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SP distribui a escolas livro com palavrões
Com termos impróprios e conotação sexual, obra seria utilizada por estudantes da rede estadual na faixa de nove anos
Governo de SP disse que houve falha na escolha do livro para o programa Ler e Escrever e que determinou
o recolhimento das obras
FÁBIO TAKAHASHI
DA REPORTAGEM LOCAL
A Secretaria Estadual da
Educação de São Paulo distribuiu a escolas um livro com
conteúdo sexual e palavrões,
para ser usado como material
de apoio por alunos da terceira
série do ensino fundamental
(faixa etária de nove anos).
A gestão José Serra (PSDB)
afirmou ontem que houve "falha" na escolha, pois o material
é "inadequado para alunos desta idade", e que já determinou o
recolhimento da obra.
O livro ("Dez na Área, Um na
Banheira e Ninguém no Gol") é
recheado com expressões como "chupa rola", "cu" e "chupava ela todinha". São 11 histórias
em quadrinhos, feitas por diferentes artistas, que abordam
temas relacionados a futebol
-algumas usam também conotação sexual. A editora Via Lettera afirma que a obra é voltada
a adultos e adolescentes.
A pasta distribuiu 1.216
exemplares, que seriam usados
como material de apoio para a
alfabetização dos estudantes,
dentro do programa Ler e Escrever (uma das bandeiras do
governo na educação).
Nesse programa, os estudantes podem usar o material na
biblioteca, na aula ou levar para
casa. O livro começou a ser entregue na semana passada.
É o segundo caso neste ano
de problemas no material enviado às escolas. A Folha revelou em março que alunos da
sexta série receberam livro em
que o Paraguai aparecia duas
vezes no mapa.
"Os erros revelam um descuido do governo na preparação e escolha dos materiais",
afirmou a coordenadora do
curso de pedagogia da Unicamp, Angela Soligo.
"Há um constante ataque do
governo contra os professores
e a formação deles. Mas o governo coloca à disposição dos
docentes ferramentas frágeis
de trabalho", disse Soligo.
Posição oficial
A reportagem solicitou entrevista com o secretário da
Educação, Paulo Renato Souza.
A pasta, porém, só divulgou
uma nota, que não esclarece como é feita a escolha dos livros.
Sobre a responsabilidade pelo erro, disse apenas que abriu
uma sindicância.
O governo afirma que "este
livro é apenas um dos 818 títulos" comprados e que os 1.216
exemplares da obra representam "0,067% do 1,79 milhão de
livros colocados à disposição
das crianças". Diz ainda que faz
um grande esforço para estimular o hábito da leitura.
O gerente de marketing da
editora Via Lettera (responsável pelo livro), Roberto Gobatto, afirmou que apenas atendeu
ao pedido de compra (no valor
de cerca de R$ 35 mil) feito em
novembro, na gestão de Maria
Helena Guimarães de Castro
na pasta da Educação.
"Não sabíamos para qual faixa etária seria destinada. Se
soubéssemos, avisaríamos a secretaria", disse Gobatto.
Na história mais criticada
por professores que tiveram
contato com a obra, o cartunista Caco Galhardo faz uma caricatura de um programa de mesa-redonda de futebol na TV.
Enquanto o comentarista faz
perguntas sobre sexo, jogadores e treinadores respondem
com clichês de programas esportivos, como "o atleta tem de
se adaptar a qualquer posição".
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