São Paulo, sexta-feira, 19 de maio de 2006

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MÍDIA

Jornal da Band veiculou reportagem com Marcola, líder máximo do PCC

Governo diz que entrevista é falsa

DANIEL CASTRO
COLUNISTA DA FOLHA

FABIO SCHIVARTCHE
DA REPORTAGEM LOCAL

O governo de São Paulo reagiu contundentemente ontem contra a cobertura dos ataques do PCC feita pelas TVs, que qualificou de sensacionalista. Em nota oficial, acusou a Record e Band de agirem de "forma criminosa e irresponsável" por terem exibido supostas "falsas gravações com líderes de facção criminosa".
O governador Claudio Lembo deu declaração insinuando que suposta entrevista com Marcola, principal líder do PCC, exibida no início da madrugada de ontem pela Band, seria falsa. "O Estado irá tomar atitudes no Poder Judiciário. A Justiça vai esclarecer."
Também ontem, a Polícia Civil abriu inquérito para "apurar responsabilidades do jornalista Roberto Cabrini e eventual apologia ao crime ou criminoso" na veiculação da suposta entrevista.
Apresentador do "Jornal da Noite", o jornalista aparece o tempo todo falando em um estúdio de TV com um interlocutor ao telefone, que seria Marcola.
Curiosamente, o nome Marcola não é mencionado nas manchetes do telejornal nem na entrevista. Cabrini afirma apenas que entrevistou o "principal líder do PCC". Até que, depois da primeira parte, apresenta um perfil do criminoso, que conclui com o seguinte texto: "Cinco dias depois dos ataques, o principal líder do PCC concede sua primeira entrevista. Ele está em um presídio de segurança máxima e conversou comigo por meio de um telefone celular".
Assim como o SBT e Gugu Liberato agiram em 2003, quando foi ao ar uma entrevista encenada com falsos membros do PCC, a Band não se pronunciou. Cabrini não respondeu as recados.
A polícia requisitou as fitas da entrevista para fazer uma perícia e averiguar se é realmente Marcola. Reservadamente, membros da polícia afirmam ter 99% de convicção de que a entrevista é falsa porque Marcola está em um presídio com bloqueador de celular.
Nos bastidores da Band, circulava ontem versão de que uma mulher teria procurado a emissora oferecendo a entrevista, que foi feita, mas a direção não teria se convencido totalmente de que era Marcola quem falava. Por precaução, não alardeou a reportagem.
Já a nota oficial com acusações contra a Band e a Record foi distribuída pela Secretaria da Administração Penitenciária. "A veiculação de conversas com integrantes de facções criminosas serve tão-somente para inflamar o ânimo sensacionalista, assustando a sociedade e prejudicando as investigações realizadas pelas autoridades competentes", diz.
A entrevista da Record foi com Macarrão, outro líder do PCC, e exibida na terça pelo "Jornal da Record" -na verdade, foi produzida pela rádio Record. Ontem, no "Jornal da Record", a TV declarou que "o jornalismo da Record não tem dúvida da veracidade da entrevista e só decidiu colocá-la no ar porque ajudava a desvendar um possível acordo entre autoridades do governo estadual e presos, acordo esse que seria condenado pela sociedade".


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