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Pânico acentua risco de soluções destrutivas, diz psicanalista
LUIZ TENÓRIO OLIVEIRA LIMA
ESPECIAL PARA A FOLHA
A sensação de segurança em um
grupo humano é função de vários
fatores. Os fatores subjetivos são
dominantes e, como se sabe, relacionam-se com um sentimento
de solidariedade intra-grupal. Os
indivíduos não existem isoladamente em um grupo, e são interdependentes uns dos outros, formando uma espécie de rede tácita. Esta rede envolve trocas emocionais, semelhantes, por exemplo, às existentes em um grupo de
escala menor, como o familiar.
Esta rede tácita é bastante consistente para prover segurança diante do imprevisto, de situações adversas reais, concretas e objetivas.
Ela é, entretanto, bastante precária para se romper ao confrontar-se com situações imaginárias ou
reais que contenham um grande
teor de ameaça potencial ao grau
de certeza e de conhecimento necessários para a pessoa sentir-se
em um "meio conhecido" e em
um ambiente previsível.
Segundo uma tradição antiga, a
palavra "pânico" deriva do deus
Pan, divindade grega que se divertia com uma flauta assustando
os viajantes ao produzir sons em
lugares imprevistos na escuridão
da noite nos bosques. O medo-pânico é, portanto, um medo daquilo que se desconhece e é sentido como ameaçador, real ou imaginariamente.
O problema do medo e da insegurança nesses últimos dias em
São Paulo acentuou-se na tarde
da segunda-feira em decorrência
de muitos fatores, mas as informações imprecisas, a falta de comunicação confiável e consistente (até compreensível, dada a velocidade dos acontecimentos) entre as instituições governamentais e a sociedade parecem ter sido
um fator decisivo. A surpresa, o
sensacionalismo, a improvisação
podem ter contribuído para provocar a ruptura dessa rede tácita
entre os indivíduos que constituem o grupo. O pânico é um sentimento que introduz um grau
crescente de irracionalidade no
comportamento do grupo, tendendo a produzir desorganização
e caos, o que acentua perigosamente o risco de soluções destrutivas, tanto para o grupo quanto
para o próprio indivíduo. Na tarde de segunda-feira, assistimos e
vivenciamos, na cidade de São
Paulo, um princípio desse sentimento em amplos setores da população, no momento em que
tentavam voltar do trabalho para
suas casas.
São Paulo é uma cidade em que
seus habitantes estão submetidos
a uma carga enorme de tensão. Os
fios frágeis que unem as pessoas
em meio a tanta insegurança objetiva têm tido bastante consistência. É até admirável que as situações terríveis desses últimos
dias não tenham ainda provocado uma onda desordenada e caótica, por exemplo, como ocorreu
no célebre "blackout" na cidade
de Nova York, há alguns anos. A
coesão do grupo, sua aparente
passividade diante de situações
tão dramáticas são talvez uma
prova da capacidade maior de resistência da população ao sentido
psicológico desses ataques criminosos e cruéis, anti-sociais e destrutivos. Não é possível saber até
quando esta resistência da população ao caos psicológico, não só
numa cidade como a nossa, mas
em muitas outras grandes cidades
brasileiras, persistirá. Essa persistência poderá depender da recuperação da confiança mínima nas
instituições sociais e nos seus
agentes visíveis, freqüentemente,
também, com e sem razão, hostilizados pela boa-fé de muitos e
pela demagogia de tantos.
LUIZ TENÓRIO OLIVEIRA LIMA é psicanalista
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