São Paulo, quarta-feira, 19 de maio de 2010

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Ruído do metrô prejudica saúde, diz médico

Morar perto de locais barulhentos é estressante e pode causar problemas como aumento da pressão arterial, explica otorrino

"Isso vem da Pré-História, quando os homens viviam nas cavernas e audição era o principal mecanismo de defesa", diz Ektor Onishi

RICARDO WESTIN
DA REPORTAGEM LOCAL

O otorrinolaringologista Ektor Onishi, da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), diz que conviver com o ruído do metrô pode levar a uma extensa lista de problemas de saúde, de dor de cabeça e aumento da pressão arterial a alterações gástricas e perda da audição.
"O ambiente ruidoso é extremamente estressante para o organismo", explica. "Isso vem da Pré-História, quando os homens viviam nas cavernas. Naquela época, a audição era nosso principal mecanismo de defesa. Era a audição que nos alertava para o perigo iminente."

 

FOLHA - Morar em frente a uma linha do metrô de superfície prejudica a audição?
EKTOR ONISHI -
Dependendo do tempo de exposição e da intensidade do ruído, prejudica, sim. E os danos são cumulativos e irreversíveis. A audição não vai melhorar, ainda que a pessoa se mude do local. Vai apenas deixar de piorar.
Infelizmente, a medicina ainda não descobriu uma forma de fazer funcionar a célula [do ouvido] que morreu por causa de excesso de som. Um dos primeiros sintomas da perda da audição é o zumbido persistente.

FOLHA - Passar o dia inteiro dentro de uma estação do metrô, então, pode acabar com a audição?
ONISHI -
A intensidade do ruído que consideramos perigosa é a partir de 85 decibéis. O som do cruzamento da av. Paulista com a Brigadeiro Luiz Antônio no horário de pico, como comparação, chega a 93 decibéis.
Quem fica um período curto dentro da estação esperando o metrô não tem perda, mas quem trabalha ali dentro corre um risco grande. Precisa usar protetor [de ouvido] e fazer exames periódicos.

FOLHA - Que outros efeitos sobre a saúde tem o barulho?
ONISHI -
Os pacientes expostos ao barulho normalmente chegam com queixas de dor de cabeça crônica, dificuldade de concentração, distúrbios do sono, aumento da pressão arterial, alterações gástricas, queimação [no estômago]...
Isso tudo é resposta do organismo ao ambiente estressante. E o ambiente ruidoso é extremamente estressante para o organismo.

FOLHA - Por que o barulho estressa o organismo?
ONISHI -
Isso vem da Pré-História, quando os homens viviam nas cavernas. Naquela época, a audição era o nosso principal mecanismo de defesa. Era a audição que nos alertava para o perigo iminente, para uma situação de risco.
Nosso ouvido não para de funcionar em nenhum momento. Mesmo quando estamos dormindo, ele não para de enviar estímulos sonoros para o cérebro. Esses estímulos fazem o organismo liberar noradrenalina e adrenalina de forma a nos preparar para a defesa. É por isso que o ruído provoca aumento da pressão.


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