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DIAS GOMES
Escritor baiano foi mestre da "carpintaria"
NELSON DE SÁ
da Reportagem Local
Já se organizou a obra de Dias
Gomes de maneiras as mais arbitrárias. Na coleção da ed. Bertrand
Brasil, as divisões lembram aquelas, também estranhas, criadas para Nelson Rodrigues: "falsos mitos", "heróis vencidos". Outra ordenação buscou ligá-lo à dramaturgia nacional do fim dos anos 50
(Suassuna, Guarnieri), como se
nada tivesse escrito antes.
Para distinguir as características
do dramaturgo, é melhor recorrer
ao que o próprio dizia, de suas "fases". Foram poucos os intervalos
em sua produção, mas são bem
distintas uma primeira fase de encenações, com os textos feitos para
Procópio Ferreira nos anos 40, e a
segunda e melhor, abrindo com "O
Pagador de Promessas", seu maior
legado para o palco, em 60.
Dias Gomes, em cerca de 60 anos
de dramaturgia, em ambas as "fases" e nas inúmeras peças inéditas,
nunca se distanciou muito, entre
outras qualidades, da atenção aos
tipos populares. Foi assim desde
"Zeca Diabo", sobre o cangaço, de
43; e foi assim com o aclamado Zé-do-Burro, de "Pagador".
Escrevendo as primeiras peças
nos anos 30 e 40, desenvolvendo-se sob as asas de Procópio, Dias
Gomes tornou-se aos poucos um
mestre da "carpintaria" -como se
descreve costumeiramente, em
teatro, o domínio da dramaturgia
mais voltada à ação e ao enredo,
nem tanto à complexidade psicológica dos personagens.
Uma terceira característica, da
qual poucas vezes se distanciou,
foi temática: o Nordeste, a seca, a
crítica à opressão. Acima de tudo,
o que era de esperar no militante
socialista e materialista: o anticlericalismo. É assim em "Pagador" e
também em "O Santo Inquérito",
outro texto a lembrar entre os destaques do dramaturgo.
Em "Pagador", que estreou num
TBC já influenciado pelo nacionalismo do Arena, Zé-do-Burro vai a
Salvador pagar uma promessa feita a Iansã ou santa Bárbara -sincretismo tão do gosto do autor, por
se contrapor à religião instituída.
Ao chegar, enfrenta um padre que
é a alegoria da opressão.
Estão lá os traços da comédia popular mais direta, ainda que se trate de um drama com, como exige a
"carpintaria", final retumbante.
Está lá a dicotomia, o confronto do
bem contra o mal, no caso, representada na "autoridade" do padre
e seu aliado, o "Delegado".
E também está lá, em "Pagador",
a defesa da reforma agrária, num
Zé-do-Burro que decide dividir
"igualmente", para horror de padre Olavo, as poucas terras "com
os lavradores mais pobres".
À sua maneira, como ele dizia da
primeira peça que fez para Procópio, "Pé-de-Cabra", Dias Gomes
escreveu sem jamais esquecer o
modelo dos anos 30, do Joracy Camargo de "Deus lhe Pague": engajado, carregado de idéias políticas
e sociais, mas sempre de olho na
diversão, no espectador.
É o que explica o fato de, passada
a primeira fase de sua dramaturgia, Dias Gomes ter mergulhado
na radionovela, por duas décadas.
Depois, passada a segunda fase de
sua dramaturgia, ele mergulhou
na telenovela para os trabalhos
mais lembrados. Na TV como no
rádio, inspirou-se nos tipos e enredos criados antes no palco.
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