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ENSINO MÉDIO
Entre os itens de consumo, conexão à rede digital implica obter 15,8 pontos a mais do que os demais alunos
Acesso à internet aumenta competitividade
DA REPORTAGEM LOCAL
O acesso à internet é, considerado individualmente, o bem que
mais interfere de forma positiva
na performance escolar.
A pedido da Folha, a equipe de
estatísticos do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais) tabulou, separadamente, cada item de consumo que
os candidatos possuem em casa.
Em seguida, fez-se o cruzamento
entre esses dados e o desempenho
na prova do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio).
O fator "renda" interfere -e
muito- no desempenho dos estudantes. Alunos de famílias com
renda até um salário mínimo por
mês, por exemplo, têm média na
prova objetiva do Enem de 38
pontos. Quando a renda familiar é
superior a 30 salários mínimos, a
média atinge o pico de 69 pontos.
A diferença entre os mais ricos e
os mais pobres atinge, assim, a
marca dos 31 pontos.
Em todas as faixas de renda, observa-se a proporcionalidade direta entre riqueza e conhecimento, como se o histórico escolar tivesse se convertido em atestado
de rendimentos. "Longe de ampliar as oportunidades, a escola
tem reforçado a desigualdade",
lembra a psicóloga Rosely Sayão.
Ter ou não ter
É, contudo, quando se observam os pesos específicos da posse
de cada bem na performance escolar que surgem as grandes novidades. Pode-se, comparando as
notas de quem tem o bem com as
dos que não o têm, ver a contribuição dessa posse ao aluno.
Assim, ter aparelho de TV, o
bem mais "democrático", presente em 96,9% dos domicílios dos
estudantes, representa 8,4 pontos
a mais sobre quem não tem.
No extremo oposto, o bem mais
"elitista" é a TV por assinatura,
presente em apenas 14,3% dos domicílios dos alunos. Ter esse bem
implica 14,1 pontos a mais sobre
quem não tem.
Muito menos elitista do que a
TV por assinatura, o acesso à internet é um bem de que 30,3% dos
estudantes dispõem em casa. E,
nesse caso, ter internet implica
obter 15,8 pontos a mais do que
quem não tem. É o bem campeão
em vantagens para o aluno.
No vice-campeonato está a posse de um microcomputador. Presente em 36,7% dos lares dos alunos, ter um micro equivale a um
ganho de 15,1 pontos.
Ainda que não conheçam o peso específico da posse de um micro e do acesso à internet, os alunos parecem compreender a importância desses bens. Quando
não os têm em casa, procuram-nos na escola ou fazem cursinhos
de computação.
As críticas mais ácidas feitas à
escola foram dirigidas ao item
"acesso aos computadores". Nada
menos do que 63,54% consideraram suas escolas "insuficientes a
regulares" nesse quesito.
Essa fome digital alimenta o
mercado de cursinhos de informática, de todas as atividades extra-escolares, a mais freqüentada
pelos estudantes que estão concluindo ou em vias de concluir o
ensino médio. Mais da metade
deles (53,6%) está matriculada
num desses cursinhos, contra
25,6% que fazem escolas de idiomas ou 21,5% que freqüentam
cursos pré-vestibulares.
A prevalência das escolas de
computação acontece até mesmo
em relação à prática de atividades
esportivas, declarada por 43,8%.
Curiosamente, a freqüência a
uma escolinha de computação é a
única atividade extra-escola que
parece influenciar negativamente
na performance na prova do
Enem. Os que fazem escola de
computação têm pontuação média igual a 47,8. Quem não faz
pontua 52.
(LAURA CAPRIGLIONE)
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