São Paulo, segunda-feira, 19 de junho de 2006

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Na torcida, elite troca gritaria por aplausos

Em restaurante onde vinho custa R$ 218, vitória foi celebrada com comedimento

Figurino dos clientes também encampa as cores verde e amarelo, mas peças importadas e de grife dominam composições

NINA LEMOS
COLUNISTA DA FOLHA

Nada de palavrões, foguetes ou gritaria. Quem assistiu ao jogo de ontem no restaurante A Figueira Rubayat, um dos mais sofisticados de São Paulo, nos Jardins, gastou em média R$ 150 no almoço, mas engoliu em seco na hora em que viu algum jogador perder um lance.
"Em público tenho que me conter, porque em casa eu xingo muito. Aqui fica chato", disse a artista plástica Cristina Rosa, 36, que assistiu ao jogo ao lado do empresário Alvaro Canoilas, 80. Os dois se deliciavam com vinho português. Preço da garrafa: R$ 218.
Cerca de 150 pessoas escolheram o badalado restaurante para ver o jogo de ontem com serviço de luxo. Por causa da Copa, foram instaladas quatro TVs de plasma no salão principal da casa e duas no bar.
Além de não xingar, os sofisticados habitués da casa comemoram a vitória do Brasil com aplausos comedidos. As fãs de concertos Elizabeth Lemos, Lia Brito, 62, e Helô Abranches, 70, aplaudiram a entrada de Robinho no jogo como se estivessem em um dos seus lugares preferidos: a Sala São Paulo.
Assim como no resto da cidade, o verde-amarelo também virou peça de guarda-roupa no restaurante. Só que os acessórios verde e amarelo de camelô são substituídos por outros, importados. A executiva Heloísa Almeida, 27, que assistia ao jogo com o marido, o também executivo Jaimes Almeida, 48, exibia camiseta de grife, colar com bandeirinha e bandana na cabeça. A diferença é que a bandana era italiana. "Meu marido trouxe para mim de Capri." Enquanto isso, Jaimes viu a partida dando baforadas em um charuto. Heloísa foi outra que teve que "engolir em seco". "Quando vejo em casa, eu xingo."
O clima só deixou de ser comedido no segundo tempo do jogo. Depois do segundo gol, que foi comemorado com alguns apitos e gritos. Nas horas mais tensas, os torcedores brigavam com elegância com a televisão. "Não é hora de brigar com juiz, Robinho" foi uma das frases mais "agressivas" ouvidas no Figueira.
A hora em que o juiz apitou o final, confirmando a classificação do Brasil, foi comemorada de maneira tímida. Com aplausos. Como se o final do jogo fosse o encerramento de um concerto na Sala São Paulo.


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