São Paulo, quarta-feira, 19 de maio de 2004

Próximo Texto | Índice

SAÚDE

Pesquisa mostra que 14% da população perdeu todos os dentes; pior situação é entre mulheres acima dos 50 anos

Brasil tem 26 milhões de sem-dentes

ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO

A saúde bucal do brasileiro é reveladora da desigualdade social do país. De acordo com a parte brasileira da Pesquisa Mundial de Saúde, divulgada ontem pela Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) e realizada no ano passado para a OMS (Organização Mundial da Saúde), 14,4% dos brasileiros já perderam todos os dentes.
Levando em conta que o IBGE estima em 179 milhões a população atual no Brasil, isso significa que cerca de 26 milhões já não têm mais nenhum dente natural.
A comparação entre classes sociais mostra que, entre os mais pobres, esse percentual chega a 17,5%, e, entre os mais ricos, é de 5,9%. A Fiocruz fez a separação entre classes pelo número de bens de consumo (televisão, geladeira, entre outros). A pior situação foi encontrada entre as mulheres com mais de 50 anos em famílias mais pobres: 55,9%.
"A preocupação do sistema público com a saúde bucal é muito recente e ainda não há uma conscientização sobre a necessidade da prevenção, principalmente entre as classes mais baixas", afirmou Célia Szwarcwald, uma das coordenadoras da pesquisa.
Em março, a União anunciou R$ 1,2 bilhão para o programa Brasil Sorridente, de saúde bucal.
A pesquisa comparou alguns fatores de risco à saúde. Os dados mostram que 10,1% da população pode ser considerada obesa, segundo os padrões da OMS, e que 28,5% dos brasileiros apresentam sobrepeso. A porcentagem de pessoas abaixo do peso é de 5%.
O índice dos que dizem ter bebido pelo menos cinco doses de bebidas alcóolicas na semana anterior à pesquisa é de 14,8%, percentual que é maior na faixa etária mais jovem (18 a 34 anos), onde chega a 17,4%. Os fumantes diários representam 18,1%, sendo que o hábito é menor entre os que têm entre 18 e 34 anos -15,2%.
A pesquisa mostrou ainda que 24% da população é sedentária.
A maioria (54%) dos brasileiros avalia seu estado de saúde como bom ou muito bom. A porcentagem de brasileiros que consideram sua saúde moderada é de 38%, enquanto 9% dizem ser ruim ou muito ruim. O percentual de avaliação positiva é maior entre os homens (60,2% de bom ou muito bom) do que entre as mulheres (47,5%).
Os dados da pesquisa indicam também aparente contradição entre a avaliação que o brasileiro faz do sistema de saúde em geral e a qualidade do atendimento.
Para 58% dos entrevistados, o funcionamento da assistência de saúde no país é, em geral, insatisfatório ou muito insatisfatório. A imensa maioria (97,3%), porém, disse que conseguiu assistência médica quando precisou dela.
A partir da resposta a 13 perguntas sobre a assistência ambulatorial, a Fiocruz elaborou um índice de satisfação, calculado a partir da porcentagem de respostas "boa" ou "muito boa". O resultado foi que o índice de avaliação desse serviço foi de 77 sobre 100, sendo 70 para os usuários do SUS, 88 para os que pagaram diretamente a consulta e 89 para os que usaram o plano de saúde.
"O brasileiro pode ter uma avaliação positiva do atendimento que recebeu em alguns casos, mas, quando analisa a situação geral, pode se sentir injustiçado por ter que pagar por serviços privados ou porque só uma parcela da população tem acesso ao atendimento pago", diz Szwarcwald.


Próximo Texto: Fundação ouviu 5.000 pessoas no ano passado
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.