|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CONGRESSO
Senadores aprovam Estatuto da Cidade, que busca impedir especulação imobiliária
Imóvel vazio pode pagar mais IPTU
VERA MAGALHÃES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Senado aprovou ontem o Estatuto da Cidade, que cria mecanismos para impedir especulação
imobiliária e para privilegiar a utilização social dos imóveis nas
grandes cidades. O estatuto, que
tramitava no Congresso desde
1989, estabelece as diretrizes gerais de política urbana.
A aprovação no Senado foi em
votação simbólica. Agora, o projeto segue para sanção do presidente Fernando Henrique Cardoso. Se for sancionado, entra em vigor imediatamente.
De acordo com o projeto, cidades com mais de 20 mil habitantes
terão um Plano Diretor, que deverá seguir o que foi instituído pelo
estatuto. Para evitar a especulação
imobiliária e a subutilização de
imóveis, o projeto estabelece mecanismos que começam com a
ocupação compulsória (obrigatória) dos imóveis e vão até sua desapropriação.
Se o proprietário não cumprir a
obrigação de ocupar o imóvel em
um ano, a prefeitura poderá cobrar IPTU (Imposto Predial e
Territorial Urbano) progressivo
no tempo, ou seja, com alíquotas
maiores a cada ano, durante cinco
anos. O último passo, caso o imóvel permaneça desocupado após
cinco anos de IPTU progressivo, é
a desapropriação para destinar à
reforma urbana.
Nesse caso, o procedimento é o
mesmo da reforma agrária: o pagamento do imóvel desapropriado será feito em títulos da dívida
pública, que poderão ser pagos
em até dez anos.
O Estatuto da Cidade também
amplia a possibilidade de usucapião para áreas urbanas. Um morador de favela ou loteamento ilegal pode requerer o domínio de
um imóvel de até 250 m2 depois de
cinco anos de ocupação.
Da mesma forma, uma área
maior que 250 m2 pode ser alvo de
usucapião de forma coletiva.
Ou seja, no caso de uma favela
ou ocupação, vários moradores
podem pedir usucapião juntos,
facilitando o acesso à Justiça e à
assistência judiciária.
Os administradores também serão obrigados a cumprir o que o
projeto chama de gestão democrática, estabelecendo mecanismos, como Orçamento participativo, plebiscitos e órgãos colegiados de políticas urbanas.
Apesar das inovações do projeto, na Câmara foi retirada a possibilidade de os prefeitos serem
processados por improbidade administrativa caso descumpram a
lei. Com isso, muitos mecanismos
podem se tornar inócuos.
O estatuto foi proposto pelo senador Pompeu de Souza (DF),
que morreu um ano depois de
apresentá-lo.
O Senado votou o projeto rapidamente, mas a Câmara dos Deputados o engavetou por dez
anos. No ano passado, a CCJ (Comissão de Constituição e Justiça)
deu andamento ao projeto.
Depois da aprovação da proposta na Câmara, em novembro
de 2000, o deputado Paulo Octávio (PFL-DF), dono de uma das
maiores empreiteiras de Brasília,
apresentou recurso contra o estatuto, mas o plenário da Casa indeferiu. Alterado na Câmara, o texto
voltou ao Senado.
A previsão do relator da proposta no Senado, Mauro Miranda
(PMDB-GO), é que 80% da população brasileira seja atingida pela
lei. Em seu relatório, Miranda repetiu o substitutivo do deputado
Ronaldo Cézar Coelho (PSDB-RJ), aprovado pela Câmara, para
não atrasar mais a aprovação.
Texto Anterior: Há 50 anos Próximo Texto: Panorâmica - Evento Folha: Debate aborda a eficiência das casas de parto Índice
|