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MARIA INÊS DOLCI
Robin Hood do avesso
Nossas autoridades perderam a noção de justiça, de equilíbrio e até do ridículo. Bandearam-se para o lado bilionário
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DEFINITIVAMENTE, A REPÚBLICA Federativa do Brasil vai
dar lugar à República Federativa dos Bancos no Brasil.
A Febraban (Federação Brasileira
de Bancos) trabalha, na surdina,
com o senador Valdir Raupp
(PMDB-RO) para golpear, sem dó
nem piedade, o CDC (Código de Defesa do Consumidor), em uma espécie de vingança contra o enquadramento dos bancos no código.
Essa monstruosidade vem sendo
construída em etapas. Primeiramente, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vetou, na medida provisória 340/2006, a adoção obrigatória
da Taeg (Taxa Anual Efetiva Global). Ela faria com que os bancos e
demais instituições financeiras informassem, além dos juros, todas as
demais cobranças que inflam os empréstimos, disfarçadas, por exemplo, de taxa de abertura de cadastro.
Por que o presidente Lula fez isso?
Bem, talvez tenha lido "Robin
Hood", herói que tirava dos ricos para distribuir aos pobres. Contudo,
por entender errado o sentido do livro, agiu como um Robin Hood ao
contrário, tirando dos correntistas
bilionários para ajudar os pobres
dos banqueiros.
Não bastasse isso, como sabemos,
no Brasil não há limite para o achincalhe contra os que não são "donos
do poder". E o diligente senador
Raupp, talvez também leitor equivocado de "Robin Hood", foi adiante
no saco de maldades.
E gerou o PLS (projeto de lei iniciado no Senado) 143/06, que propõe
incluir um terceiro parágrafo no artigo 3º do Código de Defesa do Consumidor. Qual parágrafo? Um que
excluiria de apreciação do Judiciário questões envolvendo taxas de juros de empréstimos e aplicações financeiras. Ou seja, o sonho de uma
noite de verão dos bancos.
Por que o senador Raupp está fazendo isso?
Provavelmente porque ficou preocupado com possíveis litígios judiciais, o que atrapalharia a laboriosa
vida dos banqueiros, entre um
anúncio e outro de um balancete bilionário. Afinal, eles já sofrem demais quando outro banco anuncia
um lucro maior do que o deles, humilhando-os em público.
Agora, arrependido, não quer brigar
com a defesa do consumidor. Por isso, solicitou a retirada do projeto,
mas, regimentalmente, o trâmite da
proposta continua. E o perigo de
que vire lei, também.
Nossas autoridades, está claro, perderam totalmente a noção de justiça, de equilíbrio e até do ridículo.
Bandearam-se, sem sequer ficar
vermelhos, para o lado bilionário,
contra os milhões que lhes dão votos
e impostos hipertrofiados.
Deram as costas a todos os cidadãos
brasileiros, exceto aqueles zero vírgula zero pouco por cento que ficam
com a parte do leão -enquanto os
demais são a caça. Dessa forma, como acreditar nas instituições?
Ganha uma conta corrente vazia
quem adivinhar quais os poderosos
integrantes do Primeiro Estado,
nesse Brasil do nunca jamais. Se ficarmos parados, enquanto geram o
monstro, ele nos devorará a todos.
Portanto, sociedade brasileira, à luta
contra nossos Robin Hood pelo
avesso, com e-mails para o Senado e
para o presidente da República a fim
de que o projeto de Raupp seja arquivado e de que a Taeg, finalmente,
se torne realidade.
NA INTERNET - http://mariainesdolci.folha.blog.uol.com.br
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