a atmosfera familiar já deve estar mais tranquila. E vamos falar francamente: dá para namorar com filhos problemáticos? A gente até tenta, mas o namoro não vinga.
Ainda no capítulo filhos: aos 45, ninguém vai inventar ter outro, por razões mais do que óbvias. A essa altura do campeonato a vida profissional costuma estar estabilizada, e os fins de semana numa praia podem transcorrer sem aquele pânico de o telefone tocar e ter acontecido alguma coisa horrível, que tanto pode ser um febrão, quando eles são pequenos, como, mais tarde, um deles ter sido preso numa batida em um baile funk. Aos 20, 25, essas crianças devem estar estudando ou trabalhando e têm a obrigação de já terem criado juízo. Como, aliás, você também, para não cair na conversa fiada de um bonitão qualquer.
É nessa hora que você começa a poder desfrutar de sua vida com mais maturidade e liberdade. Sem querer o impossível e valorizando muito mais o possível.
Se você está nesse momento da vida, relaxe e aproveite. Muito mais tarde, vai reconhecer que, apesar de tudo o que dizem, esses são os melhores anos da vida de uma mulher -e é bom saber disso agora.
Aliás, agora, não: já.

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danuza.leao@uol.com.br


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