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São Paulo, quinta-feira, 19 de junho de 2003

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CRIME ORGANIZADO

Com ajuda da PM, soldados só conseguiram afastar grupo após tiroteio; ataque ocorre após sumiço de munição

Tráfico ataca quartel do Exército no Rio

Ana Carolina Fernandes/Folha Imagem
Soldado em frente a batalhão do Exército em São Gonçalo, que foi atacado ontem por traficantes


MARIO HUGO MONKEN
DA SUCURSAL DO RIO

Traficantes tentaram invadir na madrugada de ontem o 3º Batalhão de Infantaria do Exército, em São Gonçalo, na região metropolitana do Rio. Os soldados revidaram, pediram reforço da Polícia Militar e só conseguiram afastar os agressores após quase quatro horas de tiroteio.
A tentativa de invasão, que teria sido comandada pela quadrilha do morro do Martins (vizinho ao quartel), foi confirmada pelo Centro de Comunicação Social do Exército, em Brasília.
O ataque ocorreu três dias após o batalhão militar ter descoberto o desaparecimento de mil cartuchos de fuzil calibre 762 e cem de pistola 9 milímetros, que estavam em um paiol no próprio quartel.
O Comando Militar do Leste negou a informação de que pelo menos 700 militares estariam detidos na unidade devido ao sumiço das munições. Mas a nota do Centro de Comunicação Social do Exército informou que o desaparecimento levou o comandante da unidade, coronel Nelson Duarte Ferreira, a reter todo o efetivo no quartel entre a manhã de segunda-feira e a tarde de terça-feira.
O objetivo, segundo o Exército, era disponibilizar pessoal para encontrar o material desaparecido. Mas nada foi encontrado.
A ação começou por volta da 1h20. Um grupo de traficantes tentou entrar no quartel pelos fundos, o que acionou o sinal de alerta da unidade. Foi iniciado um tiroteio, que durou quase quatro horas. A PM foi chamada. Ninguém ficou ferido ou foi preso.
O Exército e a Polícia Civil não quiseram associar o desaparecimento das munições à tentativa de invasão. Segundo o Comando Militar do Leste, foi aberto inquérito policial militar, que deve estar concluído em 40 dias, para apurar o sumiço das munições.
Uma perícia também está sendo feita no local para detectar impressões digitais e apontar suspeitos. O paiol não foi arrombado.
A Polícia Federal suspeita que os traficantes roubaram as 1.100 munições e que tentaram voltar ao local para conseguir outras. Agentes ouvidos pela Folha disseram que, devido à ação da polícia nas fronteiras, está havendo uma diminuição da entrada de armas e munições no Rio de Janeiro.
Com isso, os traficantes, principalmente os vinculados à facção criminosa CV (Comando Vermelho), estariam planejando invasões a unidades militares para reforçarem seus arsenais.
A suspeita de que as munições teriam ido parar nas mãos de traficantes é reforçada pelo fato de o 3º Batalhão de Infantaria estar rodeado por quatro favelas (Martins, Coruja, Feijão e Galão), todas elas dominadas pelo CV.
O titular da Drae (Delegacia de Repressão a Armas e Explosivos da Polícia Civil do Rio), delegado Carlos Antônio de Oliveira, afirmou que, no primeiro trimestre deste ano, a polícia apreendeu 3.822 armas no Estado. "Os traficantes estão tentando repor essa perda. E uma das alternativas é a invasão a unidades militares."

Pânico
O tiroteio provocou pânico nos moradores das imediações do quartel. Ninguém viu quem fez os disparos. O secretário escolar Eduardo Araújo, 28, disse que, durante o tiroteio, era grande a movimentação de carros no quartel. Ele afirmou que algumas pessoas dormiram no chão com medo de serem atingidas pelos tiros.
A cozinheira Maria Dilce Pereira da Silva, 41, disse que, quando começaram os tiros, um soldado passou correndo pela rua pedindo que todas as pessoas voltassem para a casa. "Foi muito tiro, parecia até a guerra do Iraque."
Pela manhã, era grande a movimentação de recrutas na frente do quartel. Dezenas de militares armados vigiavam a entrada principal da unidade. Outros estavam dentro de uma casa abandonada próxima ao quartel e apontavam suas armas para o morro.
Nenhum deles quis comentar o que ocorreu. O comandante da unidade não foi encontrado.


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