São Paulo, sexta-feira, 19 de maio de 2006

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GUERRA URBANA /ESTADO

Governador diz que é uma honra administrar São Paulo, mas que ataques lhe trouxeram um custo emocional muito grande

Lembo pede a Deus que governo acabe logo

DA REPORTAGEM LOCAL

Após uma semana de crise, o governador de São Paulo, Cláudio Lembo (PFL), fez um desabafo no qual disse desejar que seu governo, que ainda tem mais sete meses e meio, acabe logo.
A frase foi dita ao final de um discurso em um evento sobre educação no Palácio dos Bandeirantes. "Vamos trabalhar muito juntos, Estado e prefeitura, nesses oito meses que restam, graças a Deus, para melhorar a situação."
O público presente (cerca de cem professores, o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, e assessores políticos) e ele próprio deram risada, após Lembo falar "graças a Deus". Questionado por jornalistas, momento depois, explicou: "Falei isso porque Deus há de me ajudar para que o tempo passe depressa [até o final do mandato]".
Eleito como vice-governador, Lembo assumiu em março deste ano após Geraldo Alckmin (PSDB) renunciar ao cargo para disputar a eleição presidencial.
O pefelista foi questionado se deseja se livrar das responsabilidades do cargo. "Sou homem de coragem. É uma honra governar São Paulo. Mas você há de admitir que essa honra me teve um custo emocional muito grande", afirmou. Em entrevista publicada na edição de ontem da Folha, Lembo culpou a "elite branca" pela violência. Disse que a burguesia precisa deixar de ser cínica e de explorar a sociedade, abrindo a bolsa para reduzir a miséria.
Ontem, questionado se teme ser marcado como o governador que passou pela maior crise de segurança de São Paulo, respondeu: "É uma marca de quem foi afirmativo, foi transparente, contei sempre a verdade e preservei os direitos humanos nos limites quase impossíveis dos acontecimentos. Portanto, saio [no fim do ano] com a marca de quem teve a coragem de assumir a crise e procurou dirimi-la com coragem".
Ele voltou a negar que tenha havido acordo com os líderes do PCC para a redução de ataques e rebeliões nos presídios. E não aceitou a pergunta de um repórter, que lhe questionou por que o PSDB não conseguiu, após 12 anos de governo, resolver os problemas de segurança do Estado.
"Culpo a realidade social brasileira. É muito difícil reestruturar os sistemas de defesa de São Paulo, uma sociedade muito flutuante, [onde houve] um êxodo rural muito grande", disse.

Nota 10
Lembo deu "nota dez, com louvor" para a cúpula da polícia paulista durante a crise. Até o fechamento desta edição, a polícia diz ter matado 107 suspeitos e prendido 124 desde que o PCC iniciou os ataques, na última sexta.
"Só tenho satisfação com a cúpula da polícia. Foi uma equipe notável. Mostrou um grau de informação que, confesso, me surpreendeu", disse, após ser questionado por que não foi possível evitar mortes, mesmo a polícia tendo informações sobre possíveis ataques do PCC 20 dias antes.
E negou os rumores de que cogita demitir os secretários da Administração Penitenciária, Nagashi Furukawa, e da Segurança Pública, Saulo de Castro Abreu Filho. "Se quiserem, vão ficar."
Apesar de o Estado não divulgar a lista e a ficha criminal dos mortos em confronto com a polícia, Lembo pediu "tranqüilidade". "Serão divulgados. Quando os inquéritos estiverem todos instalados, serão divulgados." Há previsão? "São muitos, mas em pouco tempo estarão prontos. Ela [a polícia] quer fazer o mais depressa possível [os inquéritos], mas tenho que respeitar a estrutura burocrática e legal. Não posso violar a lei e dizer: faça rápido e de qualquer jeito." (FABIO SCHIVARTCHE)


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