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Na torcida, elite troca gritaria por aplausos
Em restaurante onde vinho custa R$ 218, vitória foi celebrada com comedimento
Figurino dos clientes também encampa as cores
verde e amarelo, mas
peças importadas e de grife dominam composições
NINA LEMOS
COLUNISTA DA FOLHA
Nada de palavrões, foguetes
ou gritaria. Quem assistiu ao jogo de ontem no restaurante A
Figueira Rubayat, um dos mais
sofisticados de São Paulo, nos
Jardins, gastou em média
R$ 150 no almoço, mas engoliu
em seco na hora em que viu algum jogador perder um lance.
"Em público tenho que me
conter, porque em casa eu xingo muito. Aqui fica chato", disse a artista plástica Cristina Rosa, 36, que assistiu ao jogo ao lado do empresário Alvaro Canoilas, 80. Os dois se deliciavam com vinho português. Preço da garrafa: R$ 218.
Cerca de 150 pessoas escolheram o badalado restaurante
para ver o jogo de ontem com
serviço de luxo. Por causa da
Copa, foram instaladas quatro
TVs de plasma no salão principal da casa e duas no bar.
Além de não xingar, os sofisticados habitués da casa comemoram a vitória do Brasil com
aplausos comedidos. As fãs de
concertos Elizabeth Lemos, Lia
Brito, 62, e Helô Abranches, 70,
aplaudiram a entrada de Robinho no jogo como se estivessem em um dos seus lugares
preferidos: a Sala São Paulo.
Assim como no resto da cidade, o verde-amarelo também
virou peça de guarda-roupa no
restaurante. Só que os acessórios verde e amarelo de camelô
são substituídos por outros,
importados. A executiva Heloísa Almeida, 27, que assistia ao
jogo com o marido, o também
executivo Jaimes Almeida, 48,
exibia camiseta de grife, colar
com bandeirinha e bandana na
cabeça. A diferença é que a bandana era italiana. "Meu marido
trouxe para mim de Capri." Enquanto isso, Jaimes viu a partida dando baforadas em um charuto. Heloísa foi outra que teve
que "engolir em seco". "Quando vejo em casa, eu xingo."
O clima só deixou de ser comedido no segundo tempo do
jogo. Depois do segundo gol,
que foi comemorado com alguns apitos e gritos. Nas horas
mais tensas, os torcedores brigavam com elegância com a televisão. "Não é hora de brigar
com juiz, Robinho" foi uma das
frases mais "agressivas" ouvidas no Figueira.
A hora em que o juiz apitou o
final, confirmando a classificação do Brasil, foi comemorada
de maneira tímida. Com aplausos. Como se o final do jogo fosse o encerramento de um concerto na Sala São Paulo.
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